segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Saudade na passagem de ano

 


Conto nos segundos que faltam

tudo o que construí sobre os meus ombros

tudo o que sonhei

tudo o que me fez sorrir, me fez chorar

mas sobretudo tantos rostos até agora incógnitos que passaram a fazer parte da minha vida.

Mas os segundos correm rápidos e nas milésimas ainda tenho tempo para um novo pedido...

No ruído da rolha que salta,

no entrechocar dos copos,

dos beijos das palavras, dos abraços

sinto saudade do perfume que já não sinto

do beijo que não foi dado, nas palavras que não escutei, do abraço que não me apertou...

e pergunto-me, onde estás velha companheira porque teve a vida de ser assim?

 

Jorge d’Alte

 


sábado, 26 de setembro de 2020

A HORA DO PECADO

 

O som da música ritmava o seu ardor cada vez mais rápido cada vez mais desejado e os seios dela cresceram duros de mamilos e a pele derretia-se numa cama de suor ardente e gélido.
Agora cavalgava numa longa pradaria tendo como fito a montanha que crescia nos seus olhos e dentro dele.

Sentiu as garras dela como falcão caçando no seu dourado corpo. 

Sentiu o sangue correr nas veias como alimento.

Sentiu-o também brotar dos longos rasgos no seu dorso.

Voou com Ela siando no ar quente.

Rodopiou em acrobáticas voltas e subia a montanha de novo numa cavalgada sem fim como garanhão implacável.

No alto atingiu o céu desfazendo esse leque de estrelas como pedra que atinge o charco num xaile ondulado, num momento a dois que era dela e seu.
Fechou os olhos arrastado no gemido sem fim que lançou agarrado e foram como sinos tocando badaladas de desejo.
O lago de suor era a sua cama onde nadava nos beijos. 

Seus   lábios eram poesias sempre belas nas palavras.
O sol rasgava a madrugada cantando a boa nova dele e dela mas na caverna parca iluminada os sonhos navegavam à deriva no sono.
Eram deuses no Olimpo  e a Terra era deles.
O corpo corria atirando a sua sombra em todas as direções. 

As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções.

A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido.

O dia começara numa qualquer madrugada, mas era das sombras da noite que caia que ele tinha medo, por isso fugia....
O Pai decretara a lei.

 Chegara a hora do Pecado!

Nunca mais haveria eternidade de vida no Éden, pois o pecado acontecera e para a alcançar haveria nascer, vida, morte e eternidade....


Jorge d'Alte

 

 

 

 

 


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ERAM VISTOS GOLDEN

 


Eram vistos Golden chovendo e os outros que não o eram.

Pelos vistos o nosso cantinho era apetecível mal sabíamos nós qua sombra ia despertar.

Nesses tempos de novembro ido, tudo viajava ao Deus dará.

O outono minguava clamando pelos invernosos dias de ventos frios e chuvosos.

Na escuridão um monstro crescia, mal sabíamos nós.

Como vírus moderno de pomposo nome o tal Covid regurgitou.

Nós os inteligentes paramos como escudo, enquanto o vírus chacoteando se apresentava em peitos sofridos em cérebros carcomidos em estômagos azedados em pulmões sem ar.

Mas onde estava a piada?

Eles eram mínimos mas muitos.

Nós os senhores dos mundos e universos éramos  apenas muitos mas mínimos.

Por isso continuamos a dar vistos golden aos Covids e continuámo-nos a matar.

Onde estão as espadas?

Onde estão as armaduras e as cotas de aço rígido dos dons Quixotes e Sancho panças?

Estas guerreiam-se nos laboratórios…

Eu tenho, tu tens, ele tem – Quem dá mais?

E lá vamos caindo, um pouco aqui, muitos lá e acolá.

 

 

Jorge d’Alte

 


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O QUE QUISEMOS SER

 


Hoje chovia sem nuvens num sol abafador

Cacimba morna  derretida em noodles

Como cabelos suspensos na cara de sol.

Afinal caíam cachos dourados dessa face de amor

Caíram beijos em bocas de lábios negros

Osculando mamilos frementes de prazer.

