sexta-feira, 24 de outubro de 2014









Nostalgia!
A roupa desfolhando no luar morno do verão.
A carne crua retesada nos arrepios da candura,
as mãos naufragas vasculhando esse mar ondulado de pele,
as bocas murmurando nas sombras, poemas que a brisa afagava,
os lábios que como crias sedentas procuravam as mamas do beijo,
o encontro ávido do primeiro beijo,
o caminhar cambaleante na virgem que foste,
o deleite que se sente na primeira vez,
o abraço que se segue no espaço em que se sente

a verdade pura da palavra amar.


Jorge d'Alte

terça-feira, 14 de outubro de 2014





Uma chave para a porta,
tempo para me virarem do avesso,
para transmitirem pelo telefone
a mensagem do gravador.
Depois haviam-se limitado a esperar ali;
os anjos.
Não podiam correr o risco de permitir
que eu recebesse a mensagem.
Muito bem!
Compraram-me uma quinta sem luxo,
de um metro e oitenta de fundo,
um e oitenta de comprimento e noventa de largura.
As colheitas serão ervas daninhas,

e eu serei o adubo.



Jorge d'Alte

terça-feira, 7 de outubro de 2014





Ontem pairou um vento suspenso.
Ninguém vê a cara desfeita em lágrimas,
há um inferno que queima
e deixa brasas que estralam na alma.
Essa negra que te beijou
levou-te a vida nesse beijo,
deixando um tosco corpo sem sopro
velado ás luzes das velas,
enfeitado de rosas e malmequeres,
sem borboletas azuis e amarelas
nem cantos de pássaros ao desafio
bicos risonhos em vez de dourados.
Triste primavera foi essa onde o mundo parou,
onde a mágoa cresceu,
caratatas do desespero e da desolação.
A saudade trouxe de volta esse cheiro perdido
esse calor ardido quando se abraça e ama.



Jorge d'alte