sexta-feira, 30 de abril de 2021

LÍRIO

 

Havia um lírio alvo no monte
Pregado na penedia
Brilhava na luz do dia
Chorava orvalho na madrugada fria.
Como chegara ali não sabia
Mas já fora mais pequeno do que era
Voara nos ventos  de Ódin
Sementinha criança traquina
Por sua vontade agarrara-se á pedra quente
Ferrou as raízes na terra fria dando-lhe seiva pura
Cresceu límpida espontou flor de alvura
Regozijou-se com a abelha que zunia sorvendo
Poléns que eram da sua vida.
Algures nas serras dentadas outra flor se abria
Sentiu uma abelha esvoaçar no seu zunido
Beijando-a no meio dia.
Sentiu-se desflorada por entre raios de sol
Sentiu-se mimada na lua cheia
Ao seu lado despontou um pequeno lírio Azul.


Jorge d'Alte

terça-feira, 27 de abril de 2021

EU AMEI TEUS OLHOS VERDES

Nesse dia
Sob uma lua singela
Eu amei teus olhos verdes
Eu amei esses olhos verdes
Como a água ama as pedras.
Não cheirei a tua maresia
Não fui nessa onda desgarrada
Nem nos tropeções da vaga que quebra
Antes afaguei-a com doçura
Afaguei-a no meu regaço
Como as abelhas afagam as flores.
Sorvi os seus lábios de mel
Sentindo abelhas comichando na barriga.
Nessa noite de crepúsculo desenhado
Escrevemos as palavras dentro de uma cerca
Guardámo-las na alma com um sorriso
Depois voamos na brisa dos tempos
Como folhas arrancadas e levadas
Porque amei uns olhos verdes
Porque amei teus olhos verdes
Porque te amei como ninguém.


Jorge d'Alte




domingo, 25 de abril de 2021

EMIGRANTES

 

Eram tempos de antanho
Sem futuro e descalços pés
Onde a fome era do camanho
E crianças comiam papas com vinho rés.
Adormeciam no frio embalados na pobreza
Partiam por trilhos fugindo da lei
Na escuridão da noite depois da reza
Pedindo a Deus proteção pela sua grei.
Labutam nessas cidades de pecados
Por dez reis mel coado
Matam a fome em parcos bocados
Reza para ser perdoado.
Depois juntam esses trapinhos
E voltam passados uns anos
A sua vida de espinhos
Muda como água caindo dos canos
Deixando no saquito o cêntimo.
Um a um enche a galinha o papo
Mas a saudade vence o seu intimo
E chegam orgulhosos no seu, "boca de sapo".


Jorge d'Alte








MEU SOL

 


Finalmente a chuva morreu, 
Talvez cansada de tanto bater nas vidraças.

O sol apoderou-se da minha alma
Vestido de pele dourada e cabelos de ouro. 
Os olhos verdes tinham-me levado até à praia
Onde nos encontrávamos emaranhados
Como algas atiradas e repousando na areia cálida..
As ondas cavavam poças de louca espuma
Arranhando a areia como unhas desesperadas.
Meus olhos fascinados gemiam com a tua beleza
Enquanto por dentro a confusão era generalizada
Um cocktail de emoções e sentimentos.
A nuvem apressada que passou fora apenas um amuo
Toldara o teu sol no pico de verão.
Mas foi quando as folhas se soltaram mudando de cor e humor
Que tu meu sol correste para o mar
Num por de sol empolgante, deslumbrante e fugidio
E acabaste por te afogar para lá da linha do nosso horizonte.
Por mais que percorra as praias e os por de sol nunca mais te encontrei
Agora que a chuva renasceu e me bate nas vidraças
Percorro os ventos da memória
Tentando colher de novo o teu calor 
Em alcovas misto de esperança sonho e amor.


Jorge d'Alte

sábado, 24 de abril de 2021

TUDO O QUE INVEJO

 


O sonho fora um espasmo
Criado no seu sono nu
Iluminara a mente com pasmo
Desenhara no linho cru
O rosto do desejo
Tudo o que invejo
Pois sou solidão no meio do ermo
Os lábios movendo-se em rimas de amor
Deixaram na noite noctívaga no seu termo
Mãos trémulas enlaçadas no seu pudor.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 21 de abril de 2021

PECADO ORIGINAL

 


O Pai!

Filho vês os olhos como eu vejo?
Criei um Éden cheio de maravilhas e Criei Ela para lá viver.
Não comas a maçã que te é oferecida em luxuria pois a luz alternará com as sombras e estas trarão maldições e o fim da eternidade.

O corpo corria lesto atirando a sua sombra em todas as direções. 
As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções. A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido. 
Até ali nunca houvera Tempo. 
O dia começara numa qualquer madrugada..

