terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O CAÇADOR DE SONHOS

Sonhei um dia pequenino
e os lábios lambuzaram a minha boca
de delícias tais que amei
amei o amor de mãe
amei os abraços de pai
As torturas do irmão
E num dia de tarde quando os livros pesavam
e as letras escorregavam nos olhos de sono
Sonhei que te amava
sonhei que te colhia
num roseiral de rosas bonitas
que te caçava num mundo de searas dançando
acenadas pelo vento que nos levava
Então sonhei alto, 
olhei o céu enxergando a cegonha que chorava
Batendo as asas pois eu sonhara
Agora sonho o outro sonho
onde as tristezas se debatem com as alegrias passadas
Sonho com anos que retrocedem
Sonho com doer de ossos
Sonho com a minha rosa que um dia murchou
com a noite escura onde a luz bruxuleou e se apagou.
Sonho só na solidão com a ilusão que amarei o dia seguinte
um dia sereno sem sons 
Sonho esse dia em que já não sou
Sonho com a brisa que me levará no meio das folhas secas
como poeira que se levantou
espalhando meus sonhos meus genes num dia pequenino
sem sonhos.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

DESFEITO

 

Eu tive a forma de um pássaro

Que voou enfrente

Minhas asas de anjo

foram fogo no sol poente

escrevendo desejos no céu

Coisas

Memórias profundas fechadas como um filho

Crescendo no ventre

Em algum lugar meu túmulo frio

Esconde ossos

Desfeitos

Pela brisa dos tempos

Desfeitos

Sim, desfeitos!

Poeira

Poeira e poeiras enquanto as histórias se vão

Lágrimas frias lamentando deslizando para os dedos

E o vento dos mortos enrola minha alma

E a carne desfaz-se enquanto eu estou no céu como uma alma

Desfeito! Desfeito!


Jorge d'Alte

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

QUANDO

Quando a noite está para chegar
e os pingos de prata são estrelas a dançar
nesse mar negro de solidão
agarro o mundo de escravidão
pinto na minha alma imagens de quando eu era
e agora que já pouco sou; uma quimera
onde brilham os teus olhos profundos
que prometem mundos e fundos
mas não passam de desilusão
rabiscados com pontas afiadas no coração.


Jorge d'Alte

domingo, 13 de fevereiro de 2022

QUANDO ME SINTO PERDIDO

Quero-te hoje e amanhã 
em cada nascer do sol.
Quero-te nas minhas mãos como romã
abrir-te a alma como girassol
na procura da luz da vida
sorver sementes sentidas, sumos de amor
sentir o dar sem contrapartida
beijar os teus lábios com fervor
sentir as veias incharem o coração
até serem o desejo que arde até mais não.
Quero-te nas noites de luas em alcovas de emoção
Vem com passos de dança, pés leves de comoção
vem doce amor murmurar-me no ouvido
os sabores da tua alma, quando me sinto perdido.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

PARTIU SERENA E BELA

Repousava serena e bela
sobre linhos brancos e amarelos
Seus olhos fechados talvez sonhassem
com um meio sorriso de permeio.
Talvez fossem lábios sem cor sem suspiros de amor.
Suas mãos de macia pele estavam geladas.
A lágrima que escorri gemeu-me na alma
já sem dores para sofrer num mundo sem nada
Suas mãos já não me tocaram percorrendo as rugas com emoção
O rosto que era meu envelheceu de desgosto
mirrou na primeira badalada do sino sem som
meus ouvidos colados na sua boca pareciam escutar palavras
só burburinhos moviam o ar dela e meu
mais tarde a terra voltou, caiu impiedosa como flocos de neve
enquanto os passos se iam  e eu gritava por ela.


Jorge d'Alte

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

ROSA


Era Rosa o nome dela 
cheia de espinhos dos pés á cabeça.
Como contornar essa defesa
que feria quem a tocasse
feita de altivez porque era bela
de desdém porque eramos fracos
caçadora de sorrisos e de beijos
nas meias sombras de doces enlaces.
Era a princesa da moda
todos caiam por ela
No entanto nos olhos profundos
não havia luz. Apenas a solidão
de quem não tem amor para dar.


Jorge d'Alte