quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

SE EU VOS ESQUECER

E se eu vos esquecer
na nevoa labiríntica das memórias
se os nomes se dissolverem 
como geadas na alvorada morna
Se eu esquecer as caras amadas
dá-me um abraço e não chores
pois eu não sentirei essa dor
alheado nas profundezas abissais
onde tudo será fosco, será aquilo que quiser
Dai-me a mão nessa adversidade
levai-me ao sol
ao calor ao mar
deixai-me escutar essa balada no marulhar
fazei com que a minha alma perdida não finja
mas sinta o amor embora não saiba o que é.
Sentai-me na noite á bela lua
contai as estrelas uma a uma
Se eu vos esquecer
sabei que vos amo filhos
que vos desenhei um dia traço a traço
que vos escrevi as palavras que eram minhas
e todo o amor e gratidão que me enche.
Se te esquecer minha amada
beija-me nos lábios dá-me o teu amor
não me deixes perdido sem calor.
Se eu vos esquecer
viverei sozinho no meio de vós
uma ilha que envelhece
que vós sereis o meu mar
até que o horizonte se quebre
e eu parta como saudade.


Jorge d'Alte

sábado, 27 de janeiro de 2024

DÁ_ME TUA MÃO

Dá-me a tua mão
Chora o coração no meu ombro
Cair é desilusão é desespero
mas por mais que te sintas naufragar
tens sempre a boia da minha mão
o meu ombro para te amparar
o meu carinho a minha força.
Abraça-me e sente a minha amizade latente
agarra as palavras que te digo ao ouvido
mesmo na escuridão que apodrece
existe a luz de um amigo.
Não cerres os olhos de perdido
não estrebuches nesse lodo que te queima
dá o passo que se quer enfrente
dá-me as tuas lágrimas sem sentido
Dá-me a tua mão
Escorraça os medos a mágoa a desilusão
corre comigo nas savanas como leão
enfrenta o mundo com garra
Lembra-te que estarei sempre contigo
onde quer que estejas e eu esteja
e que a minha mão
te guiará sempre no teu coração.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

VOLTA

Espero que estejas feliz
espero que o sejas agora
Voa no teu céu e diz
aos anjos e arcanjos o que foste outrora.
Não te deixes cair como mais uma folha morta
não deixes que o vento te varra até á sargeta
Voa como sempre voaste e exorta
os momentos de boca em boca, essa meta
onde amar e amor se amam na aventura.
Foge da solidão da eternidade
sorri na fragância que perdura
esse perfume de suor e felicidade.
Clama os nomes onde foste feliz
chama a acha que te aquece
voa de abraço em abraço e diz
deixa lá atrás o que parece
Empunha a espada da revolta
diz que queres ser feliz, e volta.


Jorge d'Alte



quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

JULGAVA QUE A LUA ERA MINHA

Julgava que a lua era minha
estava sempre onde eu estava
linda e pura de várias faces
conforme o humor que me acometia.
Alguns amigos diziam que a viam também
e com desdém dizia-lhes que eu a emprestara.
Também aparecia leitosa nas manhãs.
Essa era a lua dela branquinha como a sua pele
vestida de luar e embalada nas nuvens
que corriam como o nosso tempo.
De noite era minha enfeitada de estrelas brilhantes
e aí eu era Eu porque esta lua era minha
desde que nascera que a via ora ali ora acolá
por vezes fugia e eu indignado cerrava os olhos
a ver se ela vinha - mas não vinha.
Um dia cerrei os olhos tão apertados
que sonhei, e vi-a, não a lua galhofeira
mas a lua dela e saboreei o amor que encontrei.
Sorriso farto, lábios franzinos voz doce
Como não a amar se eramos lua a dobrar.
Hoje sei que a lua é nossa pois está onde sempre estamos
Já não é necessário cerrar os olhos nem jorrar lágrimas
vejo-a todas as noites, todos os dias, alvoradas e  crepúsculos
e amo-a quando nos meus braços a beijo.


Jorge d'Alte









terça-feira, 23 de janeiro de 2024

SEGUE EM FRENTE

Sempre me disseram - segue enfrente!
Mas não sei de que lado fica.
Do lado do vento que me trazia novas
do lado do poente onde escondia a tristeza
do lado do mar onde vagueavam as ideias
do lado de trás?
Isso não é seguir enfrente
Isso é passado e as memórias
isso são promessas, alegrias e dor
muitas vezes solidão amor e ilusão.
Hoje estou na encruzilhada
perdido no campo olhando as searas
as margaridas e as papoilas
e de entre elas queria ver a silhueta suada do amor
correndo na briza tisnando no sol amando no luar
tudo isto se foi um dia.
Hoje sigo em frente num rumo que não é meu
É o destino que me traça
este caminho insano de desventuras
de Deuses desgarrados que me jogam
talvez no Bem me Quer Mal me Quer
até ao dia em que sem corpo te abraço nas estrelas.

