sábado, 18 de julho de 2020

NA IGREJA DA ALDEIA

 


 

Do alto o sol comia as sombras no seu divagar,

encurtando-as ainda vivas e mornas

até ás alvas paredes silenciosas da igreja.

Como alma albergava dentro tantas ladainhas, murmúrios

indecisos, tiquetaques retumbantes como preces

taças de mel e fel, livros de reclamações de desejos e milagres,

lavatórios de ódios, mó que mói as dores até ao âmago

levando-as sem pejo até ás suplicas, em arrastares

sangrentos pelas pedras rugosas desse caminho,

que vence no átrio, onde os rostos se juntam nas lamurias

entre confissões que já eram e bênçãos que geram novos pecados.

E a sombra morreu no apogeu solar, sentindo cair o fogo do astro redentor,

no momento em que o sino solitário,

desperto da sua modorra  letárgica, badalou.


Jorge d'Alte




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