domingo, 30 de outubro de 2022

NOVO DIA QUE TRAÇO

Cai a folha
onde os pássaros escrevem cantigas
na água que molha
que a leva triste de fadigas
Folha esmaecida nas idades
libertada nos ventos da sorte
saltitando por aí nos frigidos dias da vulnerabilidade
Sorrindo sem alegria na dor consorte
Outono de entrelaçados tons de vermelho e castanho
Agasalha os corpos no carvão da lareira
tricotam-se palavras nas falas de cruciante arreganho
Disfarça-se a fome com a peneira
Cai a folha
Cai a lágrima tola
Saudades que se olha
tristeza que rola
num nico de memória 
no beijo fruto do abraço
na rima perfeita da história
num novo dia que traço.

Jorge d'Alte







sábado, 10 de setembro de 2022

QUANDO O SOL AMUOU

Quando o sol amuou
escondeu-se atrás das nuvens
escureceu o céu
iluminou-o com raios e cataratas de chuvas
trovejou e voltou radiante
um rosto de beleza singela onde o sorriso reinava
emanando vida e amor.
Fiquei cativo no beijo pedido
escravo no afago
sedento no suor
Amei-a quando o Sol amuou,
atrás das nuvens, indiferente a chuva que caía
aos trovejos grotescos
voz rouca esmagada no delírio.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

OLHEI-TE

Olhei-te nos meus olhos azuis 
na contraluz de um sol espargido
um corpo de traços vis
um rosto sem pique
uma voz como que rugido
um mero clique.
Lancei meus braços nesse negrume
dei-te luz e uma alma
chamei-te de lá alma em lume
obsessão  que se espalma
no íntimo ardente
Então beijei minha boca na tua
dei-te tudo como quem sente
num apogeu até á lua.
Olhei-te nos meus olhos azuis
teus olhos verdes singelos
e essa lágrima que me deste
correu rios e degelos
és agora o meu deleite 
pequena alma que me perdeste
que nunca mais te enjeite.

Jorge d'Alte









domingo, 10 de julho de 2022

SAUDADES

Eram saudades que tinha
dos tempos de outrora
era a memória menina que se apinha
nos alvéolos girados na roda da hora
Pequenos eramos nesses tempos de nostalgias 
amigos fizemos juntos como espiga 
grãos dourados voando nos ventos do tempo
amámo-los nas letras na vida nas nevralgias 
e crescemos na diáspora no respigo.
Eram saudades saudosas no intimo do âmago
o amor risonho que fundia sorrisos em beijos ansiados
eram dores doridas de incertezas e lágrimas albinas
solidão que lavrava fundo no coração.
Deixemos isso para trás pois a magia foi a vida vivida
foram esses olhos profundos quase sem cor
foram cabelos no vento corrido em harmonia
foram as palavras
foi o sonho agarrado
saudades que imigram de memórias
que se dissolvem no fragor do tempo.


Jorge d'Alte






segunda-feira, 27 de junho de 2022

ESCREVENDO O FUTURO

 

 

Mortas eram as folhas

arrancadas cernes pela velhice

Vivas eram as flores 

que abriram olhando o céu.

Crescendo estavam as almas

umas perdidas outras endiabradas

escrevendo o futuro.

 

 

Jorge d'Alte

 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

LEMBRAR-ME-EI

 
Eu lembrar-me-ei de ti
Carinhosa sedenta de afagos
nos sóis e nas noites que criamos
nas coisas belas que nos dizíamos
canções esbeltas que significaram tudo para mim
ombros nus que osculei sabores que saboreei
lábios que esperavam pelos meus no recanto sombrio do leito
Sei que estás esperando num éden para lá das estrelas
lembro-me de as vermos contarmos e seduzirmo-las
de nos aconchegarmos no luar da lua vermelha
de juntar-mos os corações em parelha
e despedirmo-nos por aí fora alheios aos anseios
Teus olhos onde lia o amor
guardo-os no meu fervor
eu que vivo errante nos meus sonhos
sonhando o sonho onde sonhando nos encontrámos.


Jorge d'Alte

terça-feira, 14 de junho de 2022

UM DIA

Um dia falaram-me de amor
eu que só escutava músicas
e ia voando atrás das notas
Que foi isto que aconteceu
o meu reino caiu e lá vou eu
na corrente das palavras
mas o que me prendeu foram olhos
olhos negros e profundos mas doces
lábios simples e húmidos
como os meus olhos ficaram
nas caricias que te fiz.
com eles escrevi meu nome
no teu coração fremente de paixão.
Um dia falaram-me de amor e acreditei!