O sol és tu! Sempre foste tu!

E por seres a fonte que me renasce

Eu amo-te como nunca amei.

Será possível dizer que te amo mais do que o mais que sempre amei?

Os sonhos eram como vídeos em que tu eras eu e eu era tu

Ator de mimos do faz de conta não éramos

E por não sermos, vivemos este conto engolidos na felicidade que se conquista em dias bons.

Vamos esquecer os dias maus pois estes foram o trampolim para os dias de hoje

Embebidos em emoções enraizadas em aromas de amores

Crescemos e hoje somos aquilo que não éramos, mas o que quisemos ser.


Jorge d'Alte

 


terça-feira, 22 de setembro de 2020

O AMIGO

 A amizade tem coisa engraçadas que nos podem marcar para sempre.....

É aquele sentimento que era gelo antes de o ser, e que se vai derretendo lentamente trespassando os tecidos e encharcando-nos quando menos esperamos. 

E depois não há volta a dar.....
Estamos completamente presos nesse liquido que não se evapora.e faz correr todos os nossos sentimentos até à ponta do nosso sorriso.
E este é a nossa dádiva sem esperar troco porque soube escutar, compreender e ajudar......
Foi gesto que emergiu do nada sem se ver para nos transformar.
Foi como uma flor que de repente desabrocha e com as suas cores garridas nos cativa
Estiveres onde estiveres  eu serei teu protetor
O homem do leme para te guiar
Neste caminho irritante em que ora erramos ora crescemos.
Amo-te meu amigo para sempre!

Jorge d'Alte

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O BARCO DE ESCRAVOS

 

........... O barco pesado, de grossa madeira de castanho, baloiçava suavemente  na ampla baía de águas esverdeadas e límpidas.

Ao longe onde a água abraça a areia quente num amor sem igual  os quatro amarravam o escaler vermelho. As velas descidas  de cruzes garridas estrebucharam num golpe de vento....

Toda a viagem tinha sido assim ao sabor dos caprichos dos Deuses e a fome chegara e com ela as doenças, as pragas malditas e as orações...
Por entre a folhagem densa que marginava ordeira amparando as areias da bela baía, olhos abriam-se desmesuradamente num misto de incredulidade, de medos, duvidas angustiantes e de vontades....
0 assobio partiu disparado dos lábios e subiu recortado nas folhagens ramacentas do denso arvoredo.

Encontrou ouvidos que escutaram e um novo assobio rodopiou e voou em tom de desespero refratando-se nos inúmeros ouvidos que encontrou pelo caminho.
A balburdia estalou como ossos artríticos no seio da aldeia.


Jorge d'Alte


domingo, 20 de setembro de 2020

O PAI!

 

O Pai!

Filho, vês os olhos como eu vejo?
Criei um Éden cheio de maravilhas e Criei Ela para lá viver.
Não comas a maçã que te é oferecida em luxúria pois a luz alternará com as sombras e estas trarão maldições e o fim da eternidade.
O corpo corria lesto atirando a sua sombra em todas as direções.

As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções.

A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido. 

Até ali nunca houvera Tempo.

O dia começara numa qualquer madrugada....
A caverna sempre escura era iluminada pelo fogo dos deuses que nascia da pedra da terra aquecendo-a e iluminando-a.
Em volta o fumo azulado assobiava quando tocava na brisa e chispava aborrecidas faúlhas que voavam e cobriam aquele chão de negro.
Figuras sentadas escutavam as falas nos deuses e o feiticeiro ditava a sua lei.
Ele o mais novo de tenros anos doze fora o escolhido.
Ela de onze seria a sua deusa quando casassem.
Fora escrito nas estrelas e quando estas, no céu de breu se juntassem, casariam.
Quantos anos tinham decorrido desde então?

Ele puxava pela memoria mas esta não respondia.

Como podia  se o seu corpo estava enfeitiçado embrulhado nos fumos e drogas de sonho e o brilho das suas pupilas dilatava-se como faróis.

