segunda-feira, 29 de março de 2021

EU TINHA UM SONHO

 Eu tinha um sonho guardado numa estrela

sonho sonhado

sonho criado

sonho nascido dos pincéis e da paleta

O sol raiando em montanhas doiradas

luares ofuscantes de sombras passadas

voguei perdido

chorei perdido

qual foi na vida a rota traçada?

Por entre brumas um vulto se ergueu

cara trigueira

lava ardente

fascinante e meiga seu coração me deu

Eu tinha um sonho guardado numa estrela

sonho esquecido

sonho perdido

sonho esperando a luz de um renascer

Tocava em seu zénite o sol no estio

raios ferindo

raios cortando

na terra da alma a dor se havia erguido

Esse mar de dor em ondas de tristeza

fez desse amor a sua fortaleza

gritou na noite

pediu a Deus

que essa dor se fosse em ecos de escrita

Eu tinha um sonho guardado numa estrela

sonho sonhado

sonho criado

sonho nascido na ponta de uma caneta.



Jorge d'Alte




 

 

sexta-feira, 26 de março de 2021

SORRISO

 Eu sou o sorriso!

Ilumino os rostos quando é preciso

Dou ao olhar aquela especial cor

seja de alegria ou de dor

Mas de onde venho?

Que força me faz surgir?

Qual a emoção que tenho?

Sinto que sou como uma flor a abrir

no bater do primeiro raio de sol

A seiva latente numa vontade estremece

e como gigantesco girassol

procuro em volta o caminho e que acontece?

Chego ao meu destino fremente e  revolta em sentimento

Posso ser sorriso amarelo de sofrimento

posso ser constrangido

posso ser fingido

quando a dor aperta

Mas posso ser alegria

na hora certa

Sorriso que na alma desponta

enche o rosto e nos lábios termina

enchendo de calor na aragem fria

vezes e vezes sem conta

a distancia que aqui começa e aì termina.



Jorge d'Alte



terça-feira, 23 de março de 2021

ESPANTALHOS

 


No meio do campo como seara  que a  brisa adorna

minha pele cresta na intempérie soalheira

As gotas correm-me pelo rosto de trapos

meu corpo mole sem forças, revestido de farrapos

parece acenar   numa força morna.

Os olhos, meros pontos de fagueira

olham com tristeza este horizonte sem fim

A alma, calada bem fundo não sente nada

porque sentir não é assim

é um pouco de tudo, um pouco de nada.

A noite cai com o peso das sombras que avassalam

um tropel galopa em correntes de sangue

o medo e a solidão são momentos que me abalam

e sofro por dentro até ficar exangue

O frio gela meu corpo e a madrugada cobre-o de geada

e ali tolhido aguardo que o fio de sol se desenrole como meada.

Agora do lado norte vem o novo vento

que me roda sem piedade mudando meu rumo de vida

No novo horizonte busco o alento

Do outro lado do meu mundo está a vida que se acende

mesmo ali  um olhar me prende

Seus olhos são botões de um verde que encanta

seu sorriso é rosa que se entrega sentida

as palavras correm mas não me passam da garganta

Seu corpo belo, franzino agora de emoções sacudido

trás á minha alma algo que achava perdido

Estendo meus braços neste vento bem-vindo

tentando abraçar este meu sonho lindo

Mas a tempestade rebenta no ar

A cortina de agua nos separa tirando a visibilidade

as gotas batidas, uma a uma vão desfazendo

estes corpos de trapos, feitos de farrapos de  realidade

Os olhares de esboroam num morrer doendo

e no ultimo beijo soprado

espalhados ali pelo prado

ficam os restos daquela, que a vida não me deixou amar.



Jorge d'Alte




sábado, 20 de março de 2021

A FUGA

 


A fonte soltava gotas como se fossem palavras
Cochichava galante com os seixos roliços
O ouvido escutava-as como intrometido
A mente redemoinhou absorvendo a frescura.
Mas para além destes sons pruridos havia olhares
Havia olhares esconsos e o meu também
No granito musgoso pensativa e abstrata
Ela tecia caracoizinhos com dedos frágeis
Que lhe desciam sedosos até aos ombros bronzeados.
O coração pulou-me quando embebida sorriu
Algo a atraiu fazendo içar-se no seu corpo de deusa.
As mãos acenaram frementes não para o horizonte
Os passos confundiram-se no restolhar dos trigos
As lágrimas comichavam nos cantos dos olhos
O vazio sugou-me as palavras que não saíram
Os olhos velados já não a queriam ver.
Abraçados junto á fonte cochichavam outra música
Quando os lábios se tocaram num outro "ele"
A raiva atingiu-me com despudor de perdido
A desilusão tinha também essa cor enegrecida
Afinal Ela tinha Ele e não Eu
Então no meu desvario, fugi!