Jorge d'Alte

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Antes da noite há o burburinho das estrelas a nascer
há o crepúsculo pardo onde nem tudo é o que é.
Há as vozes sussurrantes onde os pássaros já não cantam
há luas de mil caras e tu sorrindo sonhos que não vês mas sentes.
Há o rio dos desejos fervilhando pelos escolhos do corpo teso
há beijos e beijos como canção e lábios lambareiros do amor
Há olhos cegos perdidos na paixão há promessas de sim e não
Há portas que se batem sem eco de volta, corroídas de mágoas e tristezas
há fechares de olhos, medos fantasmagóricos cercados como caprinos
há campos ai onde nos sentamos eu e tu as flores e os trigais
há o vento abrasante que nos leva como folhas no auge do cio
Mas há também as manhãs cediças que nos arrancam do sono
que nos dão a realidade frigida e nos separam depois no tempo que nunca acaba.



Jorge d'Alte

quarta-feira, 4 de maio de 2022

A CRIANÇA

A raiva cerrava dentes 
cegava olhos
Estava ali amordaçada
pasmando o que vira.
Atrás no tempo a criança
loira de olhos zulados correra
a bola estava mesmo ali armadilhada
matando-lhe o sorriso; não restara nada.
Sofri na dor
na oração rezada
Era filha de alguém
de alguém que a amara
que a ensinara a sorrir
que a afagara
que beijara as primeiras falas
Quem era esta criança quem amara
Talvez a garota que chorava ali
que secara seus olhos
estendera as mãos ensanguentadas
e caíra de joelhos.
A dor afagava o vazio que ficara
embaciara-me os olhos
e a tristeza gritara
porquê?



Jorge d'Alte








segunda-feira, 2 de maio de 2022

POR ISSO

A madrugada é ladra
Rouba-nos a magia da noite e os sonhos
atira-nos à realidade
enche-nos a alma de coloridos
esplendorosos sentires
mostra-nos a vida tal como ela é
feita de sementes, nascimentos,
florires e sorrisos e cresceres.
Eu não quero viver o dia
não quero envelhecer na velhice
Quero a noite e as suas sombras
quero-te desenhar no lusco fusco
quero-te sentir ao meu lado
mesmo como desejo frustrado
e deixar lá atrás o sofrimento da desilusão
a solidão da tua partida.
Amo-te como única estrela do meu firmamento
Por isso os olhos baços vêm-te
Por isso deixo meus dentes brancos no sorriso
Por isso te espero sentado na nuvem
ligeira que ruma ao teu  encontro.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 21 de abril de 2022

MADRUGADAS

O tempo corre
Corre muito depressa
como o vento que tudo leva
levando o presente no futuro
deixando-nos apenas o permeio para viver.
O permeio tenho-o nos sonhos
e sempre que sonho é contigo amor
na escola como cúmplices
no liceu como namorados 
na universidade como amantes.
Agora que o vento amainou
e nos trouxe novas madrugadas
damos o passeio de mãos dadas
com beijos brejeiros engodados
e no anoitecer quando a Lua pula distante
recordámos enleados com breves sorrisos
fechamos os olhos no sono enfunado
e sonhamos até que a madrugada ronceira
nos acorde de novo para a vida.

Jorge d'Alte


quinta-feira, 24 de março de 2022

INDIFERENTES

O pinga pinga maluco
Tirlintava meus dentes
lavando-me dos olhos nus
a tristeza a mágoa a desolação.
Era a primavera de mil chuvas
era o quebrar do gelo das almas
era a esperança nas cores que advirão
a alegria, o calor o amor
Ao meu lado encostada no meu ombro
partilhando o momento insano os olhos dela
absorviam com humildade o canto das aves
o zumbir das abelhas o acasalamento dos melros
a paz da brisa soalheira.
Os lábios não se deram
apenas os corações se amaram indiferentes.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 9 de março de 2022

NÃO SEI

Cai a tardinha com aromas inebriantes
Flores que como tu acolhem as sombras do poente
sombras de saudades de tristezas de alegrias
pedaços do que foram e agora desnuam nas memórias
como debulhadas ao calor do imprevisto
E lá está o carinho do sorriso mordendo
Lábios que rosam as faces de tons corados
Olhares que se unem sussurrando sem falar
Mãos que afagam sem tocar
Amor que amei e amo no desventrar do coração.
Cai a tardinha com aromas inebriantes
Vejo-te lá no horizonte acenando para mim
imagem negra recortada que as lágrimas enevoam 
será uma deus ou um até já?
Não sei!