A caverna sempre escura era iluminada pelo fogo dos deuses que nascia da pedra da terra aquecendo-a e iluminando-a.
Em volta o fumo azulado assobiava quando tocava na brisa e chispava aborrecidas faúlhas que voavam e cobriam aquele chão de negro.
Figuras sentadas escutavam as falas nos deuses e o feiticeiro ditava a sua lei.
Ele o mais novo de tenros anos doze fora o escolhido.
Ela de onze seria a sua deusa quando casassem.
Fora escrito nas estrelas e quando estas, no céu de breu se juntassem, casariam.


Quantos anos tinham decorrido desde então? 
Ele puxava pela memoria mas esta não respondia. 
Como podia  se o seu corpo estava enfeitiçado embrulhado nos fumos e drogas de sonho e o brilho das suas pupilas dilatava-se como faróis. 
Sabia que tinha de ser sem o saber.
A seus pés Ela estava deitada arfante e desejosa em cima da folhagem verde e fresca que servia de leito. O som que soltou sobressaltou-o, sentindo de imediato aquele arrepio pela espinha acima entesando-o e o desejo sorriu quando retirou a tanga que lhe envolvia as partes escondidas. 
Ela suava feromonas que atraiam ferozmente os sentidos dele.
Caiu sobre ela envolvendo-a no abraço sorvendo na saliva o mel. 
Era abelha pousando nos lábios da flor. 
Suas pétalas como braços apertaram-no no amplexo e agora voavam para lá das estrelas  pairando, lá naquele céu onde os anjos voam.
O som da musica ritmava o seu ardor cada vez mais rápido cada vez mais desejado e os seios dela cresceram duros de mamilos e a pele derretia-se numa cama de suor ardente e gélido.
Agora cavalgava numa longa pradaria tendo como fito a montanha que crescia nos seus olhos e dentro dele. 
Sentiu as garras dela como falcão caçando no seu dourado. 
Sentiu o sangue correr nas veias como alimento sentiu-o também brotar dos longos rasgos no seu dorso.
Voou com Ela siando no ar quente. 
Rodopiou em acrobáticas voltas e subia a montanha de novo numa cavalgada sem fim como garanhão implacável. 
No alto atingiu o céu desfazendo esse leque de estrelas como pedra que atinge o charco num xaile ondulado, num momento a dois que era dela e seu.
Fechou os olhos arrastado no gemido sem fim que lançou,  agarrado e foram como sinos tocando badaladas de desejo.
O lago de suor era a sua cama onde nadava nos beijos. 
Seus   lábios eram poesias sempre belas nas palavras.
O sol rasgava a madrugada cantando a boa nova dele e dela mas na caverna parca iluminada os sonhos navegavam à deriva no sono.
Eram deuses no Olimpo  e a Terra era deles.

O corpo corria atirando a sua sombra em todas as direções. 
As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções. A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido. 
O dia começara numa qualquer madrugada, mas era das sombras da noite que caia que ele tinha medo por isso fugia.
O Pai decretara a lei. 
Nunca mais haveria eternidade de vida no Éden, pois o pecado acontecera e para a alcançar haveria nascer, vida, morte e eternidade.


Jorge d'Alte

sábado, 17 de abril de 2021

GRITO DE DOR - crianças da guerra-

 

No meio da selva intranquila

Um grito de dor pungente.

Tapam-se os ouvidos nos olhos de medo

Dores afiadas que se tornam no sangue

E os trilhos são rios sussurrantes

Cheios de trapos de ódio e raiva.

A neve branca e calma cai em gotas, lenta

Passos perdidos que assinalam uma vida

Por ali errante.

Em seu canto, uma brincadeira infantil

O brinquedo é uma arma - tudo bem

É tudo o que eles sabem fazer

Tudo o que eles precisam para jogar

E seu dia é a noite.

Suas almas vazias

Não têm alegria nem amor.

Quando as armas cantam - é rock and roll - de dor

E eles dançam entre tiros

Caindo na terra olhando o céu

Então Deus acorda apavorado

Envia os seus anjos - perguntar o porquê.

As canções dos pássaros

São baladas que não conhecem

Um mar truculento.

Dentro cresce

Ondas de cegueira

Que vai e vem.

Como poderiam ouvir

Sentimentos na tempestade?

Esta é a luta cheia de saudações

E as ruas são rios sussurrantes

Cheio de trapos de ódio e raiva

Crescem à medida que as árvores crescem

Seus braços são cachos

Sem folhas nem flores

E sempre serão crianças 

Por não terem futuro

Mas o seu sorriso são armadilhas

Onde a caça cai

E as ruas são estreitas no sufoco apertadas

Onde as sombras se tornam demônios

Corvos de almas

Gangue de tolos.