Jorge d'Alte









sexta-feira, 19 de março de 2021

PALHAÇO

 A luz acende-se no camarim

A sombra agiganta-se e entra devagar

olha em seu redor num vago rodar

caindo fica sentado olhando o espelho

Quem será que olha assim?

apenas a visão roída e transformada num velho?

Estende a mão trémula e lenta

pegando na maquilhagem

e com coragem enfrenta

essa dolorosa miragem

Com seguros dedos vai-se transformando

Agora a alma cresce em auto estima

já não é sombra divagando

é figura que rima

é apenas Palhaço!

A dor que o atinge dói como inchaço

a noticia fora dita sem teatro

"o fim desta vida está perto"

Aprumado em coragem, de cabeça erguida

ruma em passos ritmados para o anfiteatro

Se calhar o relógio da vida precisa de acerto

mas já não há tempo para segurar a vida

Ao som da ruidosa musica no palco entra

seu coração chora seu rosto sorri

Os risos do publico enfrenta

Sua alma se esmaga nos seus lábios de rubi

e a cena lá vai no meio das gargalhadas

O publico bate palmas, quer mais e mais

e as lágrimas agora são de sangue

a dor corrói em tristezas tais

e os sentimentos estão tão esfrangalhados

que deixam o seu rosto exangue

Agora é o ultimo passo

a gente está atenta

e a derradeira canção entra

notas e notas, ritmos e compasso

O publico acompanha-o em ritmados batimentos

Agora de joelhos a sua voz etoa

e mesmo que lhe doa

esquece os sentimentos

As luzes baixam na ultima nota

As palmas entram pelo coração dentro

è a ovação de uma vida inteira

Só mais uma nota

pede o publico lá dentro

e mesmo que não queira

faz das tripas coração

e de novo entoa a ultima canção…

Cai o pano em silencio friorento

as luzes apagam-se no proscénio

Agora já não há risos nem alento

o ultimo arfar vem buscar

entra na alma, como sombra devagar

e com doce tocar leva seu génio.



Jorge d'Alte


 

domingo, 14 de março de 2021

LIBERDADE

Liberdade!
Somos livres!
Gritavam as vozes infinitas.
No entanto a euforia era um manto tecido
Retalhos de amor  e ódio que se abraçavam
Receios que rastejavam na incredulidade.
Peitos arfantes de regozijo inspiravam cravos rosas
E as armas caladas, frias  e brilhantes
Estavam adormecidas para lá da meia noite
Embaladas nas músicas belas, do apelo.
O dia surgiu embargado, a comoção tolhia
A revolução vingara olhando o novo futuro.
Eu caminhava por nuvens de delírio e multidão
O novo sonho sonhava breve nos meus olhos
Havia tudo na palavra que enchia para lá da madrugada.
A voz doía na emoção, então chorei de alegria!


Jorge d'Alte
Porto

quinta-feira, 11 de março de 2021

LUZ ACESA

 

Vou deixar uma luz acesa
Que guie os passos nesta incerteza
Vou deixar o coração arder
E que a chama te traga
Rios de amor numa baga
Pois quero amar e sofrer
Quero sentir o que sinto
Só aquilo que por ti sinto
Pois o resto é como areia num deserto
Vem o vento e tudo molda indiferente
Pois o coração tem uma necessidade sempre carente
De ter um oásis de emoção e de afeto
Vou deixar a luz acesa
Que as nossas almas se unam na certeza.



Jorge d'Alte


Jorge d'Alte


segunda-feira, 8 de março de 2021

O DESEJO

 Na noite fria a alma partiu sozinha

despida de preconceitos

plena de Fé e Esperança

e na viçosa e linda folha da vida rolou, rolou

até ser cristalina pinga que não cai

Ali ficou na eternidade

esperando que uma outra se lhe juntasse

e nesse fundir engrandecedor

seu peso a fizesse cair de amor

nesse lago fresco e abrasador

onde as vontades crescentes de desejo

são emoções e sentimentos perdidos no ensejo

que em diferentes direcções transpiram

nessa pele suada quente e amada

onde é corpo e é alma

onde é estrela brilhando

nesse firmamento de encanto

riscando o céu do desejo

como estrela cadente até ao beijo 

Escala agora essas planícies

de fauna pélvica até aos duros seios

escrevendo nesse rumo um trajecto perfeito.

