domingo, 19 de julho de 2020

E DEPOIS


 

 

Os olhos viram-na seguir direita ao elevador.

Que andar atraente,

que demônio de mulher!

Fechou a porta voltando à sala,

acendeu o cigarro tossicando,

recomeçou o passeio de lado para lado.

Que porra!

Sentou-se no sofá vermelho num pensamento cor-de-rosa…

Viu-a de novo cintilante de fresca ternura,

desabrochante de candura

olhando enigmática para ele, 

fluindo feromonas de desejo e pejo.

Excitante ansiedade se apoderou dele,

e o monstro cresceu nele inflamado,

sondando a sua boca velada, que se abriu numa auréola de luz.

No vazio que ficou, no oco de existir,

exalou a réstia corrosiva de amor.

E depois?

Vieram lágrimas salgadas; meu estupor porque te vais…



Jorge d'Alte


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