segunda-feira, 24 de novembro de 2014





O tédio,
Estava ali!
Vislumbrava-se no meio dos nervos.
Era como plataforma de espera,
Onde nada se faz, mesmo pensar.
Pedra granítica, cinza e fria
Tolhendo a alma
Depenada, no bulício da rotina.
E ali estava eu, como camafeu (talvez reluzindo)
No apogeu, 
Nem vivo nem morto,
Apenas absorto, num faz-de-conta-que-estou-vivo.
Puxei instintivamente a caneta de prata forjada,
Pousei o bico no papel vazio, cheio de treitas como ideias
Rabisquei a primeira palavra com a tinta esfacelada
Como a alma minha,
E por ali me fiquei…
“Tédio”!


Jorge d'Alte










segunda-feira, 17 de novembro de 2014






Vi outro dia teu rosto deformado!
Aquilo que fora ternura e amor
Era agora rosto encolerizado
Era fogo rubro no sol pôr.
Triste perguntei-te o porquê de tudo isto
E tu me respondeste que era o teu ciúme
Que te roía por dentro como um quisto
E ateava essa chama no teu lume.
Tudo porque eu tinha sobrevivido a ti minha dor
E era agora feito de alegria e ternura
Essa luz reluzente cheia de cor
Essa meiga vontade que em mim perdura.


Jorge d'Alte





domingo, 9 de novembro de 2014





Os nervos
Os ouvidos
Os olhos
São agudos receptivos
Sobre a pressão do silêncio.
Tudo parece
Um pouco maior
Anguloso
Do que a realidade.
Tudo desde o pousar dos pés
Nos frios azulejos
O roçagar da manga
Das palmeiras do jardim
Parecia ter uma claridade de som
Que tremia como nota de marfim..


Jorge d'Alte








terça-feira, 4 de novembro de 2014









Sorri-lhe,
E ela sorriu-me também.
Deitada na cama olhos brilhavam de malícia.
Debaixo do lençol alvo,
A camisa de dormir espreitava…nada mais.
Encantadora! (a sua nudez estava por ali)
Acendi um cigarro, aspirei o fumo e soltei-o…
Devagar.
Sou capaz de te matar, como consegues resistir-me?
Diz-me que sou bonita!
Vá!
O meu olhar seguiu-a trocista…
Apetecível e convidativa e a minha depravação…
Sabes o que faria? (fui eu que falei)
Preferia que o fizesses e te calasses! (a resposta foi dela e não minha)
Beicinho de carmim…um pouco de lascívia.
Estou capaz de te matar, rapaz!
A almofada rebentou em penas de passarinhos azuis,
sobre mim.
Promessas só promessas! (gritou)
Carne crua e de sedosa pele tisnada
Abraçou o meu pescoço,
Lábios sequiosos se deram…
Depois perdi a cabeça, o tempo parou.
Amo-te!
Ouvi-a dizer, quando a porta bati.
Os degraus caíram na escuridão levando-me,
Dali.
O “ também eu “ que ouvi-me dizer, morreu
Nos sons batidos dos meus passos,
Que corriam atrás de mim.
Acendi um cigarro, aspirei o fumo e soltei-o…
Devagar.
O meu rosto falava…



Jorge d'Alte


sábado, 1 de novembro de 2014





E quem achou
Esse beijo dado,
Para o teu céu olhou
Asa que dentro voa
Na noite de lua, ecoa
Como beijo apertado,
Num toque de subtil segredo.
Levou-lhe esse medo
Num abraçar da alma
E nessa fluída calma
Pôde na su' alma sentir
Que o que estava latente
Era algo diferente
Dançou no teu peito
Luziu desse jeito
Na ponta do teu sorrir.


Jorge d'Alte