segunda-feira, 30 de novembro de 2020

QUANDO FORMOS APENAS RECORDAÇÃO

 



Vamos experimentar o mel do dia,
trazer imagens de doces mares.
Remoer os sangues na ventania,
adoçar de mel  esses olhares.

Nas nuvens de suave pele,
deixar o suspiro trémulo
Sabores, cheiros, atrofiados dele,
montar a paixão, nesse cúmulo.

Desesperar em vivas marés,
cravar unhas nas suas costas,
Morder o corpo da cabeça aos pés,
deixar essas lavas ardentes, como apostas.

Vamos experimentar o mel da vida,
escrever ladainhas com um tição.
quando te sentires no amor perdida,
quando formos apenas, recordação.


Jorge d'Alte




sábado, 28 de novembro de 2020

SILABAS

 

Meu Deus, tantas silabas sibilinas,
como folhas pintadas no  agreste outono.
Nenhuma era o que a outra era,
mas ambas vingavam pelas causas perdidas
atiradas e espezinhadas nos beirais da agrura.
Silabas, 
ceia de palavras nostálgicas,
raminhos verdes, esperanças,
sol que é inferno onde não há 
outono e inverno, nem primaveras
de olhos de mel,
ou flores frouxas de seivas idas.
no verão.
Silabas,
favos guardiãs de emoções,
palavras que sugam letras
como o beija-flor suga o néctar,
no regaço da paixão.
Meu deus! Tantas palavras,
umas cruzadas na esgrima dos sussurros,
nas praias deleites do desejo.
Meu Deus! Tantas palavras,
entrelaçadas como madressilvas,
silvestres e doces.
Tantas e tantas silabas,
pelo teu corpo e alma,
escritas,
e nenhuma escreve o meu nome. 



Jorge d'Alte

NESSE DIA

 



Acordei nesse dia nas nevoas do álcool
Os nervos vivos roçavam-me a mente
como galhos tenros raspando nas vidraças.
Teus braços tive, de carícias 
promíscuas.
sons enfunados na taramelice dos mimos.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

COMO

 




Como fugir,
como voar,
como viver
sem respirar.
Os ventos que levam,
as brisas que trazem,
caras que choram
não por chorar
mas por doer.
Como esconder
o medo nos olhos,
como não ver
as mortes aos molhos,
e os tristes dias 
onde não somos
senão,
corpos tenros de verão,
pés nus que já não cantam.
Como sorrir,
como saber,
como impedir
esse morrer.
Sonhos desfeitos
nas pontas do "como".


Jorge d'Alte

terça-feira, 24 de novembro de 2020

PARDOS

 


Gosto de ti porque sim.
O teu rosto assim assim,
parece goivado não na madeira 
mas sim,
no gelo de manhãs manhosas
não dormidas.
Mas és assim,
sem pingo de calor
num corpo de furor,
sem pevas de sorrisos,
como se fossem preguiçosos
no langor do faz de conta.
Gosto de ti porque sim.
Quando te recostas em mim
e me incendeias as peles,
te derretes no teu gelo
e murmuras o meu nome 
sem apelo,
vezes sem fim.
Por isso te amo mais
muito mais, do mais,
que me amo a mim!


Jorge d'Alte

domingo, 22 de novembro de 2020

SILÊNCIO DA ALMA

 





Caçando as lágrimas com o lenço
corro para lá do tempo cru
onde o amar se tornou muro
sem ouvidos nem escutares.
O silêncio virgem  toca,
na alma
despoja-a  dos sons que amo 
impõe este vazio 
meio oco
onde as vozes são mãos
passeando.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

TRÊS PALMOS E MEIO NO CHÃO

 



Tranquei a porta
para sanar meus medos
meus dedos trêmulos em oração.
Lá fora as gentes sem pressa 
ou não
desmascaradas, soltam as gotículas 
da perdição.
Os ais, e os aí ais da morte, perdem-se 
em aflição. Terrível desdita
de um povo sem tino
e como destino
tem,
três palmos e meio no chão
revolvido.


Jorge d'Alte

terça-feira, 17 de novembro de 2020

ELA ERA

 

 



Ela era como linda janela

aberta para o fogo da vida

Quando o vento soprou vozes

 sem norte,

abriu-a, estilhaçou-a, e eu perdi-a…


Jorge d'Alte

 

 

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

JUNTO Á RIBEIRA

 

Lá, junto à ribeira

Com a água a tresloucar

Vi teu rosto à minha beira

Teus lábios a aproximar.

Junta teus lábios aos meus

Junta à minha a tua alma

Que não seja um mero adeus

Sabores e cheiros teus que me acalma.


Jorge d'Alte

sábado, 14 de novembro de 2020

SEXO






O sol enfeixava pela janela discreta,
semicerrada,
como semicerrados estavam os olhos
turvos,
no pestanejar para o novo dia,
levando os sonhos e os seus murmúrios,
escalando agressivas,
feromonas.
Voos incrustados na ironia.
da alegria,  
carregando esse fardo,
no lóbulo do dia.
Para onde fui, não sei,
travessos lábios de sedosos 
toques, 
me corroeram o libido,
servido em peles transparentes,
afogueadas.


Jorge d'Alte



DESILUSÃO

 

A teus pés te peço
Amor,
a ternura da tua alma,
o afago dos teus olhos,
profundos,
o mar dos nossos sonhos,
esse apreço,
essa dor,
a sina da tua palma,
os meros segundos
onde a vida toca no sentir.
- Porquê essa ânsia
de voar, 
- Porquê essa ganancia
de sofrer,
- Porquê mitigar 
esse partir,
deixando-me o coração
a carpir,
no húmus da desilusão.



