quinta-feira, 30 de julho de 2020

VIOLÊNCIA


 

 

 

Naquela noite

como mensageiros da desgraça

apareceram os lobos.

As fauces sorriram

as palavras morderam

e o sangue espichou.

Pelo menos assim pareceu,

pois traziam peles de cordeiro,

e no chão entre espuma de ódio

e ventos de fúria,

o corpo rolava ao sabor do pontapé.

A garra filou-se no cabelo que puxou

arrastando esse despojo

pelas amarguras do chão,

Com unhas arranhadas, desfeitas no desespero.

Quem apanhava não gemia,

quem gemia olhava

e a voz incentivava escondida pela câmara.

A alcateia espreitava!

Os despojos estavam prontos para o repasto

e o facebook foi o prato em que foi servido.

 

(É tempo dos comentários e tantos eram

que caíam em cataratas de imbecilidade.

 O pessoal adorou e vieram os doutos satisfeitos -

“Isto mostra que há diálogo entre os jovens”

“na net há um código de honra” – obsceno!

Outro –“ podemos estar ou não perante um crime”

Desenrolaram o tal filme onde a lei estava,

mas a justiça?

Essa perdera-se no meio de tantas vírgulas e pontos.

O travessão foi o último para sublinhar – não há!)

 

Exclamem todos agora – Oh!



Jorge d'Alte


quarta-feira, 29 de julho de 2020

NUNCA PENSEI





Que dor é essa
que aperta o peito,
dilacera sem dó
como promessa
e sem respeito
me deixa só.
Sangra o coração
na noite bela
com estrelas a refulgir,
Fulgor roído na emoção
ânsia aquela
de a possuir.

Seu nome sei
agora,”saudade”!

Jorge d'Alte


VISÂO








Sombra esbelta, delineada pela luz
caminha bela.
Teus passos escuto, cheiro que seduz
agarrou-me a ela.
Procuro ler o seu rosto, feito de esbatidos
sem carinhoso olhar.
Seus lábios algures, procuro ávidos
sem mel de beijar.
Dama que mudas constante nos braços meus
sem sorriso que fere.
És apenas doce visão, sombras de folhosos véus
pontada carente, que a alma requer.

Jorge d'Alte





terça-feira, 28 de julho de 2020

ESQUELETOS


 

 

 

Esqueletos,

rangem pingos de tristeza.

Pobres espetos,

tudo perderam nos alvos ossos - A beleza!

Já não olham porque perderam olhos

que não souberam ver.

Já não falam engoliram línguas -  Molhos

de vozes deglutidas do querer.

Já não escutam esses sons dourados

que tiniam em murmúrios escorregadios.

Já não percorrem os escolhos arriscados

tirando à vida o gosto desses passos fugidios.

- A alma,

rolou no meio de lama,

transformou-se em lodo peganhento,

cresceram por dentro ervas de desespero

nesse campo agora nojento

desfeito e áspero.

Os corvos de negro vestido - vieram.

Rasgaram as carnes até aos ossos,

e chupados ali os deixaram,

dantescos colossos,

absoletos;

Esqueletos.


Jorge d'Alte

 


segunda-feira, 27 de julho de 2020

MALUCOS


 

 

 

Não sei!

Durmo de dia como sabe…

Com o tempo as malditas brocas

transformaram-se em música

e adormecem-me num instante.

Sabe?

Já nem sou capaz de dormir sem elas.

Tem a certeza?

Acabaram…

deram cabo do sono.

Quando as brocas pararam acordei.

Há muito silêncio.

Nem me fale, nem o consigo ouvir.

A mim?

Não, o silêncio…

Ah! Esse…

Vamos para dentro…

Olhe nunca lhe disse, mas os de branco…aqueles…

Ah! Esses malucos?

Têm a mania que são como nós.


