domingo, 28 de dezembro de 2014












Cacei a nuvem que passava
Nela cavalguei apressado
Afinal era o sonho que traçara
Partes de que já não me lembrava
E que por detrás dos olhos embrulhado
Me traziam à mente os traços da tua cara.
Ai sorriso de moça perdida
Enfeitiçada no cru sentir das almas
Tocaste-me em versos de pureza
Canção inventada e sentida
Feita de lava e de ondas calmas
Onde a pele morena suave reza
Odes de delírio que em encantos morde
E em arrepios de emoção sobe
Morrendo na boca aberta que grita
Sons de emoção letras sem som um acorde
E no lampejar dos olhos qual irónico snobe
Trago à luz esse desejo que me irrita.


Jorge d'Alte


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014




Qual era a tua canção
Que notas juntaste
Que cor lhe puseste
Em que tom tocaste
Que dom lhe deste
Qual foi a perfeição?
A melodia soou
Breve e suave
Veio e me tocou
Como pena de ave.
Levou-me a vogar
No vai vem deste sonho
Em colcheias a ligar
Murmúrios que proponho.
Faço eu a tua letra
Juntando doces palavras
Dizem que é só treta
Mas no final são escravas
Do sentimento e da emoção
E bem lá no fundo
Criamos esta canção
Que é todo o nosso mundo.




Jorge d'Alte






domingo, 21 de dezembro de 2014






Hoje dividi lágrimas com alguém
Hoje senti cá dentro a dor que não era minha
A tristeza coroou o meu olhar
A mão que estendi ficou aquém
Não conseguia entrar nessa casa que não era minha
A porta cerrada abriu-se por fim de par em par
e com as palavras que lhe disse seu olhar se ergueu
As palavras trocadas faiscavam lá no apogeu
e aí viraram serenas em tons de luzidia  esperança
A raiva e a desilusão que a contaminava
virou paz nessa triste e cortante  lembrança
Deixei-lhe na alma uma nova cor que a animava
O choro encostou a sua face ao meu ombro
Os soluços sacudiam-na como escombro
dessa magoa desiludida e cheia de dor
mas com a minha magia lhe deixei
uma réstia do meu amor
no beijo de amizade que com ela partilhei


Jorge d'Alte











domingo, 14 de dezembro de 2014







Hoje a gula pegou
No calor da conversa!
Veio como chegou
Nem devagar nem depressa.

Voa no ar salivante aroma
Chovem fatias de queijo
Fatias de pão de forma
Entremeadas com um beijo

O fiambre e a linguíça
Dormem no meio do pão
Mas a gula tira a preguiça
E devolve-nos a sensação.

Agora o molho ferve!
Mil sabores o compõem
E no prato que se serve
Facas e os garfos dispõem.

Chamaram-lhe francesinha
A este gostoso pitéu
E na digestão que se avizinha
Sonhamos que estamos no céu.



Jorge d'Alte

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014





Um campo flamejante de ondulantes papoilas,
sem fim.
O universo negro como a solidão, range de nascimentos
infinitos.
A mente criativa e ufana, sonha com o poder do cosmos,
Humanos!
O Sonho Criou tudo isto, o amor e o ódio, o bem e o mal, a alegria e a dor
Deus!
Então, porquê o castigo da morte?

Porque há a Vida?



Jorge d'Alte

terça-feira, 2 de dezembro de 2014




Despejou o copo,
Enlaçou-me o pescoço.
- Faça o sacrifício por mim!
Aconchegou-se. Era toda ela uma seda,
Toda doces perfumes, toda onda de calor.
A sua mão segurou a minha e comprimiu-a
Contra os seios.
Lá fora a chuva batia no vidro tentando chamar a atenção,
Empurrada  vilmente pelo vento, furiosa.
A sua boca vermelha e húmida aproximou-se da minha…
O telefone tocou, quebrando.                                                                    
O momento caíra a nossos pés em cacos de desfeito encanto.
- Maldita monstruosidade!
Gritante necessidade com voz insistente, que exige resposta…

- Está?


Jorge d'Alte

segunda-feira, 24 de novembro de 2014





O tédio,
Estava ali!
Vislumbrava-se no meio dos nervos.
Era como plataforma de espera,
Onde nada se faz, mesmo pensar.
Pedra granítica, cinza e fria
Tolhendo a alma
Depenada, no bulício da rotina.
E ali estava eu, como camafeu (talvez reluzindo)
No apogeu, 
Nem vivo nem morto,
Apenas absorto, num faz-de-conta-que-estou-vivo.
Puxei instintivamente a caneta de prata forjada,
Pousei o bico no papel vazio, cheio de treitas como ideias
Rabisquei a primeira palavra com a tinta esfacelada
Como a alma minha,
E por ali me fiquei…
“Tédio”!