Jorge d'Alte

domingo, 21 de janeiro de 2024

NÃO QUERO QUE AMANHEÇA

Não quero que amanheça
pois a cor do dia vem varrer
a tua imagem da minha mente
traz-me luz onde quero escuridão
despe-me os desejos de ti
corrompe-me os sonhos.
Como sonhar se não te sinto
como beijar-te se não és estrela
como abraçar-te se és cor e não lua
como te amar se não encontro a tua voz
perco as palavras para ti
perco o teu calor e não te vejo.
Só te encontro quando o sol morre
e o crepúsculo me embala e adormece
e nessa solidão que me acontece
fecho os meus olhos ansiosos e Tu estás ali
tão viva e sorridente
tão emocional e abrasadora.
Sem passos vens até a mim
sem braços me abraças
sem mãos me afagas
e neste langor infinito
me despeço de novo
enquanto te desvaneces
na caliça da alvorada que te traga
e eu sofro.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

SÓ COM AS MEMÓRIAS

Sentado nas escadarias junto ao mar
Escuto as batidas da água o seu marulhar 
e o eco do tempo que chega nessa tarde
nevoas e neblinas por decifrar
trazendo-te de volta nas voltas que ele dá.
Não sei se tens sorrisos no teu mar intenso
se tens lábios para eu beijar. e perfumes de incenso
Vejo-te sair da bruma 
cabelos a esvoaçar
escuto o que quero escutar
palavras de iodo que me saram
conforto que não satisfaz a insatisfação que tenho
Pego na água fina e salgada que se escoa dos dedos
areias de grãos de memória que se desfazem no vento
Afinal partiste naquele dia de sol basto
sem acenos nem promessas nem lágrimas
apenas o teu coração não bateu
não houve volta como as ondas deste mar
Expludo de tristeza quando as ondas da mágoa se revoltam
não nas areias tisnadas mas no intimo seco e escuro
Deixo lágrimas caírem desoladas
levo-me de novo pelas ruas onde passeávamos
escuto os mesmos cânticos das gaivotas que escutávamos
até chegar no crepúsculo do dia
Só, com a solidão as memórias e o silêncio.

jorge d'Alte 


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

QUARTO VAZIO

Hoje chove nevoeiro
É Janeiro das invernias.
O quarto quente porreiro
trás ansias macias
de corpos tesos
de bocas de beijos
de abraços represos
de coxas peitos e arquejos
amor leitoso que se esvai
ondas deliricas de gemidos
silêncios  como chuva que cai
do auge que foi, lutares renhidos
promessas gritadas
no grito que não grito
pasmadas e sonhadas
no gutural aflito.

Hoje chove nevoeiro
e no silencio do quarto estou só.



Jorge d'Alte

domingo, 7 de janeiro de 2024

NO MEIO DAS SEARAS

 No meio das searas
que ardiam no meio sol
ela amargava na sua voz de rouxinol
ceifando como ceifara o seu íntimo de alma
amargurada na mágoa e na tristeza.
As lágrimas secas antes de choradas
sulcavam na sua mente rasgos de dor dorida
dores que a habitavam depois da alma caída
dobrando-a pela cinta enquanto ceifava,
ceifava e ceifava,
ao sabor do vento ao sabor cruciante da desdita.
O dia fizera-se noite depois da alvorada
trazendo um céu soturno sem a lua alva
quando a notícia a cortou em duas abas
a incredulidade e a negação
rasgando- a e destroçando-a.
O seu principezinho não tinha voltado
Fora ceifado cedo da vida risonha
num campo sem arvores e flores, com algumas searas
e um chão encharcado de lágrimas e sangue.


Jorge d'Alte 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

MÃE

 Como desejo que estivesses aqui
- Mãe
Mãe como te amo e sempre te amarei
Tu que sempre nos deste tudo de Ti
nas horas pardas 
nas noites bravas de medos sem fim
nos afagos cantados de melodias calmantes
nos apertos e incertezas.
A tua luz encontro-a por todo o lado
como farol que me atina
e mesmo agora nas saudades
eu penso em ti nas lágrimas furtivas que grito
sorrio como criança que fui
agarrada á tua tua mão
e sigo contigo.


Jorge d'Alte