terça-feira, 18 de dezembro de 2012

OSSOS













Os ossos rabugentos queixam-se em dores.
Não é falta de óleo,
não é do motor.
É a velhice prenunciada,
que como profeta
anuncia o descalabro da vida,
nos passos da morte!


Jorge D'Alte

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O ÚLTIMO MOMENTO


Sinto
a agonia do alento
a força vencida gemendo.
Pinto
de olhos fechados sem tento
este roer insidioso que me vem comendo,
tornando os segundos mais pequenos,
tirando o presente ao futuro
em pôr-do-sol serenos,
encostando a minha vida contra esse muro.
Revejo-a em alta velocidade,
como filme proibido repassado
e aquilo que construí numa eternidade
resumiu-se a um efémero bocado.
Baço
é a minha visão esvaindo-se
no agora, para lá do além.
Faço
vejo meu amor, teus olhos chorando sorrindo-se
e levo-os comigo também.



jorge d'Alte

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

NADA É LINEAR








Se a vida não fosse um chorrilho de imprevisibilidade,
se o nosso coração não nos fintasse quando menos esperamos,
nunca estaríamos no degrau seguinte.
Mesmo quando achamos que conhecemos por fim a felicidade,
a próxima esquina pode trazer-nos,
a surpresa muitas vezes indesejada.
Nada é linear!


Jorge d'alte


terça-feira, 6 de novembro de 2012

ERA MADRUGADA














A madrugada estava zangada,
crescera cinzenta em rolos de névoa.
Estendi os braços aos céus
tentando rasgar esse denso véu
que me aprisionava na solidão.
Caí de joelhos na mágoa sentida.
O céu estalara como alma minha,
deixando cair estrelas douradas a meus pés
desfeitas e sentidas, escorrendo pelas fendas abertas
roendo a terra virgem, onde nada germina.
Clamei pela brisa, gritei pelo vento,
respondeu-me a tempestade desabante
deixando o lamento nos lábios secos e gretados.
Se havia dor, estava entorpecida.
Se havia vazio, onde estava o silêncio?
E as pérolas juntavam-se
num colar translúcido que me sufocava.
Era madrugada, mas não havia um novo dia.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

SUBLIMAÇÂO






Quero um céu cheio de luz,
que esconda mistérios indesvendados,
tape a beleza com astros nus,
me traga redondos em vez de quadrados.
Me faça girar rodopios de mudança,
olhos de ver como cegos,
que tudo está naquilo que se alcança,
que sublima no êxtase, nossos egos.


Jorge d'Alte

domingo, 14 de outubro de 2012

MARIONETES DO LUAR





Não quero que a luz nasça.
Quero que a noite cresça.
Nas sombras não há rostos
nem sorrisos alvos.
A fealdade é igual;
só a alma em arco-íris
se destaca garrida,
pingas que saltam
veladas de magias.
Unidas são mares
sem fundos de abismos
bocas com cantares de passarinhos,
e nos ninhos aconchegados
nós carne entumecida,
marionetes ardentes do luar,
morremos ali no prazer,
como onda rebentada que se veio
e se vai.

Jorge d'Alte

sábado, 6 de outubro de 2012

NUNCA ESTÁS











Entrei no elevador!
Subi ao céu entre chuvas de pétalas,
procurei-te no meio de nuvens,
sei lá das estrelas!
Caíram como eu desse céu de breu, amor
e agora semeiam os jardins
com cantos de querubins,
mas tu, tu meu amor não vens.
E as trompetas calaram-se com os limos,
o tapete que estendi com artes e mimos
descorou no tempo que te levou.
Juntos passeamos tristes e alados
de jardim em jardim encantados,
mas tu nunca estás, no universo onde estou.


Jorge D'Alte

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CICATRIZES





                                                                                          







As cicatrizes que trago rarefeitas
são escrita que a minha boca calou,
embalsamadas no corpo erguido
como pedra basáltica do coração,
que não vejo.
Viajo meu sonho alucinante
do qual me desperto
quando a rolha da felicidade salta
e o abismo se abre a meus pés,
em corolas de dores perfumadas,
pétalas de lágrimas que caiem
no chão desgastado como espelho
e varridas pelo vento como brasas
do inferno.
E que vejo eu?
O peito retalhado onde o sangue é despeito,
o queimar dos sentimentos
que desejo,
o vergastar da crueza que rejeito,
a sombra da solidão que cai como crepúsculo,
traçando no meu céu etéreo e aberto
como meteoro; 
a cicatriz!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ERAM






Eram ouvidos que aqueciam
pedras geladas de outras eras.
Eram palavras que agasalhavam
essa atmosfera balofa de mordomias,
e a mão altiva estendida
para diante, refulgia no seu enorme rubi,
onde lábios selados osculavam sedosas peles.
As vestes de mil folhos de rendados
rodopiavam danças já mortas,
onde encontros de pecados
caiam em hipócritos sorrisos,
e as voltas trocadas em passinhos
frementes, eram risos abafados que
sorridentes, desfaleciam em alcovas brancas,
de linhos.
As paredes graníticas sideradas por tantos
segredos, escorreram tantas lágrimas
e medos aí gravados escondidos; hoje ali sentadas no relento
desfiam no cuscar bisbilhoteiro,
historias proibidas embuçadas em lendas,
que escaparam dos fogos redentores,
de uma qualquer inquisição.


