segunda-feira, 23 de outubro de 2017

NOVA BANDEIRA








As pedras agora milenares e estilhaçadas
Construíram palácios e histórias na outrora
A noite lutava com o dia enviando
Monstros que cresceram e caíram
Como peste e cólera foram pandemias
Tuberculose dor e morte foram amigas
Ergueram-se credos ideais e fortes armaduras
E cavaleiros com a Cruz de Cristo
Lutas ergueram infernos de desgraça
E a suástica foi chacina de multidões sem destino
Foram lutas que tinham um rosto uma traça
E as mortes caíram por fim na justiça de praça
Agora no presente sempre futuro
O rosto não tem cara – É Economia
Sem coração e sem barriga mas com fortes tentáculos
Tudo suga impiedosa
E os povos vêem-se vergados na pobreza humilhados
E os governantes lá vêm de sorriso na cara
Só têm uma palavra no seu dicionário
Austeridade como nova pandemia
Falta encontrar a vacina
Talvez esteja na ponta do cânhamo enlaçado
E nas praças da Humanidade

As suas cabeças serão a nova bandeira.


Jorge d' Alte

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

TRÁGICO DIA








Os primeiros raios despiram a noite
Alegrando a alvorada morna e húmida.
Por lugares esconsos corpos caíram quedos pela mão do fogo.
Não quiseram enterrá-los num lugar vazio
Sem memórias ou recordações.
Lágrimas de ácido, choradas para fora
Como chuva numa asa
Contam a saudade, a impotência, o ato covarde
E nós pobres privados da ilusão
Não temos sorrisos, apenas a pele e um pão.


Jorge d'Alte




segunda-feira, 16 de outubro de 2017

CAIRAM NOITES











Caíram noites sobre noites e dias de luz e outros não
Houveram madrugadas sem nome e ventos que trouxeram tempos
Foram-se e não vieram como água que passa sob a ponte
Da enxurrada do passado vergo os ombros até mais não
Peso anos desde então desde o primeiro grito como fonte
Encontrei caminhos verdes ou áridos e felizes momentos.


Jorge d'Alte


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

DELEITE







Troquei o seu sorrir
Por um seio dela
Torneei-o e afaguei-o
Excitei-a!
Persegui-a no desejo
Cacei-a para lá do beijo
Tentei suster essa lava
De paixão, luxúria que armadilhava.
Subi a esse éden com o sentir
E ali frágil de parcos olhos estava ela
O seu amor ceifei-o
Com o meu deleitei-a.


Jorge d'Alte






quarta-feira, 4 de outubro de 2017

TRISTEZA







Hoje sinto a tristeza dos pés à cabeça
Hoje escuto passos que não vão
Não tenho fita métrica que a meça
Só sei que me enche farta o coração.



Jorge d'Alte


domingo, 1 de outubro de 2017

UM CÉU SEM ESTRELAS








Os olhos fugiam escorregando nos escolhos
Traziam a luz da alma no brilho das pupilas
Era o medo perene adormecido que acordara
E as pernas viam o caminho traçado e corriam
As mãos surgiram na boca expurgando o grito
Morreu como surgiu nos lábios ressequidos
Rasgou o peito amordaçando-o
Estremeceu na barriga como lamento
A ponta da morte sorriu violentamente
Na dor que trespassou e não morreu
E os olhos que viram cegaram
As pernas que correram se aquietaram
As mãos fortes caíram flácidas
Os lábios arroxearam no último lamento
E o sopro não voltou como o vento norte
Forte, Vivo, arrasador
A geada não cantou nessa madrugada
Nem as flores sorriram num novo dia
A noite continuou por aí fora - perene
Num novo céu sem estrelas



Jorge d 'Alte