segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O BARCO DE ESCRAVOS

 

........... O barco pesado, de grossa madeira de castanho, baloiçava suavemente  na ampla baía de águas esverdeadas e límpidas.

Ao longe onde a água abraça a areia quente num amor sem igual  os quatro amarravam o escaler vermelho. As velas descidas  de cruzes garridas estrebucharam num golpe de vento....

Toda a viagem tinha sido assim ao sabor dos caprichos dos Deuses e a fome chegara e com ela as doenças, as pragas malditas e as orações...
Por entre a folhagem densa que marginava ordeira amparando as areias da bela baía, olhos abriam-se desmesuradamente num misto de incredulidade, de medos, duvidas angustiantes e de vontades....
0 assobio partiu disparado dos lábios e subiu recortado nas folhagens ramacentas do denso arvoredo.

Encontrou ouvidos que escutaram e um novo assobio rodopiou e voou em tom de desespero refratando-se nos inúmeros ouvidos que encontrou pelo caminho.
A balburdia estalou como ossos artríticos no seio da aldeia.


Jorge d'Alte


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