Olhei
o céu negro varrido de estrelas e luares
Apenas
nuvens cheias como seios túmidos a pairar
Lábios
secos como fonte que jorrou até secar
Não
beijam a madrugada
Não
trazem alvorada
Nem
as lágrimas de alegria
E
os demónios cá dentro sarnando a todo tempo
picam
memórias sem ritmo talhadas como destino
Abraçam
o desespero tragando o novo dia que não há
Trazem
mágoas como vento lamento do que sinto
E
esses demónios cá dentro esses demónios que invento
São
soro que me dá vida
Que
injecta na veia ferida
A
bestialidade perdida da vontade de querer
Olho
os céus despidos de estrelas e luares
Nus
de cinzas sombras do que ardeu
Digo
a esse vento tonto que teima em soprar
- Tenho
que a deixar partir!
Esse
éden sem fio onde escondo do teu ver
É
onde os demónios se escondem; malditos
Decompondo
o meu ser num desejo de não ser
É
muito escuro cá dentro sem a tua vívida centelha
Esse
arder que se apagou num estralejar de dedos
E
como vermes a roer
São
demónios que trago comigo desde a alvorada ao entardecer
E
na noite que sobra varrida sem estrelas e luares
Sem
túmidas nuvens nem nus de ti para afagar
Os
demónios renascem, os demónios que invento
Os
demónios que escondo
Frustrações
mágoas sentimentos e saudade