quarta-feira, 29 de setembro de 2021

AMPULHETA

A ampulheta contava sem tempo
Mero instrumento sem alma nem pudor
Insensível era o que era, fria como a tua mão.
Não contava a tua história
Não contava os teus sonhos
Não respirava os teus anseios
Apenas estava ali, caindo.


Jorge d'Alte


terça-feira, 28 de setembro de 2021

ROSTOS


A manhã sonhou o acordar
Abri a janela para o sol entrar
A vida seu calor cantou no galo despertador
Trauteei uma canção  doce de amor
Cacei as lágrimas
Sofri a dor
Recordações vieram em esgrimas
Rostos que vivi com calor
Rostos que passaram por aí
Sombras que voltaram ao pó
Palavras que canto quando a tristeza cai
moendo e remoendo sem dó.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

DEFINHANDO

Mato a fome com o roer do estômago
Bebo a sede como fonte por encher
Beijo lábios para sentir
Afago o calor do corpo para mentir
Colho sentires no meu âmago
Corro no vento leve, sonhos de caçador
Agasalho-me no frio por te perder
Escolho a tristeza por fim, meu amor.


Jorge d'Alte

sábado, 25 de setembro de 2021

TEMPESTADE

O terror caia do céu de riscados relâmpagos
A água escorria tonta de montes e vales
O vento antes preso na quietude 
Agigantara-se  roendo vielas e ruas.
Na casa pregada na encosta
O conforto estava na proteção de Deus.
Por isso mãos se juntavam cheias de Fé
e os lábios pregavam as orações do Senhor.


Jorge d 'Alte

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

LIVRO DA VIDA

Hoje é sexta feira 
as folhas vão caindo 
soltas no vento frigido
Se são vermelhas, ocre
de cores imaginadas não interessa
O que interessa é que são folhas
Talvez do livro da vida
e essas sim levo-as comigo.

Jorge d'Alte

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

QUE FARIAS TU?

O que farias tu 
se o beijo se abrisse em mil desejos
e o sol nascesse no poente
e a chuva varresse das memórias
tudo aquilo que sofreste
Que farias tu
sorriso lindo cara trigueira coração doce
que farias tu
se o amor não fosse ódio
se a ansiedade  fosse desejo
e o corpo mero ensejo
na busca da felicidade
Que farias tu se o beijo fosse meu
se o meu corpo fosse teu
se o sorriso fosse nosso
e a vida o nosso caminho.
Que farias tu?


Jorge d'Alte


terça-feira, 21 de setembro de 2021

PALAVRAS QUE ESCREVI

As palavras que escrevi
encontrei-as afogadas
nas lágrimas que calei de ti
Foi perdição o gesto
foi perdição o beijo
foi perdição o abraço, paixão e o sonho 
desfeito no outono vermelho
quando as folhas voaram e não mais voltaram.
As palavras escrevi-as
não as deixei pairando na brisa
Escrevi-as no fim de tarde
quando olhaste para mim e partiste.


Jorge d'Alte

domingo, 19 de setembro de 2021

Á JANELA

Cantavas á janela
com as matinas em contra voz
versos límpidos como a geada
notas soltas da tua alma,
Escutei-a olhando p'ra ela
sorvi os versos ó linda voz
desfiando como meada
fragâncias doces da tua alma

Entoei alto o meu fervor
clamei teu nome com ardor
Alma gentil meus braços teus
beija, afaga, gemidos teus.
Desce desse alto por favor
ama a minha alma meu amor
palavras doces de lábios teus
promessas nos olhos teus.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

DANADO

Danado, era como ele se sentia
danado pelo jogo da vida 
cheia de falsidades, injustiças e armadilhas
estradas tortas que o levavam por aí
na terra do amor, do desespero, da angústia
desejos eram lábios rubros, quentes e doces
amor vivido nos ramos dos sentimentos.
Para quê nascermos com o estigma da morte?
para quê sonharmos se o futuro envelhece?
Os pensamentos antes risonhos padecem na dor
e para qualquer lugar que ele olhasse
as cruzes eram o sinal.
Danado porque viveu no sonho mágico
danado por não ter forças para voltar a sonhar.
Danado na súplica
danado na réstia esperança.

Jorge d'Alte

terça-feira, 14 de setembro de 2021

POSSE

O abraço era tanto de amor
O sorriso sonhador de futuros
Olhos cantarolavam o momento
Os lábios dialogavam perdidos
Os ouvidos cuscavam gemidos
As mãos de afagos delineavam-te


Jorge d'Alte

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

OLHAR QUE SORRI

O outono versou em tons de castanhos
beijando a natureza com promessas amenas.
O mar despiu as cores quentes de verão e primaveras
deixando as ondas esfriarem pés que já não nadam.
O sol em conflito com nuvens brancas e plúmbeas
encurta os dias onde vivo em pôr-de-sol deslumbrantes.
As gentes passam apressadas com o cheiro de castanhas assadas
As almas suspiram
os corações enamoram-se
O ar aquece o meu olhar que sorri
por ti, pelos rebentos,
pela vida que já vivi.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

DESILUSÃO

 

Fora uma noite hedionda

com faíscas rasgando o ventre das trevas

cantando o trovão.

Os sonhos tinham tremelicado

bruxuleando os olhos.

Nesse sonho eras minha

numa resma doce de favos de ti.

O vento tornado

levara como folhas os sonhos rasgados.

Os olhos abertos

suplicavam desfeitos.

A chuva tilintava na vidraça dos meus olhos baços

deixando na luz intermitente o gesto de desilusão.

 

 

Jorge d’Alte