domingo, 12 de julho de 2020

ACORDEI CINZENTO


Hoje acordei cinzento

sem imagens nos olhos

sem carícias nos dedos

com a sombra esquecida na voz

e um nevoeiro gélido na alma.

Há dias assim

na vida de um homem,

sem malmequeres a abrirem-se

inglórios esquecidos de alguém,

borboletas sem asas remetidas ao casulo

mariposas nos bicos de pássaros desasados

debatendo-se no atroz sem remissão.

Coração arrastado em pedras de cascalho,

peles esfoladas até ao tutano

no suplicio da dor.

Deixei por aí rastos sem cor

perseguidos por adamastores

gritos de náufragos noctívagos

e gorgolejares de morte.

Estive assim o dia todo

de cinzento revestido

como nado morto.

 

(Tudo porque acordei cinzento e não azul)


Jorge d'Alte

 


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