No meio do campo como seara que a brisa adorna
minha pele cresta na intempérie soalheira
As gotas correm-me pelo rosto de trapos
meu corpo mole sem forças, revestido de farrapos
parece acenar numa força morna.
Os olhos, meros pontos de fagueira
olham com tristeza este horizonte sem fim
A alma, calada bem fundo não sente nada
porque sentir não é assim
é um pouco de tudo, um pouco de nada.
A noite cai com o peso das sombras que avassalam
um tropel galopa em correntes de sangue
o medo e a solidão são momentos que me abalam
e sofro por dentro até ficar exangue
O frio gela meu corpo e a madrugada cobre-o de geada
e ali tolhido aguardo que o fio de sol se desenrole como meada.
Agora do lado norte vem o novo vento
que me roda sem piedade mudando meu rumo de vida
No novo horizonte busco o alento
Do outro lado do meu mundo está a vida que se acende
mesmo ali um olhar me prende
Seus olhos são botões de um verde que encanta
seu sorriso é rosa que se entrega sentida
as palavras correm mas não me passam da garganta
Seu corpo belo, franzino agora de emoções sacudido
trás á minha alma algo que achava perdido
Estendo meus braços neste vento bem-vindo
tentando abraçar este meu sonho lindo
Mas a tempestade rebenta no ar
A cortina de agua nos separa tirando a visibilidade
as gotas batidas, uma a uma vão desfazendo
estes corpos de trapos, feitos de farrapos de realidade
Os olhares de esboroam num morrer doendo
e no ultimo beijo soprado
espalhados ali pelo prado
ficam os restos daquela, que a vida não me deixou amar.
Jorge d'Alte
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