quarta-feira, 15 de julho de 2020

PESADELO DO DESESPERO

 

 

 

 

Quantas esquinas dobradas,

quantas marcas guardadas,

portas sem aldrabas, janelas fechadas por abrir…

com vidraças foscas e rachadas

onde a sombra do sonho se esmagara como mosquito

esborrachado.

E o rosto desfigurado sem o saber,

corroído por estranhas aranhas nas entranhas

a tecer rosários e teias de ódio e fúria.

Ah! E ciúmes disfarçados, inda a noite ia pequenina.

Se estrelas houvera, caíram ali mesmo!

Até a lua era meia de meia

como cagadela de mosca na lâmpada que luzia.

Mas também quem queria essa lua?

Não dizem que é dos amantes?

(Então que fiquem com ela e que forniquem)

E amor era coisa arredada daquela vida.

A mágoa infiltrava-se pelas rachas da alma

abrindo feridas com palavras de gume afiado,

como o machado que racha a lenha de cima a baixo,

e separa.

Corpo seco talhado a golpes de arte, era ele

do tira ali e põe de parte

e as goivas iam cortando meias luas de sentires

incubos dos pesadelos, sucubos na luxúria.

O pontapé dado na cadeira virada

(Escape grosseiro do danado…)

trouxe espantos, nos ais que se seguiram.


Jorge d'Alte


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