quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O NOVO ANO

 

A festa estava ali no ar 
No estralejar de luz e cor
Nas taças de tons quentes, erguidas
No murmúrio das promessas repetidas.
Tu, eu e muitos muitos
Sorvíamos essa alegria 
Que descia em cores garridas
Até se esfumarem dentro dos nossos olhos.
Vozes como que rezando
Desciam na contagem no segundo menos.
No meio segundo mais
O novo Ano acordara. 
No intimo de muitos muitos
A desconfiança grassava
As passas corriam mãos, nos desejos desejados.
No intimo de muitos que não eram muitos
A incerteza cortava a direito
Que futuro nos terá reservado?


Jorge d'Alte

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A CANÇÃO DO BUZIO

 


Escuto a canção do buzio
O seu chamar sem pranto dorido
O tempo ali guardado e perdido
O rolar preguiçoso sem laivos de cio
Das ondas mortas sem destino.
A voz perdi-a no norte
Congelada, crua, sem tino
Talvez prenúncios da velha morte.
Sim!
O olhar sabia por fim
Que o altar da vida era uma simples canção
Entoada na madrugada e definhando na tarde sem cor
Nela cantei versos de amor, sofrimento e dor
Nela construi o meu mundo risonho em forma de pão.


Jorge d'Alte


 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

OLHOS


 

Amarrados no frio que esmaga o peito
Os olhos verdes da cor dos trevos
Selvagens, avassaladores, devoram a cor
Com que respiram para lá das memórias
Num tempo sempre infinito.
 
 
Jorge d’Alte
 

PERDIDA

 

 


 

 

No longe os passos eram ecos sem retorno.

A alma resignou-se amarfanhada na sombra caída.

Recortada na quadratura da janela,

a silhueta sentada sem vivo rosto,

incendia a chama efémera, da Esperança.


Jorge d'Alte

 

 

 

 

 

 


 

 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

VIDA


 

 

 

A vida é uma corrida de obstáculos
onde constantemente tropeçamos,
numa luta desigual até à meta
onde absorvemos e saboreamos
a felicidade.


Jorge d'Alte
 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A MÁGICA ILUSÃO DO PAI NATAL

 



Oh,oh,oh! 
Cantarolava o Pai Natal no seu trenó
Deslizava na pena neve que  se desfazia
Atrás de si o saco mágico ia deixando cair a sua prendinha
Junto do pinheiro, na aldeia fria ou na cidade branca
os olhos eram bocas abertas osculando a ilusão
deixando  só, um menino Jesus deitado.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

AVÒS

 



Junto da lareira aberta
de labaredas crocantes  e pés nas brasas
Os avós comiam a sua Ceia de Natal.
Pão escuro com alheira, ou presunto com queijo.
O vinho de sangue aquecia por dentro os gelos dos anos passados.
Perto um ramo de pinheiro suspenso do gancho
com fotos dos netos e sorrisos dos filhos.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

NATAL

 


Olhos subiam ao céu em bocas abertas

Em beijos de espanto

Em mãos entrelaçadas de preçes agarrando,

a oração.

A estrela brilhava agarrando as almas

Ancoradas na Fé,

E muitas foram as que caminharam juntas

Na fé do menino que se tornou homem

E nos resgatou do pecado através da morte.

A estrela está de volta milénios passados

Brilhando no céu doce

Deixando os meus olhos, dois mil e vinte anos atrás.

 

 

Jorge d’Alte

 

 

 

 


A ESTRELA

 

Olhos subiam ao céu em bocas abertas

Em beijos de espanto

Em mãos entrelaçadas de preçes agarrando,

a oração.

A estrela brilhava prendendo as almas

Ancoradas na Fé,

E muitas foram as que caminharam juntas

Na fé do menino que se tornou homem

E nos resgatou do pecado através da morte.

A estrela está de volta milénios passados

Brilhando no céu doce

Deixando os meus olhos, dois mil e vinte anos atrás.