Jorge d'Alte

 


quinta-feira, 23 de julho de 2020

DOUTOS






Histórias e mais histórias,
enredos e destinos
para quem vive tão pouco.
Não podemos esperar na noite cega
sentados. Incendiemos no olhar o relâmpago,
o momento de gritar que estamos vivos,
que somos nós os deuses da esperança,
apelos que se quebram vazios por deuses falidos.
Rostos nossos, ranhosos na dor que mata,
sem lábias recitadas como magias,
lidas de livros sem contra capa,
onde os escritos vogam ao sabor da vaga
e são o que não eram, o que foram e nunca serão.
Metáforas de bocas abertas
escarrando mentiras sobre mentiras,
ginásticas de doutos, tirando as pedras centenárias,
que erguiam igrejas em caminhos dolorosos mas verdadeiros,
deitando-nos areias para os olhos,
dando-nos novas vias no modernismo da Palavra,
e templos com telhados de vidro.
Arquitectos diabólicos de ateus e agnósticos,
com sorrisos de anjos brancos e asas curtas,
pregadores satânicos de fogos infernais
e deuses cegos e surdos no faz de conta.

terça-feira, 21 de julho de 2020

FOGOS POR AÍ






O ruído findara já, deixando as sirenes calarem-se.
O fumo dissipava-se como ténues farrapos cinzentos
Sobre a terra torturada.
As vedações despedaçadas e as árvores de espantalhos negros
Vivazes com a dor sufocada.
Tosses de praguejos convulsionavam corpos curvados
A dor da desdita e a morte passara mesmo ali ao lado
Nem todos tinham tido essa sorte
Agarrados num último beijo pregavam nessa cruz um último gesto de amor.
Dava a impressão que por tempo incalculável a vida parara.
De horizonte a horizonte a terra encharcada de negro esguichava sangue e dor.
O céu desaparecera talvez consumido pelos fogos de labaredas tenazes e predadoras.
Depois tudo acabou e ficou o silêncio.
Mas o silêncio era nota estranha que não possuía direitos
Fora quebrado por queixumes, pela dor, pela súplica de água.
A súplica, o chamamento, dilataram-se nessas horas de verão.
Haveria trigo que nunca seria colhido
Árvores que não voltariam a florir quando a primavera por ali passasse outra vez.
Bons dias que nunca seriam dados nem risos de crianças.
Havia nomes orgulhosos que eram agora mais orgulhosos.
Eram os heróis!
Havia outros escondidos por detrás das cruzes das lápides.
Eram nomes esquecidos.
Havia mãos malditas que espreitavam por de trás
Olhos tresloucados que de novo acenderam o luar de fogo.
Eram os coitadinhos…


Jorge d’Alte

segunda-feira, 20 de julho de 2020

PARA ALÉM DA DOR


 

Para além da dor

nada fazia sentido.

(E nós ali)

Som efémero e insignificante

ou imediato aterrador.

Convocação para a morte

como gotejar de um regato

o eco do fluir do intelecto

da consciência de si próprio.

Pedra a rolar perante a inevitabilidade do rio

pena nas asas do vento; eu,

ramo de salgueiro sorvendo; ela,

à espera da chama devoradora.

Depois quando os ossos e os tendões

já não podem mais,

quando os olhos e ouvidos já não distinguem

a forma, o som,

quando a mente emerge da tempestade

limpa e nua, era charco parado

receptáculo para a vontade

e assim foi continuidade permanente,

união de almas; elo,

compresso no cumulo; êxtase.

No singelo, como flor colorida adejando na brisa,

tu e eu,  sussurrando na pele salgada e brilhante.

 

 


PASSAM








Passam apressados,
olhares esgazeados do stress.
Nem reparam que as suas sombras
ora vão à frente, atrás, ao seu lado.
Sorrisos sem cor, palavras sem som,
são ratos que furam, furam,
tentando encontrar o buraco para a sua ambição.
Para trás deixam os destroços dessa ganância,
como caganitas que empestam
e desafinam na hora da verdade,
em esganiçados maricas de quem perde.
Atiram na lama sempre renovada
as gerações, que cresceram como carneirada.
Votaram na cor, nos sorrisos, nos beijos e na palmada,
coitados! Esticaram o laço que tinham ao pescoço
e agora esbracejam sufocados, no fedor da miséria.


Jorge d'Alte




ESCUTA, AMOR!

 


 

Quando eu partir, amor

e me for diluindo no teu pensamento,

deixa fugir o sorriso

que eu o beijo com fervor.

Não soltes o teu lamento!

