quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ERAM






Eram ouvidos que aqueciam
pedras geladas de outras eras.
Eram palavras que agasalhavam
essa atmosfera balofa de mordomias,
e a mão altiva estendida
para diante, refulgia no seu enorme rubi,
onde lábios selados osculavam sedosas peles.
As vestes de mil folhos de rendados
rodopiavam danças já mortas,
onde encontros de pecados
caiam em hipócritos sorrisos,
e as voltas trocadas em passinhos
frementes, eram risos abafados que
sorridentes, desfaleciam em alcovas brancas,
de linhos.
As paredes graníticas sideradas por tantos
segredos, escorreram tantas lágrimas
e medos aí gravados escondidos; hoje ali sentadas no relento
desfiam no cuscar bisbilhoteiro,
historias proibidas embuçadas em lendas,
que escaparam dos fogos redentores,
de uma qualquer inquisição.


Jorge d'Alte



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

DOZE ANOS


                                                                    






Ruas traçadas no casario
deslizavam em ladeiras de pedras
desgastadas e cinzentas
A rua perfeita, sinuosa como teu corpo
levava-te apetitosa ao encontro.
O campanário torto na sombra disforme,
agigantava-se no chão em sinos badalados
chamando; como ovelhas e cabrinhas correndo
para o pasto lá iam!
O encontro ficava ali entre as meias badaladas
e a bênção.
Os pés apertados em sapatos de verniz saltitavam de dor
fazendo abanar a saia rodada crivada de flores.
A esquina olhava-te pelos meus olhos de garoto.
Alisei o cabelo penteado para trás
pus uma mão no bolso dos calções
e a outra apertada atrás das costas,
segurando.
As minhas sandálias desgastadas
levaram-me até ti.
O saltitar parou
um sorriso iluminou-te.
O meu envergonhou: “queres casar comigo?”
Estendi o ramo de papoilas e malmequeres
murchos no calor.
Gaiatos demos as mãos
e entramos na igreja!


Jorge d'alte

terça-feira, 7 de agosto de 2012

PAIXÂO


Rodas me levam pelo deserto
chamas ardem em poços no horizonte
mas tudo aquilo que eu quero perto
não brota dessa fonte.

Doces calores e suores
dilaceram aurículas como tumores
os ventrículos como correntes
levam sonhos das nossas mentes.

Mas as asas onde estão?
quero voar mergulhando na minha paixão

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

GÉNESE






O arco que fazia a minha vontade,
tenso esticava como mola puxada.
O olhar em flecha fixava o alvo;
Olhos fixos na miragem
de vaporosos não vistos.
A voz do vento não ajudava!
Criara o zunido como vergastada,
causando um prurido por dentro da barriga,
pecha da alma como pederneira.
Incendida a flama tomou-me como tocha incauta,
que derreteu a cera que me escondia,
deixando-me ali nu,
perante ti.

( O olhar alarmara o seu rosto
  afogueando as suas faces trigueiras.
  Seu cabelo era fogo esvoaçando…
  Era ruivo e encaracolado e batia-lhe na cara,
  sardando-o.
  Gravitou atraída numa órbita curta,
  tornando o seu núcleo escaldante como lava.
  Mnemónica alarmou-se,
  como ontogénese um sentir fecundou,
  sentiu a paráfrase do seu intimo,
  semente de sentimento que sativou
  e que saciou no cumulo do beijo)


Jorge d'alte