O desejo é agora unhas cravadas na carne

é dor que não se sente

pois sendo dilacerante é diferente

não é grito nem murmúrio, é gemido

que num ultimo fôlego alcança

o cume em desafio

e ai sim foi grito abafado

desejo escorrido e acabado

que rola rola esvaindo-se no tempo

deixando o corpo tumefacto

delirante ardente, esgotado e fremente.

Agora ficam os passos que em opostos se vão

gotas que rolam sopradas por ventos contrários

que na imensidão do horizonte se vão diluindo

tornando-se de novo almas

que um dia por acaso, em paixão

desejaram o desejo.



Jorge d'Alte





 

 

domingo, 7 de março de 2021

SALTEADOR DE CORAÇÕES

 Tu és o salteador de corações

espreitas lá no fundo os sentimentos

brincas  com o sabor das emoções

ardes muitas vezes em momentos

em que a nossa alma não está preparada

e então á socapa com a tua ferrada

lá estás tu no canto do olhar

As tuas notas são doces e  macias

como as mãos que a pele  afagam

são brisas sopradas em delicias

como palavras que os ouvidos tragam

O abraço torna-te mais forte

como o beijo em voos te levanta

corres os corpos como electricidade

e explodes nas mentes como morte

E de novo és ardor que se agiganta

corroendo as almas de doce felicidade

Então tornas-te em falta, ansiedade, dor

e as almas gritam uníssonas por ti "Amor"!




Jorge d'Alte




 

sexta-feira, 5 de março de 2021

SÓ A QUERO SENTIR



Só a quero sentir
Só a quero amar
Só a quero a sorrir
Só a quero mimar

Só quero sentir
Tua boca marada no espasmo
Teu véu de prazer por detrás dos olhos
Só a quero amar
Teus olhos turquesas que me vêm buscar
Teu rosto sereno, tuas mãos de chama
Só a quero a sorrir
Das palavras brejeiras, das danças malucas
Num rosto de anjo num corpo satânico
Só a quero mimar
Suavemente te aninhas no meu colo
Lentamente me buscas para te afagar
Lentamente me beijas para eu te amar
Docemente te encostas no meu ombro
Docemente escrevemos as regras do futuro
E enchemos a cama com promessas, no gemido.


Jorge d'Alte















quarta-feira, 3 de março de 2021

HINO AO AMOR

 A noite caíra

A lua gaiteira espreitava

A brisa em surdina cantava

Os brejos e os salgueiros ondulavam....

As margens deste rio que saíra

em gargantas estreitavam

e o som rouco gemido que se ouvia

eram de corpos  que como seixos rolavam

As peles tensas e roídas

pelo cume nunca dantes alcançado

eram agora gotas de amor suado

que se iam num arranhar doridas

num desejo que não se via

Ai amor abraçado

ai beijo prenhe de gozos gozados

rebentando neste rio

em cataratas de calores gelados

que abrasam neste frio

em emocões desgarradas

deixando nas almas o odor

o cheiro húmido de madrugadas

como hino ao amor.



Jorge d'Alte





 

 

terça-feira, 2 de março de 2021

ANOITECE

 


Anoitece
Sinto as estrelas a brilhar mas não tanto como tu
Sinto a emoção liquefazer-se na pérola de uma lágrima
Acontece
Quando um coração se apaixona por alguém como tu
Quando as palavras são parcas e uma a uma se esgrima
Olho
Sentado na cama sem sonos nem sonhos por ti
Sentado abstrato desfilando momentos de felicidade
Olho
Os teus olhitos de esmeraldas e chamo por ti
O teu corpo tecido no luar como se fosse realidade
Murmuro
Baixinho pois não te quero perder no momento
Murmuro
As palavras que escorrem libido dentro da mente
Afinal
Amo-te mais que um simples e banal pensamento
Afinal
És aquela que grita dentro do coração como corrente
Crepúsculo
Que nasce no definhar da noite
Crepúsculo que por detrás é esperança
Vejo-a
Caminhando garrida, risonha como açoite
Chamo-a
A voz treme , ela olha, eu sorrio, ela encosta a cabeça
Amor
Que tens? estás a tremer seu tonto
Amor
Amo-te tanto! E desfio sem pudor todo o meu conto.


Jorge d'Alte












segunda-feira, 1 de março de 2021

O AMOR

 O amor começa com um olhar

depois é jogo que se quer jogar

é agora sorriso

e de sorriso em sorriso

encurta as distancias até ao beijo

é agora desejo

crescente de lua na noite escura

transformando-se em felicidade

como água cristalina e pura

Depois é eternidade

mas se acaba é dor é lágrima

apenas dor e lágrima!



Jorge d'Alte