terça-feira, 23 de março de 2021

ESPANTALHOS

 


No meio do campo como seara  que a  brisa adorna

minha pele cresta na intempérie soalheira

As gotas correm-me pelo rosto de trapos

meu corpo mole sem forças, revestido de farrapos

parece acenar   numa força morna.

Os olhos, meros pontos de fagueira

olham com tristeza este horizonte sem fim

A alma, calada bem fundo não sente nada

porque sentir não é assim

é um pouco de tudo, um pouco de nada.

A noite cai com o peso das sombras que avassalam

um tropel galopa em correntes de sangue

o medo e a solidão são momentos que me abalam

e sofro por dentro até ficar exangue

O frio gela meu corpo e a madrugada cobre-o de geada

e ali tolhido aguardo que o fio de sol se desenrole como meada.

Agora do lado norte vem o novo vento

que me roda sem piedade mudando meu rumo de vida

No novo horizonte busco o alento

Do outro lado do meu mundo está a vida que se acende

mesmo ali  um olhar me prende

Seus olhos são botões de um verde que encanta

seu sorriso é rosa que se entrega sentida

as palavras correm mas não me passam da garganta

Seu corpo belo, franzino agora de emoções sacudido

trás á minha alma algo que achava perdido

Estendo meus braços neste vento bem-vindo

tentando abraçar este meu sonho lindo

Mas a tempestade rebenta no ar

A cortina de agua nos separa tirando a visibilidade

as gotas batidas, uma a uma vão desfazendo

estes corpos de trapos, feitos de farrapos de  realidade

Os olhares de esboroam num morrer doendo

e no ultimo beijo soprado

espalhados ali pelo prado

ficam os restos daquela, que a vida não me deixou amar.



Jorge d'Alte




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