Como pavão me iriso

e em cada cor da paleta sentirás,

o melhor do meu intimo.

Não sei para onde vou

que palavras gritarás,

até que cume chegarei, oh triunfal cimo!

Aí serei o que sou,

sem ventos que me roubem as palavras,

sem nevoeiros que ofusquem a lembrança,

sem grilhetas e mordaças,

que levem para sempre a esperança.

 

Gostaria de ter sido o teu herói,

de ter vencido o fantasma da morte,

de te ter podido dar a fortuna da eterna felicidade,

mas fui apenas mais uma alma terrena que sonhou,

e esse bichinho que rói e rói,

que me tornou num feliz consorte,

me levou até a ti sem vaidade

e te deu tudo o que de bom tinha, quando te amou.


Jorge d'Alte

 

 


domingo, 19 de julho de 2020

E DEPOIS


 

 

Os olhos viram-na seguir direita ao elevador.

Que andar atraente,

que demônio de mulher!

Fechou a porta voltando à sala,

acendeu o cigarro tossicando,

recomeçou o passeio de lado para lado.

Que porra!

Sentou-se no sofá vermelho num pensamento cor-de-rosa…

Viu-a de novo cintilante de fresca ternura,

desabrochante de candura

olhando enigmática para ele, 

fluindo feromonas de desejo e pejo.

Excitante ansiedade se apoderou dele,

e o monstro cresceu nele inflamado,

sondando a sua boca velada, que se abriu numa auréola de luz.

No vazio que ficou, no oco de existir,

exalou a réstia corrosiva de amor.

E depois?

Vieram lágrimas salgadas; meu estupor porque te vais…



Jorge d'Alte


DERRADEIRO LAMENTO

 


Boca que mente indiferente

beijando o que já não sente.

Olhos que rasgaram a ternura

luzindo de insensível friúra,

penando no verter da dor

consumindo em cada ardor,

bocados de desdéns.

Afinal é isso que tu tens,

no consentir desses enredos,

feitos de esperanças e de medos,

flutuando no pensamento

como derradeiro lamento.


Jorge d'Alte

 

 


sábado, 18 de julho de 2020

O ULTIMO MOMENTO


 

 

Sinto

a agonia do alento

a força vencida gemendo.

Pinto

de olhos fechados sem tento

este roer insidioso que me vem comendo,

tornando os segundos mais pequenos,

tirando o presente ao futuro

em pôr-do-sol serenos,

encostando a minha vida contra esse muro.

Revejo a minha vida em alta velocidade,

como filme proibido repassado

e aquilo que construí numa eternidade

resumiu-se a um efémero bocado.

Baço

é a minha visão esvaindo-se

no agora, para lá do além.

Faço

vejo meu amor, teus olhos chorando sorrindo-se

e levo-os comigo também.


Jorge d'Alte




ESSE MUNDO CAIADO

 


 

Suplicas estranhas estalavam o verniz do orgulho,

arrastaram-se pelo chão de palha esmaecida, sem ruído,

esfarelavam-se pelas frestas rotas da madeira roída

ressoando indiferentes, como correntes que nada prendiam.

O peito arfava no sentido cismático da mágoa perda

arrepanhando os lábios do rosto, no seu desfigurar deixando,

rasgos profundos graníticos no que antes fora branco

esse mundo caiado que vestimos de sonhos e fantasias

tornando-o imenso, ilusório e cheio de nada.


Jorge d'alte

 


NA IGREJA DA ALDEIA

 


 

Do alto o sol comia as sombras no seu divagar,

encurtando-as ainda vivas e mornas

até ás alvas paredes silenciosas da igreja.

Como alma albergava dentro tantas ladainhas, murmúrios

indecisos, tiquetaques retumbantes como preces

taças de mel e fel, livros de reclamações de desejos e milagres,

lavatórios de ódios, mó que mói as dores até ao âmago

levando-as sem pejo até ás suplicas, em arrastares

sangrentos pelas pedras rugosas desse caminho,

que vence no átrio, onde os rostos se juntam nas lamurias

entre confissões que já eram e bênçãos que geram novos pecados.