 

 

Jorge d’Alte

 

 

domingo, 20 de dezembro de 2020

O MENINO

 


O verde pinheiro
De pequenas pinhas
Abanava seus ramos
Na ligeira brisa.
A neve como dinheiro
caia doentia como tramos
em prendas e prendinhas
depositadas na toalha bordada.
De joelhos olhava fascinado 
o menino deitado
e orei.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

ENFIM PAZ

 


Ela chorava sozinha
lágrimas de intensa dor
e chorando era tão bela
iluminada pelo alvor
da matinal névoa que a emoldurava
qual abraço de ilusão
soltou um grito de revolta
por tanta criança morta
em pedaços pelo chão....
Levantou alto os seus braçitos
no seu pranto no seu delírio
pediu poder de ressuscitar
pediu que fosse um mau sonho
que acordasse deste martírio.
Lampejando no espaço
ferro ardente encheu seu peito.
Seu rosto enegrecido outrora tão belo
apagou-se como luz que se esvaece
No seu peito um último arfar
nos seus olhos um último brilhar
Seus níveos lábios então gritaram
um último sussurrar....
Enfim Paz!


sábado, 12 de dezembro de 2020

VOANDO

 



Voando nas asas do meu sonho
vi um rosto lindo de mulher
que com lábios rubros me sorria
ai feitiço que me cativou.
Por ti um gozo na vida
com doce sabor no coração
afeição nunca sentida
bem fundo cavou seu lugar
qual punhal me ferindo

Voando no dorso agitado
deste sentir em tropel desenfreado
chorei nos teus seios por amor
ai feitiço que me cativou.
Com doces fadigas de paixão
sulquei este céu
ó magica estrela
e em agonia tormentosa
me encontrei perdido neste suspiro
que do peito junto aos lábios veio morrer....


Jorge d'Alte


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

JÁ NÃO SEI


Já não sei o que fazer
já nem sei quem eu sou
estou preso numa floresta
de sonhos, pensamentos,recordação.
Tenho saudades dentro de mim
na minha alma, em cada lágrima
tenho saudades tenho,
tenho saudades sim....
Só porque uma vez me sorriste,
só porque uma vez me chamaste
nos meus sonhos vejo-te minha.
nos meus sonhos tu me amaste
Fugi então e escondi-me
inventei luxo e disfarcei-me
deixei de pensar e sentir
de te chamar e sorrir.
Perdido estou algures neste lugar
que não é teu nem meu
que fazer então para escapar
do teu fogo que me perdeu?
Já não sei o que fazer
já não sei onde estou
preso dentro desta névoa
de sonhos, pensamentos, recordação

jorge d'Alte

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

QUANTA DOR

 


Ó quanta dor
Encontrei no teu olhar
Quando me disseram
Que a morte te viera buscar
Um silencio vazio
Encheu o teu peito
Quiseras tu ser rio
Murmurando na ravina
Dizendo-me deste jeito
Que a morte está tão viva.
Uma lágrima correndo
Solta pela dor
Quiseras tu ser vento
Afagando com ardor
minha face ardente
com o rito do amor
pontada agreste e doce
nos teus sonhos voando
pequena estrela que tu fosses
nas minhas recordações brilhando
todos os dias ao entardecer
até que a morte  te viesse trazer.
Ó quanto amor
Encontrei no meu chegar
quando te disseram
que a morte me viera buscar
Um silencio vazio
abraçou o meu peito
como suave brisa
murmurando na lezíria
dizendo-me deste jeito
que a morte nos unira…


Jorge d'Alte

Ano 1989

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

MODELO

 


Olhos meigos que o mel adoça
Corpo elegante, sorriso risonho
É assim que te vemos ó linda moça
Mas sempre e sempre perseguindo o sonho.
 
É ser modelo o sonho dela
É vê-la sonhando com a passarela
Passo decidido, movendo-se com elegância
Lá vai ela vogando airosa na sua fragrância
Que nos envolve, nos cativa, nos prende em magia
Lá vai ela de cabelo ao vento
Levando nos sonhos um só pensamento
De ser modelo, um dia!


Jorge d'Alte

Ano 1990

CONHECI A PRIMAVERA

 


Conheci hoje a primavera,
estava sentada e vestia o verde da serra.
Seus lindos cabelos eram azuis,
e dos seus olhos de fogo nascia o sol.
As suas mãos suaves, eram libelinhas,
que se moviam afagando as flores.
O seu sorriso era feito de luar,
e a sua voz de rouxinol.
Mas chorava orvalho
que caía, que rolava, que se ia
que se esfumava....
Conheci a primavera no dia em que partia.


