Troteava caminhos corriqueiros…
Acompanhava-me o ruído tecnológico.
Caía na dúvida que crescia
como o sol no dia: estava tramado!
O cinzento que via, não era o céu mas sim o
inferno,
de subir escadas; até onde?
No cimo queria ter visto o vale sereno de verdura
viva, de flores jovens:
Papoilas e malmequeres para desfolhar.
No cadeirio perfilado contra alvas paredes
como condenados ao fuzil, as rugas idosas:
Tossiam em ranhos espessos, de dentes cariados e
sorrisos débeis.
Placas dentais caíam no abrir das bocas disformes;
no soneiro entontecido e cambaleante das cabeças.
O sorriso atentivo traduziu aos meus ouvidos um
cantar nostálgico implícito.
A alegria não morava ali nem a morte por lá
passava;
Tinham-se divorciado ali mesmo pela mão de Deus
partilhando:
Tu e Tu, aquele não!
Seria a roleta russa de que tanto ouvira falar?
Que porra! Devia ter prestado mais atenção nas
aulas meninas da catequese!
Encolhi-me como cão que não sabe ao que vai,
que escuta grotescas palavras que são farrapos de
sons e abana rabos.
E depois?
As batas são brancas e azuis, monossilábicas em
espeta agulhas, de luzes roxas quando as queria amarelas ou brancas,
de ecrãs onde se pintam ossos descarnados, ou
bojudas partes de vísceras
ou sacode cérebros
encaixados em crânios duros:
Porque não se vê a alma ou o espírito?
Alguém os terá escamoteado como em contas do
estado?
Queria tanto vê-las!
As palavras correm lá em assaltos, mais depressa do
que a vida; e já está!
A face amarelece com a soma dos números
apresentada com toda a pompa, como secreto anuncio
de telenovela:
Não quer entrar o cartão na ranhura em dedos
trémulos…
Lá se vai o comer do dia a dia!
Por fim a mostrenga vomita papéis que guardo no
bolso roto
que como esgoto tudo nos leva: e agora?
Desço como rato escapando às dentuças de um gato
esfaimado
e solto um suspiro: É alívio!
A cacafonia cá fora agasalha-me indiferente, como
encolher de ombros,
com vozes que se misturam como aguarelas em
lamúrias,
onde os semáforos ali se apagaram de repente: será
assim o meu destino?
Baah…uma luz que se apaga e é substituída por outra
da nova geração?
Troteio caminhos corriqueiros ao sabor dos ventos
da memória
com pequenos senãos de permeio, até estes acabarem
no eco,
que já não
vem!
Será mesmo esse o fim anunciado?
Jorge d' Alte