 

 

Jorge d'Alte

 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

REENCONTRO

 


Hoje contemplei-a sem ela se aperceber
Fui colhendo fragmentos soltos do seu sorriso quebrado
Num mar nervoso cheio de gotas de emoções.
Um manto monótono de solidão alarmava-a
Fechando-a em comiseração deslavando aos poucos o rosto de trigo.
De negro vestida respirava soturna aquela alma exangue
Estendeu a mão enluvada tocando naquela face que fora sempre sua
Onde os lábios comiam as palavras e as línguas intransigentes se amavam
Um soluço morreu abafado nos seus lábios descorados
Quando olhara para mim o seu maior amigo
Dei um passo sem cor nem ardor no som pesado acordando os rostos virados
Abracei-a com braços de amizade sem saber o que lhe dizer.
Não foram precisas palavras nem o velho beijo terno
Enquanto a terra reclamava o corpo em sons de pazadas.
Estávamos mais uma vez juntos como quando eramos crianças
Quando as mãos corriam atrás dela numa corrida cheia de gargalhadas
Quando colhia flores lindas que tombavam quando lhas oferecia
Quando a escola crescera e nós com ela e havia sonhos contados na lua cheia.
Sempre houvera um certo amor entre nós
Num dia estranho de fim de Maio eu partira sem lhe dizer nada
Os anos tinham-nos carcomido envelhecendo-nos
Mas o amor, a grande amizade era fresca como o lírio alvo que lhe dava.


Jorge d'Alte












segunda-feira, 12 de abril de 2021

COMO

 


Como posso vencer o vento
Abrir montanhas encontrar ouro
Crescer rios, encenar lagos e a magia de um mar?
Como posso olvidar o abrir das flores e os seus floreados
Trepar ás árvores no Alasca gelado
Descer encostas de neve feitas com rastos de ursos
Alar em asas de águia siar na caçada?
Como posso fazer tudo isto se não te consigo conquistar?

Jorge d'Alte

sábado, 10 de abril de 2021

AMOR

 



Amor
O vício que arde atroz
Nas pupilas dos amantes.
Amo-te
A promessa de lábios rubros
que se encastra nos corações.
Fazer amor
O desejo plantando sementinhas
Com rostos pequenos  para uma vida inteira.

Jorge d'Alte

quinta-feira, 8 de abril de 2021

CANÇÃO

 



Entra, sol, no bom-dia para ti meu amor 
Alegra os nossos rostos com a cor da vida
Dá-nos a seiva que escorre até ao coração
Cozinha aí o guião do nosso beijo que cai de maduro
Salivado em línguas doces, esse mel, mel
que é nosso e só nosso. Desculpa!
Não envies ventos nem brisas para levarem as palavras
São sussurros redemoinhando nos ouvidos
Não pregões de um qualquer tipo de amor
Isto é nosso e só nosso, mas agradecemos-te 
Visita quente que sobe no céu
Horizonte que queremos agarrar
E no advir da noite nostálgica cantaremos palavras singelas
Que só nós sentimos, cantamos e amamos.


Jorge d'Alte


terça-feira, 6 de abril de 2021

SE NÃO FOSSES TU


Se não fosses tu 
A doçura que intriga os meus olhos
A mão que me toca no rosto ávido
O corpo que amo como tocha
Já não teria espaço nesta vida
Seria errante como cometa
Deixando a minha luz nesse infinito
Abraçaria os anjos que aí voam
No hino mais sublime do amor
Escreveria não poemas nesses céus de todos
Mas sim o teu parco nome
De flor que cresceu em gáudio
Centelha gentil que me ama no meu coração
Beijo estirado na distância
Nó atado no presente que nos demos.
Amor sem palavras mas que arde.
Se não fosses tu
Eu seria apenas mais uma pedra chutada
Que rolaria desvairada até á berma da estrada
E aí ficaria perdida e deslavada, sem encanto.


Jorge d'Alte





sexta-feira, 2 de abril de 2021

SÓ POR NÃO SABERES AMAR

 Do outro lado da minha lua

onde o sol é banido e entra a amargura

que me ferra seu aguilhão sem ternura

está parte de mim que neste momento

sem qualquer espécie de ressentimento

diz que não que já não é tua.

Destruída por constantes impactos

dessas palavras desmedidas que me atiraste

como lanças pontiagudas cheias de factos

que na tua mente para ti, um dia inventaste

Só por não saberes amar

só por não saberes o que isso é

bateste com a porta e saíste

não como quem sai de boa fé

mas sim com o cunho de que me traíste.

 

jonel 23.11.09



Jorge d'alte




 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

ONDE ESTÃO?

 

24
NOV 09

Tenho muitos amigos, é verdade!

Vivem á minha volta numa ilusão

pois se um dia os chamei, onde estão?

conto-os pelos dedos

mas os dos pés não fazem parte, não!

mas esses sim tiram-me dos medos

fazem-me ver a realidade

e são parte do meu coração



Jorge d'Alte