Jorge d'Alte










segunda-feira, 17 de novembro de 2014






Vi outro dia teu rosto deformado!
Aquilo que fora ternura e amor
Era agora rosto encolerizado
Era fogo rubro no sol pôr.
Triste perguntei-te o porquê de tudo isto
E tu me respondeste que era o teu ciúme
Que te roía por dentro como um quisto
E ateava essa chama no teu lume.
Tudo porque eu tinha sobrevivido a ti minha dor
E era agora feito de alegria e ternura
Essa luz reluzente cheia de cor
Essa meiga vontade que em mim perdura.


Jorge d'Alte





domingo, 9 de novembro de 2014





Os nervos
Os ouvidos
Os olhos
São agudos receptivos
Sobre a pressão do silêncio.
Tudo parece
Um pouco maior
Anguloso
Do que a realidade.
Tudo desde o pousar dos pés
Nos frios azulejos
O roçagar da manga
Das palmeiras do jardim
Parecia ter uma claridade de som
Que tremia como nota de marfim..


Jorge d'Alte








terça-feira, 4 de novembro de 2014









Sorri-lhe,
E ela sorriu-me também.
Deitada na cama olhos brilhavam de malícia.
Debaixo do lençol alvo,
A camisa de dormir espreitava…nada mais.
Encantadora! (a sua nudez estava por ali)
Acendi um cigarro, aspirei o fumo e soltei-o…
Devagar.
Sou capaz de te matar, como consegues resistir-me?
Diz-me que sou bonita!
Vá!
O meu olhar seguiu-a trocista…
Apetecível e convidativa e a minha depravação…
Sabes o que faria? (fui eu que falei)
Preferia que o fizesses e te calasses! (a resposta foi dela e não minha)
Beicinho de carmim…um pouco de lascívia.
Estou capaz de te matar, rapaz!
A almofada rebentou em penas de passarinhos azuis,
sobre mim.
Promessas só promessas! (gritou)
Carne crua e de sedosa pele tisnada
Abraçou o meu pescoço,
Lábios sequiosos se deram…
Depois perdi a cabeça, o tempo parou.
Amo-te!
Ouvi-a dizer, quando a porta bati.
Os degraus caíram na escuridão levando-me,
Dali.
O “ também eu “ que ouvi-me dizer, morreu
Nos sons batidos dos meus passos,
Que corriam atrás de mim.
Acendi um cigarro, aspirei o fumo e soltei-o…
Devagar.
O meu rosto falava…



Jorge d'Alte


sábado, 1 de novembro de 2014





E quem achou
Esse beijo dado,
Para o teu céu olhou
Asa que dentro voa
Na noite de lua, ecoa
Como beijo apertado,
Num toque de subtil segredo.
Levou-lhe esse medo
Num abraçar da alma
E nessa fluída calma
Pôde na su' alma sentir
Que o que estava latente
Era algo diferente
Dançou no teu peito
Luziu desse jeito
Na ponta do teu sorrir.


Jorge d'Alte


sexta-feira, 24 de outubro de 2014









Nostalgia!
A roupa desfolhando no luar morno do verão.
A carne crua retesada nos arrepios da candura,
as mãos naufragas vasculhando esse mar ondulado de pele,
as bocas murmurando nas sombras, poemas que a brisa afagava,
os lábios que como crias sedentas procuravam as mamas do beijo,
o encontro ávido do primeiro beijo,
o caminhar cambaleante na virgem que foste,
o deleite que se sente na primeira vez,
o abraço que se segue no espaço em que se sente

a verdade pura da palavra amar.


Jorge d'Alte

terça-feira, 14 de outubro de 2014





Uma chave para a porta,
tempo para me virarem do avesso,
para transmitirem pelo telefone
a mensagem do gravador.
Depois haviam-se limitado a esperar ali;
os anjos.
Não podiam correr o risco de permitir
que eu recebesse a mensagem.
Muito bem!
Compraram-me uma quinta sem luxo,
de um metro e oitenta de fundo,
um e oitenta de comprimento e noventa de largura.
As colheitas serão ervas daninhas,

e eu serei o adubo.