Jorge d'Alte



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

DOZE ANOS


                                                                    






Ruas traçadas no casario
deslizavam em ladeiras de pedras
desgastadas e cinzentas
A rua perfeita, sinuosa como teu corpo
levava-te apetitosa ao encontro.
O campanário torto na sombra disforme,
agigantava-se no chão em sinos badalados
chamando; como ovelhas e cabrinhas correndo
para o pasto lá iam!
O encontro ficava ali entre as meias badaladas
e a bênção.
Os pés apertados em sapatos de verniz saltitavam de dor
fazendo abanar a saia rodada crivada de flores.
A esquina olhava-te pelos meus olhos de garoto.
Alisei o cabelo penteado para trás
pus uma mão no bolso dos calções
e a outra apertada atrás das costas,
segurando.
As minhas sandálias desgastadas
levaram-me até ti.
O saltitar parou
um sorriso iluminou-te.
O meu envergonhou: “queres casar comigo?”
Estendi o ramo de papoilas e malmequeres
murchos no calor.
Gaiatos demos as mãos
e entramos na igreja!


Jorge d'alte

terça-feira, 7 de agosto de 2012

PAIXÂO


Rodas me levam pelo deserto
chamas ardem em poços no horizonte
mas tudo aquilo que eu quero perto
não brota dessa fonte.

Doces calores e suores
dilaceram aurículas como tumores
os ventrículos como correntes
levam sonhos das nossas mentes.

Mas as asas onde estão?
quero voar mergulhando na minha paixão

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

GÉNESE






O arco que fazia a minha vontade,
tenso esticava como mola puxada.
O olhar em flecha fixava o alvo;
Olhos fixos na miragem
de vaporosos não vistos.
A voz do vento não ajudava!
Criara o zunido como vergastada,
causando um prurido por dentro da barriga,
pecha da alma como pederneira.
Incendida a flama tomou-me como tocha incauta,
que derreteu a cera que me escondia,
deixando-me ali nu,
perante ti.

( O olhar alarmara o seu rosto
  afogueando as suas faces trigueiras.
  Seu cabelo era fogo esvoaçando…
  Era ruivo e encaracolado e batia-lhe na cara,
  sardando-o.
  Gravitou atraída numa órbita curta,
  tornando o seu núcleo escaldante como lava.
  Mnemónica alarmou-se,
  como ontogénese um sentir fecundou,
  sentiu a paráfrase do seu intimo,
  semente de sentimento que sativou
  e que saciou no cumulo do beijo)


Jorge d'alte


quarta-feira, 25 de julho de 2012

DETRAÇÂO


 

Arrebentei com as portas fechadas!
É tempo de acabar com o mesquinho das fachadas,
mesmo que pintadas de preto e branco.
Não quero esses sombreados que nos confundem
como sombras chinesas, neste teatro.
Quero ver esses rostos e amá-los,
ou cuspir-lhes em cima nessa hipocrisia
sacrossanta.
Descarnei a alma e deixei-a a secar
em papel de jornal.
Tirei-lhe os podres como poda,
deixei-a de novo vingar em raminhos tenros
e botões a fecundar.
Vós que me olhais, porque não me sentis?
O meu diagrama está diagrafado,
linhas e curvas contornam sentimentos.
Não me detractem!
Não detonem essa bomba sub-reptícia
no sorrateiro, pelas costas.
Sublevo, não na fúria ou no ódio,
sublimo este amor que trago dentro.
Não quero sublinear com actos do inferno!
Deixemo-nos de treitas,
treliças que não suportam esse vão entre o bem e o mal
e nos despejam nesse vazio, onde não somos.
A custo voltarei a abrir a escotilha do meu peito,
que trará a luz, me tirará dos brejos.
Frondosos dias alumiarão este caminho,
que ora se estreita ou alarga com agras ladeiras,
de permeio,
fazendo ressurgir nas portas escancaradas,
todo o meu amor!


Jorge d'alte




terça-feira, 17 de abril de 2012


So far you are
onother sun shines as you
bringing me drops of your sea
fool words  of understood
So we are two souls far
maybe wanting too
breaking loneliness as tea
inflaming our blood

Jorge d'Alte

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

VIRGEM CAÍDA







Novela de enfia carapuças,
rodilhas de flores de espinhos
cravados. Estrelas de mil noites
enfeitam vestes de virgens caídas,
saciadas. Perderam asas de anjos
ganharam garras afiadas,
estigmas sangrios em fios de seda
marcando as passadas
na pedra cinzenta que fora branca.
Segundo caído na desgraça,
apedrejada nas ruas da desventura,
na nudez invejada de criatura
que amou, sem ser amada.