Sabia que tinha de ser sem o saber.
A seus pés, Ela estava deitada arfante e desejosa em cima da folhagem verde e fresca que servia de leito.

O som que soltou sobressaltou-o, sentindo de imediato aquele arrepio pela espinha acima entesando-o e o desejo sorriu quando retirou a tanga que lhe envolvia as partes escondidas. Ela suava feromonas que atraiam ferozmente os sentidos dele.
Caiu sobre ela envolvendo-a no abraço sorvendo na saliva o mel.

Era abelha pousando nos lábios da flor. Suas pétalas como braços apertaram-no no amplexo e agora voavam para lá das estrelas  pairando, lá naquele céu onde os anjos voam.
O som da música ritmava o seu ardor cada vez mais rápido cada vez mais desejado e os seios dela cresceram duros de mamilos e a pele derretia-se numa cama de suor ardente e gélido.
Agora cavalgava numa longa pradaria tendo como fito a montanha que crescia nos seus olhos e dentro dele.

Sentiu as garras dela como falcão caçando no seu dourado. 

Sentiu o sangue correr nas veias como alimento.

Sentiu-o também brotar dos longos rasgos no seu dorso.
Voou com Ela siando no ar quente.

Rodopiou em acrobáticas voltas e subia a montanha de novo numa cavalgada sem fim como garanhão implacável.

No alto atingiu o céu desfazendo esse leque de estrelas como pedra que atinge o charco num xaile ondulado, num momento a dois que era dela e seu.
Fechou os olhos arrastado no gemido sem fim que lançou, agarrado e foram como sinos tocando badaladas de desejo.
O lago de suor era a sua cama onde nadava nos beijos. 

Seus   lábios eram poesias sempre belas nas palavras.
O sol rasgava a madrugada cantando a boa nova dele e dela mas na caverna parca iluminada os sonhos navegavam à deriva no sono.
Eram deuses no Olimpo  e a Terra era deles.
O corpo corria atirando a sua sombra em todas as direções. 

As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções.

A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido.

O dia começara numa qualquer madrugada, mas era das sombras da noite que caia que ele tinha medo, por isso fugia....
O Pai decretara a lei. 

Nunca mais haveria eternidade de vida no Éden, pois o pecado acontecera e para a alcançar haveria nascer, vida, morte e eternidade....


Jorge d'Alte


ATÉ NEM ESTAVA MAL



 Até nem estava mal......

A chuva que caíra brilhava em gotas de sol resplandecente prismando cores diversas como pequenos múltiplos arco íris.
A árvore acenou barulhenta e resmungona com o açoite do vento até ali  alheado da sua natureza....
Só o mar continuava a sua canção de embalar enviando ondas e ondas como feromonas de acasalamento. 
Tentou encantar o meu animo e exitá-lo arracando-o da contemplação intima de mórbida auto comiseração.
Chorava no presente o passado desatando mais uma vez os nós apertados que o mantinha ali  como sempre autentico e doloroso. 
Uma imagem como faca dissecando-me por dentro expondo toda a minha vulnerabilidade e atiçando-me dores cruciantes....
Anos e anos de cenas semelhantes de um filme visto e revisto vívido e anestesiante esperando que o milagre acontecesse  por uma vontade morta e ossificada.
A onda de luz surgiu de repente inimaginável brilhante como nunca ,,,

( Etérea luz de brillho caminhante era eu mergulhado no de lá, sem som nem volume nem traços na poeira do caminho. A Luz era breu como breu fora a luz do espaço adornado de dourados pontos nomeados pelos sábios do antigamente. Viajava sem pagar- O passaporte fora-me dado sem saber....


Jorge d'Alte

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

HAVIA

 


Havia uma flor a acenar

Havia a canção do vento lá fora

Havia uma gota de ternura no olhar

Havia um rosto de Lua.

Havia um sorriso por entre a névoa

Havia calor no beijo do sol que partia

Havia um sonho no ar que respirava

Havia loucura havia saudade havia ternura

Havia tudo isto por partir

Havia tudo isto por te amar.


