domingo, 20 de setembro de 2020

O PAI!

 

O Pai!

Filho, vês os olhos como eu vejo?
Criei um Éden cheio de maravilhas e Criei Ela para lá viver.
Não comas a maçã que te é oferecida em luxúria pois a luz alternará com as sombras e estas trarão maldições e o fim da eternidade.
O corpo corria lesto atirando a sua sombra em todas as direções.

As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções.

A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido. 

Até ali nunca houvera Tempo.

O dia começara numa qualquer madrugada....
A caverna sempre escura era iluminada pelo fogo dos deuses que nascia da pedra da terra aquecendo-a e iluminando-a.
Em volta o fumo azulado assobiava quando tocava na brisa e chispava aborrecidas faúlhas que voavam e cobriam aquele chão de negro.
Figuras sentadas escutavam as falas nos deuses e o feiticeiro ditava a sua lei.
Ele o mais novo de tenros anos doze fora o escolhido.
Ela de onze seria a sua deusa quando casassem.
Fora escrito nas estrelas e quando estas, no céu de breu se juntassem, casariam.
Quantos anos tinham decorrido desde então?

Ele puxava pela memoria mas esta não respondia.

Como podia  se o seu corpo estava enfeitiçado embrulhado nos fumos e drogas de sonho e o brilho das suas pupilas dilatava-se como faróis.

Sabia que tinha de ser sem o saber.
A seus pés, Ela estava deitada arfante e desejosa em cima da folhagem verde e fresca que servia de leito.

O som que soltou sobressaltou-o, sentindo de imediato aquele arrepio pela espinha acima entesando-o e o desejo sorriu quando retirou a tanga que lhe envolvia as partes escondidas. Ela suava feromonas que atraiam ferozmente os sentidos dele.
Caiu sobre ela envolvendo-a no abraço sorvendo na saliva o mel.

Era abelha pousando nos lábios da flor. Suas pétalas como braços apertaram-no no amplexo e agora voavam para lá das estrelas  pairando, lá naquele céu onde os anjos voam.
O som da música ritmava o seu ardor cada vez mais rápido cada vez mais desejado e os seios dela cresceram duros de mamilos e a pele derretia-se numa cama de suor ardente e gélido.
Agora cavalgava numa longa pradaria tendo como fito a montanha que crescia nos seus olhos e dentro dele.

Sentiu as garras dela como falcão caçando no seu dourado. 

Sentiu o sangue correr nas veias como alimento.

Sentiu-o também brotar dos longos rasgos no seu dorso.
Voou com Ela siando no ar quente.

Rodopiou em acrobáticas voltas e subia a montanha de novo numa cavalgada sem fim como garanhão implacável.

No alto atingiu o céu desfazendo esse leque de estrelas como pedra que atinge o charco num xaile ondulado, num momento a dois que era dela e seu.
Fechou os olhos arrastado no gemido sem fim que lançou, agarrado e foram como sinos tocando badaladas de desejo.
O lago de suor era a sua cama onde nadava nos beijos. 

Seus   lábios eram poesias sempre belas nas palavras.
O sol rasgava a madrugada cantando a boa nova dele e dela mas na caverna parca iluminada os sonhos navegavam à deriva no sono.
Eram deuses no Olimpo  e a Terra era deles.
O corpo corria atirando a sua sombra em todas as direções. 

As mãos tentavam agarrar o tempo que fugia como areia fina escorregando cheia de grãos de emoções.

A boca aberta arfava o cansaço que saia em lufadas de ar morno e húmido.

O dia começara numa qualquer madrugada, mas era das sombras da noite que caia que ele tinha medo, por isso fugia....
O Pai decretara a lei. 

Nunca mais haveria eternidade de vida no Éden, pois o pecado acontecera e para a alcançar haveria nascer, vida, morte e eternidade....


Jorge d'Alte


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