Jorge d'Alte

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

QUEM SE LEMBRA DELA

 




Nas secas palhas
espalhadas pelo chão
dormia a mendiga, o seu filho e o cão.
Quem se lembra dela, a pobre que pedia
na esquina torta, de mão estendida.
Pedia esmola para o seu filho
para lhe dar o sonho, no agora perdido.
A fome dela era o saciar do menino,
as prendas dele, eram feitas de mimo.
Quem se lembra dela? Já no fim da vida
numa casa de teto,
sorrindo esperanças.
Quem se lembra dela a velha mendiga,
na esquina torta de mão estendida, 
deixando a sua esmola.


Jorge d'Alte 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

MEMÓRIAS

 




Que gozos são esses
no tempo de então
que traziam  amor
em cordelinhos desatados, sedas
e o teu corpo nu.
Com ele me quero
a ele me dou
na cama de pétalas,
espargidas.
Olhos violetas 
me beijam os lábios
com asas de mãos 
na cintura cingida
Pobre criatura, no eu empolgado
em falas maduras, abafadas,
em cabelos de trigo 
tapando mamilos,
núbios.
Que gozos foram esses
no tempo de então
de saias curtinhas
com golas de anil
em contornos servis
onde embebeci
o corpo, a alma e o olhar.


Jorge d'Alte




terça-feira, 10 de novembro de 2020

INFÂNCIA

 


Infância de ilusões doces
onde a vida sorri no pasmo
de fadas risonhas
pinóquios e gatinhos mafiosos.
Deleites!
Passinhos atarantados e bater de pés
birrentos.
Carinhas de sorrisos fofos
arrojos de fantasias sonhadas
cor-de rosas  espoletados
nas primeiras falas. 
Mãe, Pai!
Corridas loucas sempre a crescer
atrás das letras, dos números, tretas,
Amores.
Infâncias onde somos livres.
Infinitos alcançados em cada passo
em cada dia.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

SE UM CANTO DESEJAS







Se um canto desejas
sobe á montanha de gelos pérfidos
verás como é bela essa harmonia
Deixa o vale e as noites de estio
para agarrares a lua; deleites
teus. Dos risos de amor e das mágicas falas
escreve suores de beijos rubros
fálicos. Nos sons gemebundos como vento zunindo 
apraz essa seiva que te eleva
no auge.
Nos ecos do monte á voz do trovão
solta nesse leito teu
o orgasmo.


Jorge d'Alte

domingo, 8 de novembro de 2020

BELEZA

 


De cabelos loiros
aos caracóis, debaixo da lua
seus olhos verdes  mais belos não
são promessas de fogo
na face tisnada. Dentes nevados 
sarilhos dobrados que lá
nos pensamentos perduram e encantam.
Silhueta esbelta nas sombras do dia
é corpo  de morrer que corta e esboroa na noite
cálida. Beleza tanta que chora dentro da alma
minha.


Jorge d'Alte

sábado, 7 de novembro de 2020

QUANDO




Quando á noite
os olhos fitas o céu
que vais tu procurar,
no espaço imenso
onde a lua reina
das sombras rasgando o véu?
Quando de manhã
á aurora fulgida olhas o céu
que pensas tu encontrar
no espaço férvido
onde o sol reina
das trevas rasgando ilusões?
Quando junto ao cedro
teus lábios pousas nos meus
que tentas tu desfrutar
no espasmo ávido
onde a paixão reina
dos corpos rasgando emoções? 
Quando na alvorada dos sons
me murmuras amor com os olhos
me apertas forte no teu coração
que queres tu encontrar
nos lábios rasgados da paixão.


Jorge d'Alte

NOVEMBRO

 




É Novembro de dias murchos, esmaecidos,
encharcados na tristeza da babugem das cores.
Vermelhos esbatidos, em castanhos e mel
com abelhas beijando o que restou da cor.
Um livro de nostalgia do que fora a Primavera caída
com geadas de melopeias cristalinas abraçando
a morrinha lenta e leve que molha tolos.
Tolos que não sabem ver para lá dos olhos
tolos que vivem apenas dentro de si.
Crianças de gorro e cachecol chutam 
folhas velhas apodrecidas, como aguaceiro,
e o vento mordaz leva-as no seu colo
como bebés depositando-as nos seus berços.
Lia tudo isto com as saudades do que a vida fora.
A vereda intriga-me os olhos, Paro e escuto.
Sinto os anos a passarem em solilóquios
como sinto as neves que me gelarão.


Jorge d'Alte








sexta-feira, 6 de novembro de 2020

 



O sonho era feito de folhas e mais folhas
que alguém folheava em assomos de sorrisos fáceis.
O zé estava ali de ralo bigode, galhofeiro
numa página amarelecida pelo tempo
Tinha um sonho no seu horizonte, realizado
mas partira cedo por entre as lágrimas de dores secas
deixando mais uma página no seu virar
uma página cheia de amizade.
Tenros tinham sido os tempos em que brincáramos
juntos no faz de conta.
Oh! Há aqui uma mancha, a guerra colonial
onde servira nos exércitos dos ares.
A prosa  corria vertiginosa feita de amores conquistados.
A "miúda" estava ali na página seguinte
mergulhada em véus de paixão.
Os dedos não queriam folhear mais
pois tocariam na doença roída de fumos amarelados
Algo descia por um rosto contorcido.
A nostalgia chiava sua canção dorida.
A emoção tragava os soluços que não saíam.
Para dentro voltou-se munido de negação.
O amigo não partira não pois estava ali no espelho.
O coração pulara acelerado, pasmado.
A desilusão correu o peito, e encheu as veias. 
Era apenas uma foto espelhada.
Um copo elevou-se de saudade.
Depois o silêncio oco de páginas vazias.


Jorge d' Alte