Jorge d'Alte

CAVALEIRO ANDANTE

 


Eu era o Cavaleiro Andante

Com flor de sorriso empunhado

Olhar de bem falante

Sem a timidez de um acanhado.

Singrei promiscuo entre sonhares

Devassando emoções roídas em teares

Miragens que abordei em Fé

Sorvendo-as como estimulante café.

E ela se deu na lua atordoada de Agosto

Tinhada de angústias de ânsias indecisas.

Fora um amar sem regras de ser suposto

Que nos elou em vontades premissas

Agora longe desses tempos sem retorno

Moemos nossas memórias abrasando-as em estorno.


Jorge d'Alte






quarta-feira, 16 de setembro de 2020

ESTAVA

 

Estava sentado

Embrulhado na noite que dormia

Embalado por mil cantares e sonhos


Sorria...

Bem dentro sentia

O teu olhar que me abraçava

A boca que me dizia

O quanto me amava.


Longe...

Olhitos de mel e saudade

Pousados algures em nuvens de sonhar

Tentando agarrar-me fortemente contra o peito.


Estava sentado

Caprichando na noite que dormia

Cabeça deitada na boca dos teus seios

Sentindo-te minha


( foi ter pensado nos dois)


Jorge d'Alte







segunda-feira, 14 de setembro de 2020

PRESIDENTE



Ele é o Presidente!

Professor do sabe tudo 

Como astuto vidente

Correu o mundo de casaco e sobretudo.

Ah! - Não esquecer o fato de banho

E é vê-lo nas praias de Cascais ou em Leça.

Podia ter um ego pequenino antes mas cresceu de tamanho

E as selfies correm atrás dele como ator principal de uma peça.

De vez enquanto puxa orelhas farfalhudas

E veta no seu direito.

Este é o seu pleito

E as vozes trombudas

De esquerda á direita

fazem apelos cegos como seita.

Mas o seu "glamour"está quando do hotel sai

Toalha ao ombro barriga rechonchuda

Selfie aqui selfie acolá e o famoso beijo lá sai.

Alto lá que há confinamento!

A máscara lá se pendura na orelhuda

Deixando estrelinhas de fofura no seu firmamento.

Mas há festas por esses lados

Serve comidas e sopinhas 

Enquanto estamos refastelados

O salvamento aconteceu em águas marinhas.

Ó senhor presidente vai uma selfinha

O sorriso abre-se gaiteiro junto a uma linda carinha....


Jorge d'Alte


SAUDADE



Nívea madrugada exangue...

Sem flores nos lábios, nem sorrisos no olhar

Sem agulhas de cristal nos olhos nem sol a voar

Sem o ruído da areia sob os teus pés nem o ferver do sangue

Sem brisas de ternura nem o arfar do mar

Sem o cantar do desejo nem corpos suados no luar.

          (Somente esta ansiedade esbaforida que me esmaga

          Saudade a bailar no meu olhar... )


Jorge d' Alte

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

PARTIDA

Olhei o sol  com lágrimas nos olhos...

Apertei a manhã serena com tristeza no olhar

Conti meu sofrimento com resmas de emoções

Tentei prender-me á saudade do teu olhar

Tentei que viesses á força de te imaginar

O traço cinzento esbranquiçado levou-te pelos céus

Tu que até nem gostavas de voar

Teu nome morreu algures no vento suão

Tua imagem esvaneceu-se em nuvens de gaivotas

assoreando a minha alma que ainda te tentava beijar.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

AMO-TE

 


Amo-te por triliões de coisas e momentos

Caminhos ácidos e doces que palmilhamos

Espermas sufragados em noites cálidas sem fim

Beijos que se encheram dos nossos sonhos.

Mas amo-te mais quando te ris no meu colo

Quando os nossos olhares zangados se derretem...

Quando as palavras perdem o sentido no meio dos cabelos ruivos

Quando os teus olhos castiços me enrolam na tua vontade

Amo-te como nunca me amei!

O sorriso faiscou no meio da música maluca de linhas sem sentido

Larguei tudo nesse mistério que queria desvendar

A menina dança?

Porque não...rodopios ao ritmo e corpos colados quando as estrofes eram mel.