Jorge d'Alte

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O CAÇADOR DE SONHOS

Sonhei um dia pequenino
e os lábios lambuzaram a minha boca
de delícias tais que amei
amei o amor de mãe
amei os abraços de pai
As torturas do irmão
E num dia de tarde quando os livros pesavam
e as letras escorregavam nos olhos de sono
Sonhei que te amava
sonhei que te colhia
num roseiral de rosas bonitas
que te caçava num mundo de searas dançando
acenadas pelo vento que nos levava
Então sonhei alto, 
olhei o céu enxergando a cegonha que chorava
Batendo as asas pois eu sonhara
Agora sonho o outro sonho
onde as tristezas se debatem com as alegrias passadas
Sonho com anos que retrocedem
Sonho com doer de ossos
Sonho com a minha rosa que um dia murchou
com a noite escura onde a luz bruxuleou e se apagou.
Sonho só na solidão com a ilusão que amarei o dia seguinte
um dia sereno sem sons 
Sonho esse dia em que já não sou
Sonho com a brisa que me levará no meio das folhas secas
como poeira que se levantou
espalhando meus sonhos meus genes num dia pequenino
sem sonhos.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

DESFEITO

 

Eu tive a forma de um pássaro

Que voou enfrente

Minhas asas de anjo

foram fogo no sol poente

escrevendo desejos no céu

Coisas

Memórias profundas fechadas como um filho

Crescendo no ventre

Em algum lugar meu túmulo frio

Esconde ossos

Desfeitos

Pela brisa dos tempos

Desfeitos

Sim, desfeitos!

Poeira

Poeira e poeiras enquanto as histórias se vão

Lágrimas frias lamentando deslizando para os dedos

E o vento dos mortos enrola minha alma

E a carne desfaz-se enquanto eu estou no céu como uma alma

Desfeito! Desfeito!


Jorge d'Alte

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

QUANDO

Quando a noite está para chegar
e os pingos de prata são estrelas a dançar
nesse mar negro de solidão
agarro o mundo de escravidão
pinto na minha alma imagens de quando eu era
e agora que já pouco sou; uma quimera
onde brilham os teus olhos profundos
que prometem mundos e fundos
mas não passam de desilusão
rabiscados com pontas afiadas no coração.


Jorge d'Alte

domingo, 13 de fevereiro de 2022

QUANDO ME SINTO PERDIDO

Quero-te hoje e amanhã 
em cada nascer do sol.
Quero-te nas minhas mãos como romã
abrir-te a alma como girassol
na procura da luz da vida
sorver sementes sentidas, sumos de amor
sentir o dar sem contrapartida
beijar os teus lábios com fervor
sentir as veias incharem o coração
até serem o desejo que arde até mais não.
Quero-te nas noites de luas em alcovas de emoção
Vem com passos de dança, pés leves de comoção
vem doce amor murmurar-me no ouvido
os sabores da tua alma, quando me sinto perdido.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

PARTIU SERENA E BELA

Repousava serena e bela
sobre linhos brancos e amarelos
Seus olhos fechados talvez sonhassem
com um meio sorriso de permeio.
Talvez fossem lábios sem cor sem suspiros de amor.
Suas mãos de macia pele estavam geladas.
A lágrima que escorri gemeu-me na alma
já sem dores para sofrer num mundo sem nada
Suas mãos já não me tocaram percorrendo as rugas com emoção
O rosto que era meu envelheceu de desgosto
mirrou na primeira badalada do sino sem som
meus ouvidos colados na sua boca pareciam escutar palavras
só burburinhos moviam o ar dela e meu
mais tarde a terra voltou, caiu impiedosa como flocos de neve
enquanto os passos se iam  e eu gritava por ela.


Jorge d'Alte

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

ROSA


Era Rosa o nome dela 
cheia de espinhos dos pés á cabeça.
Como contornar essa defesa
que feria quem a tocasse
feita de altivez porque era bela
de desdém porque eramos fracos
caçadora de sorrisos e de beijos
nas meias sombras de doces enlaces.
Era a princesa da moda
todos caiam por ela
No entanto nos olhos profundos
não havia luz. Apenas a solidão
de quem não tem amor para dar.


