quinta-feira, 16 de maio de 2024

A FLOR DA TARDE

Quando chegar o outono
e as folhas mudarem de cor
quando o calor se calar e o sol murchar
abrirei de novos os olhos
colarei no meu olhar as novas cores
fundirei no coração o amor
e vou sorrir para cativar.
Eu sou o que sempre fui a flor da tarde
a flor alegre
a amada
a cobiçada
a mais linda.
Sei que virão aqueles que me fecundam
que me beijam com mel
que contam novas histórias
deixando-as nas brisas como notas
que as cantam num bater de asas
e quando as geadas caírem
entre as noites e os luares
é o momento de partir 
deixar as sementes navegarem
e dormir e sonhar
pois depois das tempestades
carregadas de gelos e água
e o calor mingar
eu vou voltar
poderosa e bela
quando o outono chegar.


jorge d'Alte

quarta-feira, 15 de maio de 2024

VOEI JUNTO AO MEU SOL


Queimei minhas asas brancas
quando voei junto ao meu sol
esse sorriso irresistível
essa boca de promessas
essa pele madura tisnada e bela.
Gosto dessas tranças, dessas ancas
onde sempre escorrego como troll
fico olhando abismado esse corpo apetecível
esses olhos de lírios quando regressas
essas palavras que o amor sela.

Voo agora num céu novo porque lá estou
dizem que sou estrela que sou poeira
que me sento nas nuvens numa tristeza
as minhas lágrimas são chuva
que acariciam teus ombros nus.
Ficas-te junto á laje branca na lágrima que chorou
que me chamaste em vão num rumo sem eira
que agarrastes o vento com subtileza
que de memórias engrossaste como uva
bago de amor como Vénus.

O que não sabes é que tenho memórias
uma vagas outras tão reais que te beijo
Sorris na janela aberta onde a luz te delineia
sinto o teu perfume volúpio
sinto a saudade que te mortifica.
Memórias
Beijo
Candeia
ópio
tudo o que amar significa.



Jorge d'Alte

sábado, 11 de maio de 2024

O PÓ DAS ESTRELAS


Está no nosso corpo o pó das estrelas
como está a água que nos deu a vida.
Nos milhões de anos passados como caravelas
numa madrugada linda como lama perdida
abri os olhos e berrei no meu choro.
Deus não quis saber se eu queria nascer
deu-me um caminho que percorro.
Sonhos tenho muitos a crescer
saltei horizontes para os encontrar
procurei teus olhos desamparado
até que um dia o amor me veio falar.
Cobicei esses lábios cheios de mel, descarado
pousei neles como abelha tonta
percorri teu corpo de pele como corcel
vi-te o intimo como quem faz de conta
te chamei minha, meu amor, meu moscatel.

Que mais poderia ter ambicionado
senão um amor que enche o céu
que conta as estrelas neste coração molhado
que escreve esses nomes na noite de breu
pois quando o vento voltar
trouxer o cheiro das flores nesse ar
eu talvez seja já pó estelar
morto de vida água a secar.


Jorge d'Alte


quarta-feira, 8 de maio de 2024

SE

Se fosses minha
se o coração me desses
se sorrisses com a alma
se com beijos me cobrisses
eu seria  a tua cama
onde enrolada eu te tinha
se as mãos me desses
dançaríamos sem vivalma
á luz de estrelas com meiguices
com o luar onde se ama.

Se fosses ave voaria contigo
nas correntes  até ao infinito.
Se fosses flor uma espiga de trigo
eu seria beija flor o nosso grito
Se  fosses água eu te bebia
encheria o meu coração com as emoções
seria lágrima que  dos teus olhos corria
Seriamos partilha ardentes tições.

Mas somos apenas duas almas
que sonham na esperança
que sofrem nas noites calmas
quando os olhos se deitam como criança.


Jorge d'Alte
 

sábado, 4 de maio de 2024

O SEU HOMEM

Chovia chuva por todo o lado
cortina que brilhava nos relâmpagos
na janela acesa a tua cara
olhava o horizonte petrificada
seu amor estava lá na montanha
o rebanho e o cão a seu lado.
Irrequieta, melindrada em bicos de pés
esperava entoando memórias que criara.
Plantara-as num crepúsculo sem estrelas
lá por detrás das nuvens prenhes
cheias da aflição que lhe roía  a alma
na escuridão que grassava 
com sombras sombrias tenebrosas.
A espera contraia-lhe as faces numa meia alegria
Longe dela mas no seu olhar
uma luz de candeia tremeluzia.
Empinou o seu peito numa heresia
sentiu o prazer voando no seu sangue
soltou no vento agressivo um nome perdido
sua boca beijou de desejo
a imagem dele nu a seu lado
os corpos iriam se agarrar
aquecer o gelo para amar
junto á lareira com carvão ardido
e o cão a olhar.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 3 de maio de 2024

A COR DOS TEUS LÁBIOS




Eram papoilas num campo atravessado.
Era um mar vermelho como a cor dos teus lábios
que me seduziam como ópio fumado
A mente enrolava-se como línguas brincando
sentindo sentires num corpo trespassado.
Palavras havia no corpo emaranhado
não haviam lágrimas
mas havia brilho no olhar
não havia sons
havia mãos que afagavam
seios e coxas
peles que se arrepiavam
havia tudo isto num mar vermelho da cor dos teus lábios.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 1 de maio de 2024

CARTA AO MEU PAI

Hoje gostaria de te abraçar
não com as lágrimas
mas com um sorriso.
Tão cedo nos deixas-te com a dor
tão cedo te tornas-te saudade.
Criamos memórias e laços
que bordei no pensamento
que  amei no coração
tantos dias claros que vivemos
onde alegrias se sobrepunham
onde as tristezas ficavam lá atrás
e onde o carinho era teu nome Pai.
Hoje mordo o tempo com raiva
o nevoeiro do tempo não te encontra
não me deixa chorar mais uma vez
muito menos sorrir e abraçar.
A saudade que sinto é um risco de luz
que me pica no coração
e por uns momentos insanos
sinto tua voz
vejo o teu rosto
dou-te a minha mão
consigo te abraçar
não com lágrimas
com o meu sorriso.


Jorge d'Alte