E a sombra morreu no apogeu solar, sentindo cair o fogo do astro redentor,

no momento em que o sino solitário,

desperto da sua modorra  letárgica, badalou.


Jorge d'Alte




quinta-feira, 16 de julho de 2020

HOJE





Hoje vi-te tal como és!

um ser ínfimo que se julga um deus
O teu ódio iluminou-te de lés a lés
matando esse amor nos olhos teus

Tua boca proferiu como terramoto
palavras doentias que crestaram
essa alma que não sente e só no remoto
arde tão pequena que a tragaram

E agora só, grita espumando
que não dissera o que disseram
que era um coração que mesmo odiando
amava-me tanto, tanto e no final eram
palavras e palavras apenas, sem sentido
que tinham magoado aguilhoado e ferido
este meu coração que em amor se entregara
Palavras duras que meu peito rasgara
Lançando-me num abismo tão profundo
Onde o negro breu sorve o meu mundo


Jorge d’Alte





quarta-feira, 15 de julho de 2020

QUEM ACHOU


 

 

E quem achou

esse beijo dado,

para o teu céu olhou

asa que voa

na noite de lua, ecoa

como beijo apertado,

num toque de segredo.

Levou-lhe esse medo

num abraçar da alma

e nessa calma

pôde sentir

que o que estava latente

era algo diferente

dançou no teu peito

luziu desse jeito

na ponta do teu sorrir.

 

Jorge d'Alte

 


BANCARROTA

 


 

Pobre terra de lusitanos, hoje

Onde vivemos descorados

vergonha amarga de já não termos nada,

e soberania hipotecada.

Puseram-nos nus no meio do mapa

onde as nossas peles suam a escravatura.

Afonsos nos elevaram, Henriques nos deram sonhos,

mundos nos admiraram.

E no mas?

A besta veio disfarçada

olhos tenros de ganância, no meio da boa fala.

Meteu a mão nos nossos bolsos,

tirou-nos a tanga, em pelota

pôs-nos à rasca.

Com pele de carneiro

dá -nos lobos tapa olhos

e ri-se por detrás do maléfico sorriso

da estratosfera. .

Pobre terra de Lusitanos com outrora,

sem presente, nem amanhã,

definhando!


Jorge d'alte


PESADELO DO DESESPERO

 

 

 

 

Quantas esquinas dobradas,

quantas marcas guardadas,

portas sem aldrabas, janelas fechadas por abrir…

com vidraças foscas e rachadas

onde a sombra do sonho se esmagara como mosquito

esborrachado.

E o rosto desfigurado sem o saber,

corroído por estranhas aranhas nas entranhas

a tecer rosários e teias de ódio e fúria.

Ah! E ciúmes disfarçados, inda a noite ia pequenina.

Se estrelas houvera, caíram ali mesmo!

Até a lua era meia de meia

como cagadela de mosca na lâmpada que luzia.

Mas também quem queria essa lua?

Não dizem que é dos amantes?

(Então que fiquem com ela e que forniquem)

E amor era coisa arredada daquela vida.

A mágoa infiltrava-se pelas rachas da alma

abrindo feridas com palavras de gume afiado,

como o machado que racha a lenha de cima a baixo,

e separa.

Corpo seco talhado a golpes de arte, era ele

do tira ali e põe de parte

e as goivas iam cortando meias luas de sentires

incubos dos pesadelos, sucubos na luxúria.

O pontapé dado na cadeira virada

(Escape grosseiro do danado…)

trouxe espantos, nos ais que se seguiram.


Jorge d'Alte


terça-feira, 14 de julho de 2020

TARDE DE MAIS



Sentiu então uma brisa fluir da areia quente

Ouviu a água gorgolejar mais abaixo quando pousou a mochila no chão

Olhou para cima enquadrado entre as estrelas parcas

Como pontas luminosas de armas apontadas para ele

Estendeu a mão perdida como se agarrasse as sombras escorridas da esperança

Um meteoro incendido riscou no horizonte como aviso

Pedras tumulares errantes luminosas a fazerem coalhar o sangue

Sentiu o arrepio e pensou – quanta areia cabe numa mão?