Jorge d'Alte

terça-feira, 7 de outubro de 2014





Ontem pairou um vento suspenso.
Ninguém vê a cara desfeita em lágrimas,
há um inferno que queima
e deixa brasas que estralam na alma.
Essa negra que te beijou
levou-te a vida nesse beijo,
deixando um tosco corpo sem sopro
velado ás luzes das velas,
enfeitado de rosas e malmequeres,
sem borboletas azuis e amarelas
nem cantos de pássaros ao desafio
bicos risonhos em vez de dourados.
Triste primavera foi essa onde o mundo parou,
onde a mágoa cresceu,
caratatas do desespero e da desolação.
A saudade trouxe de volta esse cheiro perdido
esse calor ardido quando se abraça e ama.



Jorge d'alte










domingo, 28 de setembro de 2014




Sorri!
Lábios esticados sobre os dentes.
O táxi deixou-me à esquina,
Olhei em volta,
Recordações do tempo de miúdo choveram
Como maré enchente - Há coisas;
Coisas que nunca mudam.
Os telhados irregulares continuavam a ser
Ameias de castelos e as ruas, fendas nas muralhas
Por onde deixara extravasar a minha alma e escapar os sonhos.
Andava ainda gente nas ruas, encharcadas,
Sem pressas.
Ouviam-se gritos de miúdos por ali,
No ar cheiros a cozinhados.
A eterna taberna esquinada mal iluminada através de vidros sujos
Com as suas velhas máquinas de coloridos piscantes…
Houvera tempo, quando a noite crescia boa,
Com jovens nas esquinas trocando promessas e insultos,
Rameiras e a freguesia, vendedores de droga
Que abriam caminhos supliciantes
Para a sepultura dos viciados.                                                                
Fora feliz sem o saber, vivera com o peso dos sonhos
E partira com eles levando nas sombras o passado…
Ali já não me conheciam!
Nascera fazendo parte do cenário,
E ainda continuava a parecê-lo,
Por isso ninguém se importou…
Na loja dos rebuçados o velho sempre velho abanou a cabeça,
(o meu amigo já não respirava.                                                        
Partira num entardecer com o sol por companhia.
As cinzas ardiam nos montes e nos vales,
Lugares por onde ele andara e que eram parte da lenda e da fantasia)
Tentou falar dos velhos tempos…
Agradeci-lhe e saí.
Gritei seu nome no vento como soluço perdido de desespero
O eco esse não houve morrendo os sonhos no vazio

Olhos choraram para lá do horizonte sem fim!


Jorge d'Alte


sexta-feira, 19 de setembro de 2014







A água corre como lágrimas
cai no abismo desconhecido como dor
salpica pingas de sentimentos que se perdem.
Corre de novo no seu destino
como eu e tu.
Ravinas cava na sua fúria efervescente,
escolhos fura com a sua vontade.
No aperto sobrevive como gota que pinga,
rastejando esfolada e dorida no meio da pedrenia,
para de novo se erguer corrida, fulgurante.
ribeira, riacho, rio alcançando de novo esse poente,
encontrando no de lá do horizonte, esse mar,
que sou eu e tu.
Gota doce, gota salgada
unidas!



Jorge d'Alte



terça-feira, 16 de setembro de 2014










Pobre terra de lusitanos, hoje
Onde vivemos descorados                                            
vergonha amarga de já não termos nada,
e soberania hipotecada.
Puseram-nos nus no meio do mapa
onde as nossas peles suam a escravatura.
Afonsos nos elevaram, Henriques nos deram sonhos,
mundos nos admiraram.
E no mas?
A besta veio disfarçada
olhos tenros de ganância, no meio da boa fala.
Meteu a mão nos nossos bolsos,
tirou-nos a tanga, em pelota
pôs-nos à rasca.
Com pele de carneiro
dá -nos lobos tapa olhos
e ri-se por detrás do maléfico sorriso
da boa fera. .
Pobre terra de Lusitanos com outrora,
sem presente, nem amanhã,
definhando!












terça-feira, 9 de setembro de 2014


                                                           (tudo porque me arrancaste a pele
rasgaste a alma, levaste contigo os sonhos
deixaste-me apenas a lama e a sede)




Procuro frinchas nas paredes nuas
portas seladas deste Eu que procuro.
A minha solidão não é invenção
é escada que só desce.
Os pássaros por mim nem cantam
nem a flor murcha que reti na mão,
ficou.
São vielas escuras e escusas que me percorro
sem luzes de candeeiros; amareladas.
A noite corta-me com golpes traiçoeiros
a alma. Sufoco entre as coisas mortas.
Arrasto comigo sombras esquivas pelo chão,
brando-as como mágoas flageladas,
rumos de brisas, ventos e giros de cata-ventos
no desnorte, escrevendo no meu corpo sem pele, versos
sem rima.
Arrasto-me neste chão de choros perdidos,
procuro de borcos esse lado frígido
da cama.
Procuro na minha sede, o sabor perdido,
da água.




