Quantas esquinas dobradas,
quantas marcas guardadas,
portas sem aldrabas, janelas fechadas por abrir…
com vidraças foscas e rachadas
onde a sombra do sonho se esmagara como mosquito
esborrachado.
E o rosto desfigurado sem o saber,
corroído por estranhas aranhas nas entranhas
a tecer rosários e teias de ódio e fúria.
Ah! E ciúmes disfarçados, inda a noite ia
pequenina.
Se estrelas houvera, caíram ali mesmo!
Até a lua era meia de meia
como cagadela de mosca na lâmpada que luzia.
Mas também quem queria essa lua?
Não dizem que é dos amantes?
(Então que fiquem com ela e que forniquem)
E amor era coisa arredada daquela vida.
A mágoa infiltrava-se pelas rachas da alma
abrindo feridas com palavras de gume afiado,
como o machado que racha a lenha de cima a baixo,
e separa.
Corpo seco talhado a golpes de arte, era ele
do tira ali e põe de parte
e as goivas iam cortando meias luas de sentires
incubos dos pesadelos, sucubos na luxúria.
O pontapé dado na cadeira virada
(Escape grosseiro do danado…)
trouxe espantos, nos ais que se seguiram.
Jorge d'Alte
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