quarta-feira, 30 de maio de 2018

PORQUÊ?





Tangendo, a corda soltou
Um acorde de notas insatisfeitas.
A clave caiu com estrondo
A barbárie aconteceu
Gritos eram dardos arremessados
Que espetavam trespassando.
A névoa toldou o espírito
As sombras caminhavam apressadas
A vozita prostrada soava aflita
Vendo o sangue vermelho que brotava
A fonte árida e seca momentos antes
Jorrava montes de esguichos
Por onde a alma se escapava.
A voz movia-se no eco do silêncio
O peito amarfanhava-se
Sacudido por tosses convulsivas.
As mãos enclavinhadas tentavam segurar
Pontas de vida num relógio quebrado
As horas já não corriam com o vento
Os minutos quedavam-se em cada arquejo
Areias escaldantes deste deserto
Os segundos eram tudo no desejo.
Vieram os anjos na sua alvura
As trompas tocaram a desdita
O céu caía sombrio cada vez mais perto
E a luz alva invadiu o espírito
Trouxe a serenidade a esse rosto de menino
Tantas vezes inquieto
Levando na volta o seu sopro de vida.

Jorge d'Alte



domingo, 27 de maio de 2018

DESTINO





Se soubesse que o destino já estava traçado
Corria ao futuro e trazia-o bem amordaçado.

Jorge d'Alte


segunda-feira, 21 de maio de 2018

PARTIDA






Fiquei a olhar esse céu azulado
Que um risco de prata decidido cortava
Era a mágoa e esperança que iam lado a lado
Era a dor e a saudade infinita que em mim ficava.



Jorge d'Alte

quarta-feira, 16 de maio de 2018

SENHORA DE FÁTIMA






Eram dias escuros de guerras fomes e matanças
Os povos arrastavam-se vergados de dor
As cidades fechavam-se no medo e os campos no terror
Descalços com os rebanhos  três pastorezinhos cantavam em louvor
A azinheira de tantos dias iluminou-se de esperanças
O sorriso da Senhora cativou-os como encanto 
A Sua Voz cantou o pedido com fervor
Os rostos pequeninos cheios de espanto
Louvaram a Mãe oferecendo suas vidas como penhor
Rezai pela paz do mundo!
Rezai pela paz do mundo!
No chão de Fátima onde a chuva caia desvairada
O povo pobre e rico ajoelhou
De súbito o céu caía sobre eles e o sol crescia  vindo do nada
Milagre! Gritaram as vozes 
Milagre! Gritavam mais vozes
E todos os anos em maio é abençoado quem pelo mundo rezou.


Jorge d'Alte




quarta-feira, 9 de maio de 2018

Amo-te






Voando nas asas do meu sonho
vi um rosto lindo de mulher
que com lábios rubros me sorria
ai feitiço que me cativou.
Por ti um gozo na vida
com doce sabor no coração
afeição nunca sentida
bem fundo cavou seu lugar
qual punhal me ferindo.

Voando no dorso agitado
deste sentir em tropel desenfreado
chorei nos teus seios por amor
ai feitiço que me cativou.

domingo, 6 de maio de 2018

ADÃO E EVA



            



                                                       
Os ossos sacudiram a terra
despediram-se agradecidos aos vermes
mãos acariciam-nos com esperança
seria isto uma criança?
ADN envolto na gaguez da idade
batas brancas deixam as remelas do olhar
e criam!
Nasci do nada sem berço de mãe
Pergaminhos de faces caídas me osculam com o olhar…
- Eis a criança! Ufanizam.
Olho o meu horizonte sem ar
a gaiola que acolhe a humanidade é translúcida.
Afinal o sol sempre nasce!
- Tu e tu, a voz fina questiona.
Os anos milenares notam-se nas vozes roucas,
desgastadas como seixos rolados em rios secos.
- Onde estão as crianças como eu?
A vergonha cai em egoísmos arrancados…
- Não há!
Somos imortais e olvidamos esses primórdios.
- Serás tu uma criança?
- Eu sou a criança, mas não quero este mundo!
- Quero brincar, aprender e sonhar!
- Porque me criaste Pai?
ADN envolto na gaguez da idade
batas brancas recordam a vida que foram
e criam!
Nasci do nada sem berço de mãe
rugas de faces caídas me osculam com o olhar…
- Eis a criança! Ufanizam
No éden vivo virgem num corpo em mudança…
No término do dia a lua dança e recorta a sombra.
- Eu sou o homem e tu?
- Tu és lindo nesse corpo que reluz!
- Tu és linda, mas és diferente…
- Porquê esta atracção, Pai?
Nasci do nada no berço de mãe…


Jorge d'Alte


quinta-feira, 3 de maio de 2018

SILÊNCIO






Os nervos
os ouvidos
os olhos
são agudos receptivos

sobre a pressão do silêncio.
Tudo parece
um pouco maior
anguloso
do que a realidade.
Tudo desde o pousar dos pés
nos frios azulejos
o roçagar da manga
das palmeiras do jardim
parecia ter uma claridade de som
que tremia como nota de marfim...


Jorge d'Alte