Jorge d'Alte

(Ano 1990)


domingo, 6 de dezembro de 2020

CHUVA

 

A chuva bate-me no rosto
varrendo no vento que sopra
lágrimas que um dia gritei
E no eco que não chega
ardo em saudades
do fogo que morrera
nesse entardecer.
As ruas despidas assumem-se na vida
como refugio que percorro
tentando encontrar nas sombras perdidas
algures, a ponta do teu fogo
A chuva batida fustiga meu corpo
desfazendo-o aos poucos em soluços sem solução
Escuto no desvario palavras escritas
que como papel não lido, amasso no coração
A lua que era então, já não é luz nem som
apenas restou o esboço do seu rosto nessa bruma
e os passos nus que lá vão 
marcam na vida passos de solidão
A chuva escorre agora como lágrimas caídas
como caída se sente a alma na nuvem corrida
E por mais que eu sonhe, a tua canção se perdeu
apagada de um fogo que vacilou e morreu.
A chuva alagada agora em poças de lama
moldou neste barro o meu coração
e num gesto de ternura
abriu sua mão e deu-lhe outra chama.


Jorge d'Alte  
(letra 2010)

sábado, 5 de dezembro de 2020

MEMÓRIAS TRISTES

 

Com as lágrimas voando ao meu lado
correndo atrás da tristeza
ritmando angústias e saudades como fado
hiato, ode gritante de incerteza.
Sio neste ar de sol de meio
sem ser andorinha, águia, ou gaio
sendo apenas o bico deste seio
com lábios que me trespassam como raio.
Não sei se foi em camas de trevos e rosmaninho
ou em raízes retorcidas que me amarram.
Fiquei nu no silêncio do teu ninho,
gemido efémero no oco do vazio, que narram,
noites de langores e tremores idos,
amores,sabores, no tempo desfeitos, perdidos.


Jorge d'Alte








quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

COMO TE ODEIO

 




Como te odeio!
Vejo a tua sombra pairando,
tenebrosa sobre mim.
Teus olhos me devoram!
Tuas garras me afagam!
O carinho incendeia-me
Ai como te amo!
Gosto de ti no escuro da noite!
Desejo expectante, que me afastes as pernas
E aí, eu grito silenciosa, o meu amor
Quero mais e mais deste ardor
Puxo por ti!
Quero-te meu!
E no final deste incêndio, penso
Como te odeio meu amor!
Como gosto de ti meu estupor!
Já não sei o que fazer!
Já não sei o que querer!
Mas longe de ti …não!!
Porque te odeio para sempre
E não te quero perder
Meu amor!
 

LIBERTEM AS CRIANÇAS

 


Libertem as crianças!
Deixai-as  ser terra, verdura, areia ou pedra que perdura.
Deixem-nas ser poema, poeta e rima,
deixai-as na ternura da contemplação,
olhos gastos nas luzes claras de néon.
Deixai-as erguer o seu castelo nos altos dos sonhos,
num mundo adverso, mediático e cru.
Deixem-nas ser água de birrentas lágrimas, dolorosas,
beijos, ecos da alma no desassossego e na paixão.
Deixem-nas crescer por aí, como árvores altaneiras,
na pureza simples dos dias que correm, sem pressas.


Jorge d'Alte


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

DESFEITO

 


Eu tive a forma de um pássaro,
que voou enfrente.
Minhas asas de anjo,
foram fogo num sol poente,
escrevendo desejos cálidos no céu
Coisas!
Memórias profundas, fechadas como um filho,
crescendo no madre ventre.
Em algum lugar, meu túmulo frio,
esconde ossos,
desfeitos
pela brisa dos tempos.
Desfeitos,
Sim, desfeitos!
Poeira!
Poeira e poeiras enquanto as histórias se vão,
lágrimas frias lamentando, deslizando para os dedos,
carcomidos, e o vento dos mortos enrola minha alma
E a carne desfaz-se, esboroa-se, enquanto eu, 
estou no céu como uma alma.



Jorge d'Alte