sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

DESESPERO






Rasguei essa lua no auge da raiva,
noites que me enfeitam a alma agora no desespero.
Clamo na sombra esguia a tua chama,
- Maldita seja a brisa que te apagou!
Arranco à terra tufos de dor rouca,
ergo-os aos céus banhados de ranho e lágrimas,
essas sentidas da nuvem amarga sufocadas no fel que ficou.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

GÉNESE





O arco que fazia a minha vontade,
tenso esticava como mola puxada.
O olhar em flecha fixava o alvo;
Olhos fixos na miragem
de vaporosos não vistos.
A voz do vento não ajudava!
Criara o zunido como vergastada,
causando um prurido por dentro da barriga,
pecha da alma como pederneira.
Incendida a flama tomou-me como tocha incauta,
que derreteu a cera que me escondia,
deixando-me ali nu,
perante ti.

( O olhar alarmara o seu rosto
afogueando as suas faces trigueiras.
Seu cabelo era fogo esvoaçando…
Era ruivo e encaracolado e batia-lhe na cara,
sardando-o.
Gravitou atraída numa órbita curta,
tornando o seu núcleo escaldante como lava.
Mnemónica alarmou-se,
como ontogénese um sentir fecundou,
sentiu a paráfrase do seu intimo,
semente de sentimento que sativou
e que saciou no cumulo do beijo)


Jorge d'Alte

domingo, 29 de maio de 2011

VIOLÊNCIA

Naquela noite
como mensageiros da desgraça
apareceram os lobos.
As fauces sorriram
as palavras morderam
e o sangue espichou.
Pelo menos assim pareceu,
pois traziam peles de cordeiro,
e no chão entre espuma de ódio
e ventos de fúria,
o corpo rolava ao sabor do pontapé.
A garra filou-se no cabelo que puxou
arrastando esse despojo
pelas amarguras do chão,
com unhas arranhadas, desfeitas no desespero.
Quem apanhava não gemia,
quem gemia olhava
e a voz incentivava escondida pela câmara.
A alcateia espreitava!
Os despojos estavam prontos para o repasto
e o facebook foi o prato em que foi servido.

(É tempo dos comentários e tantos eram
que caiam em cataratas de imbecilidade.
O pessoal adorou e vieram os doutos satisfeitos -
“Isto mostra que há diálogo entre os jovens” – obsceno!
Outro –“ podemos estar ou não perante um crime”
Desenrolaram o tal filme onde a lei estava,
mas a justiça?
Essa perdera-se no meio de tantas vírgulas e pontos.
O travessão foi o último para sublinhar – não há!)

Exclamem todos agora – Oh!


Jorge d'Alte

sábado, 14 de maio de 2011

BANCARROTA

Pobre terra de lusitanos, hoje
Onde vivemos descorados
vergonha amarga de já não termos nada,
e soberania hipotecada.
Puseram-nos nus no meio do mapa
onde as nossas peles suam a escravatura.
Afonsos nos elevaram, Henriques nos deram sonhos,
mundos nos admiraram.
E no mas?
A besta veio disfarçada
olhos tenros de ganância, no meio da boa fala.
Meteu a mão nos nossos bolsos,
tirou-nos a tanga, em pelota
pôs-nos à rasca.
Com pele de carneiro
dá -nos lobos tapa olhos
e ri-se por detrás do maléfico sorriso
da estratosfera. .
Pobre terra de Lusitanos com outrora,
sem presente, nem amanhã,
definhando!

sexta-feira, 11 de março de 2011

JAMAIS!

Entrei no silêncio da sala
O olhar dormente abafou
os passos que a medo dei.
A cadeira agora vazia, já não fala
teus olhos não me falam quando lá estou
ai mãe que tanto amo e amei
diz-me porque o tempo te levou.
Só nos sonhos te continuo a ver
calo o teu beijo cá dentro da alma
essa canção que sempre me embalou.
A saudade soa no que estou a escrever
linhas do teu amor que me acalma.
Sentei-me ali no meu lugar
senti as lágrimas cá dentro caírem
já não rolam no meu rosto perdido
vieram doridas para cá morar
Mexo os lábios sem palavras a saírem
mas tu escutas o meu coração sofrido
Sorriste-me sem voz, para me sarar
feridas e dores que me enlouquecem
Dá-me a tua mão uma vez mais
fica aqui a meu lado para te escutar
palavras lindas que não se esquecem
não te quero perder, jamais!


jorge d'alte

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

LÀGRIMA

Não sei de onde venho
louca de dor ou alegria saltei
impulsionada por vontade de um sentir
e em vão suspirei
porque agora corro pela face em desenho
e deste destino não pude fugir.
Como pérola ali fico suspensa
como gota de orvalho que morreu na madrugada
e nesta agonia intensa
o calor me seca agora como dor apagada.
Num repentino súbito de novo corro
agora sei de onde venho
sou grito de socorro
sou alegria que não tenho
brilho no canto deste olhar
como ave a pairar
e agora desço de novo lentamente
como quem não sabe para onde ir, nem o que sente
e como mar salgado
numa onda de ternura esmoreço
um dedo de amor dado
me pára no caminho que conheço
murmuram meu nome com suavidade
e com vaidade
soletro-o de novo no eco L- á -g -r- i -m -a
LÁGRIMAAA!


Jorge D'Alte

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

AMOR!


A alma subitamente despedaçou-se
escorrendo dentro do meu peito
cavou aquele sulco agreste e dorido
aquela dor que para mim próprio grito
As paredes outrora brancas da cor da alegria
mancham-se lentamente com o vermelho da agonia
apertam-se com o passar do tempo esmagando
cozendo bem cá dentro esta saudade que não aguento
Sinto as palavras que não digo
escuto o que digo e que não sai
e as lágrimas malditas que costumam abrandar
gelam a tua imagem serena e bela
bem no âmago do meu triste olhar
ai dores que viestes para ficar
eu vos quero renegar e não posso
pois são pedaços do meu grande amor
bocados belos de ti minha Mãe.

jorge d'alte