Jorge d'Alte

domingo, 30 de janeiro de 2022

DAR-TE-EI

Sofrerei por ti por mim.
Inflamarei por amor e lágrimas.
Agarrarei os sonhos
por ti, por mim.
Com ardor cantarei os gemidos
as peles suadas dentro da alma.
Sorverei o teu sorriso belo
Beberei dos teus lábios o meu nome
o teu clamar de que sou teu.
Respiraremos o mesmo ar.
Repousaremos na lua fria
amornando os sentimentos.
Chamarei a mim os nossos pecados
Dar-te-ei a nossa vida
Dar-te-ei o céu a eternidade.


Jorge d'Alte


sábado, 22 de janeiro de 2022

PERDOEI

Era fumo o que girava no quarto fechado
ou era a névoa dos sonhos e sentimentos?
Buscavam a liberdade de acontecerem
nos olhos cegos que não viam nem buscavam.
As lágrimas tinham-se derretido algures no tempo
e secaram meu chão árido, cá dentro.
Agora só os danados de raiva e frustração me iluminavam
mas não estava na essência deste coração saboreá-los
por isso perdoei.


Jorge d'Alte


domingo, 16 de janeiro de 2022

A GAROTA

A garota que brilhava com a primavera 
era a mesma que fascinava a alvorada.
Era vê-la junto ao regato melodiando
esfregando a roupa que na pedra espera
Sua face tão bela, branca e acalorada
sorria desejos em lábios de sonhos redopiando
Num recanto na pedra esverdeada
o cachopo mastigava a palha de trigo colhida
indiferente aos sons da natureza e á geada
revirava seus olhos pardos num breve delírio
A canção cantada seráfica e divertida
enchia seu peito, seu nome emergia na meada
Seu sorriso levou-lhe o amor, suas mãos um branco lírio.


Jorge d'Alte

domingo, 9 de janeiro de 2022

ALMAS

O sol nasceu taciturno e tímido.
A geada perlada nas folhas e pétalas
esvaneceu-se ao seu toque.
A calçada de pedras soltas brilhou
como os olhos brilham na alegria.
As almas que passavam levavam meios sorrisos
indo apressadas ao encontro do futuro finito.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

INDIFERENÇA

O Sol não nasceu hoje para nos dar calor
Ficou-se pelas frinchas das nuvens
indiferente ao gelo da dor!

Jorge d'Alte

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

TRISTEZA

Hoje é a tristeza que escorre
queimando-me os olhos turvos de dor
secando o meu coração das alegrias
tirando-me o sorriso e deixando-me um esgar.
Hoje é a tristeza corrosiva; onde estás Fé e Esperança?
Nem nas lágrimas que verto vos sinto
nem com as mãos geladas vos agarro; só dor!
Porque me crucias numa cruz sem forma de ser.
Hoje é a tristeza que me acomoda
num leito sem cor nem calor.
Hoje é só tristeza!
Num céu cinzento, num mar cinzento, num silêncio cinzento.
no vazio depressivo sem fundo
no vento que passa sem odor
sem folhas voando, sem pássaros rasgando este véu; não sei do amor!
Hoje é só tristeza! Amanhã não sei!


Jorge d'Alte

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

MAGIA DOS SONHOS

Deixa-me ir ao céu buscar estrelas
emoldurar teu rosto com o brilho delas
Colocar nos teus lábios a sedução do sorrir
sorrir no sorriso o nosso amor.
Correr nos campos ao por do sol
deixando no vento as nossas palavras
desfazer o breu com as nossas sombras
inquietar a noite com doces gemidos.
Agarrar a manhã risonha e bela
com as asas do voar
pedir ao Senhor que a magia dos sonhos que sonhamos
seja sonhada não na ilusão, mas dentro do coração.


Jorge d'Alte

domingo, 2 de janeiro de 2022

O TEMPO

O tempo tirou-me a infância
trouxe-me a idade mais longa 
que percorro. Um qualquer poente
me trará não um sonho novo 
mas as trevas da morte.
Para quê pensar no destino
se estou num novo sonho
limbo de pele e coxas
de lábios e mamilos
e palavras que roo na doçura
nas madrugadas despertas no consolo.
Olho meu lado teu corpo tisnado que afago
O sono num sorriso teu desperta
Abraço-o em palavras novas, chamo-o
e como amante vivo-o.


Jorge d'Alte