"Love me tender" foi a força que nos uniu e nunca se desfez.

Amo-te quando te olho e não sou nada apenas mais uma estrela a povoar o teu céu.

Aconchego-a nos meus braços.

Olhos me olham  tristes quase sem fulgor e com as lágrimas como coro murmuro partes da canção que é do mundo e é nossa...

"Love me tender, love me sweet
Never let me go
You have made my life complete
And I love you so......................."


Jorge d'Alte



terça-feira, 8 de setembro de 2020

AMOR NA MORTE

 

A neve voava atroz, gritando hinos de medo no vento que voava de oeste.

A tormenta endoidecida cavava através dos altos caules dos asbestos, um caminho que não sabia.

A casa pardacenta e descolorida gracejava ironias sobe o penhasco que quase a envolvia.

A sombra tolhida de um homem movia-se dançando por detrás das velhas cortinas

Talvez alheado de tudo tentando caçar espasmos de emoções diluídas.

Vivia agarrado á solidão.

As memórias esbatidas daquele rosto curtido eram como estalactites suspensas

Umas vezes pingavam e outras não deixando no seu coração poças e resquícios bolorentos

Lágrimas idas chupadas no tempo e alagadas no fel do seu corrosivo sofrimento.

O rosto fértil de rugas cavadas iluminava-se na áurea do belo e o seu sorriso cavernava branco e singelo.

A vontade do dever levantou-o até ao quarto semiescuro onde ela parecia dormir.

Olhou-a a bom ver e debruçado beijou-a na testa fria de mil e um nevões.

Embrulhou-a em alvos panos e levou-a nos braços fortes como se a levasse risonha até ao seu leito nupcial.

Por momentos a tormenta era acalmia enquanto ele descia

Cambaleante a ladeira de neve fofa.

Uma cova desenhava-se na brancura tremenda.

Um pequeno pinheiro fazia sentinela ali mesmo.

Depositou-a lá dentro cheia das suas lágrimas ficando ali sentado esperando.

Foram encontrados quando as flores romperam no seu ciclo de vida.

Sentado na erva que crescia um corpo rígido e sentado ornado de flores parecia sorrir.

Olharam-no de olhos vidrados deixando o mistério acontecer.


Jorge d'Alte



segunda-feira, 7 de setembro de 2020

AMIZADES

 

Quando eu era jovem

E brincar e estudar era o mote,

As amizades eram fáceis, como fácil era gostar.

Mas havia sempre alguém que alegrava os corações

E estava sempre ali, pois o momento era difícil

E chorar não era fácil pois havia que ser homem.

O amigo abraçava e as palavras embalavam

Levando-te num caminho novo, quando o desespero era abismo

As luzes refulgentes de néon atraiam os olhares

E os sonhos faziam-se de copos, fumos e charros

Em momentos alucinantes.

Nesses tempos sem tempo que partilhávamos

Nesses dias loucos que sobrevieram

A guerra estava ali, prenhe nas dores e medos infligidos.

Os sonhos perderam-se quando a morte ceifou

Quando a dor queimou deixando como esteio a revolta

E os anos jovens perderam-se nesses anos que vivi.

O amigo abraçava e as palavras embalavam

Levando-te num caminho novo quando o desespero era abismo

 

Jorge d'Alte

sábado, 5 de setembro de 2020

UM E OUTRO, MAIS OUTRO E UMA

 

Chegaram, quando o dia minguante gozava a sua sesta de luminosidade vasta.

Roía olhos e resquícios de sonhos como turbulento almofariz de cor alaranjada

Havia por ali rostos ansiosos no porvir.

"Um e outro, mais outro e uma" esgrimiam teses de “ses” aflautados nas vozes mimosas.

Quero ser…

Só quero tostão…

Astronauta é o que vou ser…

Mas tu és uma rapariga…

Podias ser médica e mãe…

Não há futuro nem posso ser mãe…

Somos crianças rastejando nos sonhos dos alquimistas do futuro.

Eu sonho a minha liberdade com o outro…

Eu sou a uma e sou amor no meu outro…

A noite chegou com meteoritos riscando a escuridão.