Jorge d'Alte








terça-feira, 2 de setembro de 2014





De nudez em riste
num corpo cárneo de pálido mate,
sem sangue corrido
icebergue erguido em roupas guardado,
bateu na porta da morte
entre frestas com giestas,
soluçantes de rosas perfumadas.
Ofuscado pelo de lá desconhecido,
rodou a chave desse céu, onde em vez de estrelas
há castigo,
fogos anunciados de infernos terríficos
e purgatórios gritantes de suplicas celestiais.
Abriu com ruído perro
na nuvem perene que esvoaçava por de baixo,
a porta de São Pedro.
Descalço palmilhou por caminhos sem chão
na macilência de existir,
esse caminho velado, apertado com travos de tenaz
e frio de alva
e agora jaz, debaixo da terra encimada
na sesta eterna, à sombra da cruz,
enterrada.



j
Jorge d'Alte


segunda-feira, 25 de agosto de 2014






                                                                  Não sei!

Durmo de dia como sabe…
Com o tempo as malditas brocas
transformaram-se em música
e adormecem-me num instante.
                                   Sabe?
Já nem sou capaz de dormir sem elas.
Tem a certeza?

Acabaram…
deram cabo do sono.
Quando as brocas pararam acordei.
Há muito silêncio.

Nem me fale, nem o consigo ouvir.
                                 A mim?
Não, o silêncio…

Ah! Esse…
Vamos para dentro…
Olhe nunca lhe disse, mas os de branco…aqueles…
Ah! Esses malucos?
Têm a mania que são como nós.


Jorge d'Alte



domingo, 17 de agosto de 2014




Entrei no elevador!
Subi ao céu entre chuvas de pétalas,
procurei-te no meio de nuvens,
sei lá das estrelas!
Caíram como eu desse céu de breu, amor
e agora semeiam os jardins
com cantos de querubins,
mas tu, tu meu amor não vens.
E as trompetas calaram-se com os limos,
o tapete que estendi com artes e mimos
descorou no tempo que te levou.
Juntos passeamos tristes desolados
de jardim em jardim encantados,
mas tu nunca estás, no universo onde estou.



Jorge d'Alte                                   
















Os olhos fecham-se devagar.
Os lábios aproximam-se tocando-se.
Nos olhos fechados uma luzinha veio para ficar.
De novo vêm os lábios encantando-se
Que se esmagam  num cocktail de emoções.
Os corpos agora girados e abraçados
São pequenos nós  atados
Cheios de ligações.                                                                            
As línguas se abraçam numa disputa
E os sentimentos preparam-se na alma para essa luta.
Como bolas de sabão sobem sobem e rebentam
Cada vez mais alto cada vez mais loucos
E a loucura apodera-se em soluços roucos
Em canções que os lábios inventam.
De repente
Num clímax diferente
Os corpos são paz depois da dor
E nos semblantes
Agora em cores brilhantes

Se escreve devagar a palavra "amor".


Jorge d'Alte

terça-feira, 5 de agosto de 2014









Sorri!
Lábios esticados sobre os dentes.
O táxi deixou-me à esquina,
olhei em volta,
recordações do tempo de miúdo choveram
como maré enchente - Há coisas;
coisas que nunca mudam.
Os telhados irregulares continuavam a ser
ameias de castelos e as ruas, fendas nas muralhas
por onde deixara estravasar a minha alma e escapar os sonhos.
Andava ainda gente nas ruas, encharcadas,
sem pressas.
Ouviam-se gritos de miúdos,
no ar cheiros a cozinhados.
A eterna taberna; mal iluminada através de vidros sujos
com as suas velhas máquinas de coloridos piscantes…
Houvera tempo, quando a noite crescia boa,
com jovens nas esquinas trocando promessas e insultos,
rameiras e a freguesia, vendedores de droga
que abriam caminhos supliciantes
para a sepultura dos viciados.                                                                 
Fora feliz sem o saber, vivera com o peso dos sonhos
e partira com eles levando nas sombras o passado…
Ali já não me conheciam!
Nascera fazendo parte do cenário,
e ainda continuava a parecê-lo,
por isso ninguém se importou…
Na loja dos rebuçados o velho abanou a cabeça,
(o meu amigo já não respirava.                                                         
Partira num entardecer com o sol por companhia.
As cinzas ardiam nos montes e nos vales,
lugares por onde ele andara e que eram parte da fantasia)
Tentou falar dos velhos tempos…
Agradeci-lhe e saí.

Olhos choravam para lá do horizonte!





Jorge d'Alte