Tudo se esvai como areia pelos dedos da vida

Engoliu com a garganta seca. Sentiu a areia raspar-lhe doce a mão

Sondou a escuridão mais distante com os seus sentidos

Aves? Uma queda de areia! Criaturas no meio dela mas não Tu

A luz das estrelas afastava apenas o suficiente da noite bela

Cada sombra era uma ameaça. Manchas de negrume que amordaçava

Uma lembrança cega -pensou! Sons como alcateias de gritos na alma

 A minha dor é mais pesada do que as areias dos mares

Por isso aqui estou no momento só sofrendo a agonia como Deus sofreu

Este mundo esvaziou-me de tudo – a vida de amanhã

Sentiu a areia prender-lhe os pés como correntes chocalhando quando descia

O cadafalso! Olhou para o norte por cima das rochas desbotadas de sombrios

A longa vergastada veio com o frio trepando pelas pernas cheias de água

A mochila escorregou de periclitante equilíbrio rolando para ele como para o agarrar

Mas a voz de sempre não veio encher-lhe as veias de seiva ardente

Nem os ouvidos de sussurros mordentes e olhares de cios

Deixou palavras desenhadas trémulas no papel amarrotado como lágrimas de dor aberta

Deu um passo longo sem areia nem choros de estrelas nem cânticos de sereias

A noite cega afogava-lhe as lágrimas salgadas devastadas,

Como a água que o empurrava para areia em cada vaga; gemia e cantava

Tentando demovê-lo da fúria amarga que o consumia  

Desespero como chama negra e opaca trespassando-o como espada consagrada

Ouviu o silvo por cima quebrando na onda como canção de rouxinol em voz amada

Sorriu conformado a água que o afogava em cores tétricas cheias de morte

A voz amada que em desespero o chamava rasgando trevas e banho de luar

Chegara atrasada - soou como borbulhar de ar que lhe comia os pulmões

O sorriso deslizou na sua face dorida apagando-se – Tudo poderia ter sido mas não foi

Por isso morria no eco que o gritava no alto da crista

Enquanto o mundo que fora se estilhaçava e o absorvia.

 

 

Jorge d’Alte


segunda-feira, 13 de julho de 2020

PORQUE TE AMEI?



Queria que a rosa esmagada, antes bela e "carminzada"

tivesse sido a gota de juízo que faltava,

mas o mundo virara tudo do avesso.

Os joelhos rasgavam-se nos meandros do desespero, dele.

A súplica arrastava-se na terra esgravatada e arranhada

e as unhas partiram-se ensanguentadas de infelicidade

na pedra polida, branca e gelada.

Era coisa que se fizesse?

Mas fora feito no auge emocional do desespero – desculpas!

Afinal quem o mandara amar?

Ela mulher talhada no gelo fechara-se na concha do belo

e não desceu do pedestal enfastiada com tanto degrado.

Quem seria esta intrometida? (era ele o pensativo)

Nem na mão estendida pegara,

nem carinhos de sussurros chilreantes

cantadas ao ouvido, houvera.

Nada, foi tudo o que esta lhe deu,

mulher da vida, rameira da amizade,

onde o sentir dos sentimentos entorpeceu.

Ionona evolada como véu de violeta rendado da névoa,

era o limite do olhar com limoselas grudadas nos cantos

e o “dentro” chorava as dores do mocetão.

Mas afinal para onde tinham ido as estrelas?

(Não estavam neste céu, não!)

A noite espraiava-se na bela aurora que trazia o novo dia.

O pesadelo iria pôr-se para lá do sono em brumas de memória.

Esquinas, marcas, portas e janelas… vidraças…

Mas que foi feita dessa estrelinha de magia?

Essa companheira de estrada…essa bolinha de algodão doce

de multi-sabores?

…Pois partira um dia como trigueira ceifada!

Ai dor dorida que queimas as entranhas. Vai-te maldita!

Só o sonho a pode trazer de volta, figura de gás que não se toca,

Apenas se inventa no desejo!

 

 “A desejada estava ali enterrada, ossos descarnados de mulher 

roídos já pelo tempo, farrapos daquilo que fora outrora,

num céu azul de pássaros amarelos e borboletas de primavera

Uma rosa encarnada no meu jardim!


Jorge d'Alte