Não havia sombras pois não havia luz.

Por momentos a lua esgrimiu o seu meio olhar

Que pediria ela que eu não pedisse e o outro se deliciasse?

“Uma” amava pela primeira vez indiferente aos ecos do pecado…que sentiu o “outro”?

Um bocejo fê-los fechar os seus olhos pesados

e o sono caçou-os quando as estrelas se ofuscaram 

cantando seduções ao novo dia que aí vinha.

 

 

Jorge d’alte

 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

BULLYING

 


Naquela noite
como mensageiros da desgraça
apareceram os lobos.
As fauces sorriram
as palavras morderam
e o sangue espichou.
Pelo menos assim pareceu,
pois traziam peles de cordeiro,
e no chão entre espuma de ódio
e ventos de fúria,
o corpo rolava ao sabor do pontapé.
A garra filou-se no cabelo que puxou
arrastando esse despojo
pelas amarguras do chão,
com unhas arranhadas, desfeitas no desespero.
Quem apanhava não gemia,
quem gemia olhava
e a voz incentivava escondida pela câmara.
A alcateia espreitava!
Os despojos estavam prontos para o repasto
e o facebook foi o prato em que foi servido.

(É tempo dos comentários e tantos eram
que caiam em cataratas de imbecilidade.
O pessoal adorou e vieram os doutos satisfeitos -
“Isto mostra que há diálogo entre os jovens” – obsceno!
Outro –“ podemos estar ou não perante um crime”
Desenrolaram o tal filme onde a lei estava,
mas a justiça?
Essa perdera-se no meio de tantas vírgulas e pontos.
O travessão foi o último para sublinhar – não há!)

Exclamem todos agora – Oh!


Jorge d'Alte

JAMAIS!

 

 


Entrei no silêncio da sala

O olhar dormente abafou

os passos que a medo dei.

A cadeira agora vazia, já não fala

teus olhos não me afagam quando lá estou

ai mãe que tanto amo e amei

diz-me porque o tempo te levou.

Só nos sonhos te continuo a ver

calo o teu beijo cá dentro da alma

essa canção que sempre me embalou.

A saudade soa no que estou a escrever

linhas do teu amor que me acalma.

Sentei-me ali no meu lugar

senti as lágrimas cá dentro caírem

já não rolam no meu rosto perdido

vieram doridas para cá morar

Mexo os lábios sem palavras a saírem

mas tu escutas o meu coração sofrido

Sorriste-me sem voz, para me sarar

feridas e dores que me enlouquecem

Dá-me a tua mão uma vez mais

fica aqui a meu lado para te escutar

palavras lindas que não se esquecem

não te quero perder, jamais!

 

 

jorge d'alte

terça-feira, 1 de setembro de 2020

LÁGRIMA

 


Não sei de onde venho
louca de dor ou alegria saltei
impulsionada por vontade de um sentir
e em vão suspirei
porque agora corro pela face em desenho
e deste destino não pude fugir.
Como pérola ali fico suspensa
como gota de orvalho que morreu na madrugada
e nesta agonia intensa
o calor me seca agora como dor apagada.
Num repentino súbito de novo corro
agora sei de onde venho
sou grito de socorro
sou alegria que não tenho
brilho no canto deste olhar
como ave a pairar
e agora desço de novo lentamente
como quem não sabe para onde ir, nem o que sente
e como mar salgado
numa onda de ternura esmoreço
um dedo de amor dado
me pára no caminho que conheço
murmuram meu nome com suavidade
e com vaidade
soletro-o de novo no eco L- á -g -r- i -m -a
LÁGRIMAAA!


Jorge D'Alte

DESESPERO

 



Rasguei essa lua no auge da raiva,
noites que me enfeitam a alma agora no desespero.
Clamo na sombra esguia a tua chama,
- Maldita seja a brisa que te apagou!
Arranco à terra tufos de dor rouca,
ergo-os aos céus banhados de ranho e lágrimas,
essas sentidas da nuvem amarga sufocadas no fel que ficou.


Jorge d'Alte