quarta-feira, 23 de junho de 2021

ESPERAREI

 

Esperarei por ti em cada por do sol

Derramarei lágrimas pelo teu beijo

Sofrerei pelo ensejo do desejo

Terei tristezas em passo de caracol

Percorrendo e corroendo a alma.

Definhado darei a mão á tua saudade

E sentado, nessa paz calma

Reencontrarei o mel dessa amizade.

 

 

 Jorge d'Alte

 


segunda-feira, 14 de junho de 2021

AS ASAS

Sentado na tristeza baça
Olhava a chávena de café branca
Ainda com laivos efémeros de vapor
Seus bordos castanhos lembravam cabelos pingando
Ela, era como ela, divertida e colorida
Quem a olhasse de frente via
A asa direita desprendida da vida
Com uma dedada de pó
Desleixada, acabrunhada pelos anos
Peguei nela desafiante e rodeia, girei-a 
Como um pião na minha mão
OH my God! - exclamei
Vista detrás a sua asa esquerda 
De curvas elegantes  como que segurasse a cinta
Parecia manear qual modelo
Ela era a diversão a rebeldia, mas também a vida
Olhos estranhos os meus
Sempre nos sonhos perdidos.
O copo beijou os meus lábios
Frio e altivo cheio de prazer
Esbocei um sorriso corrosivo
Já de pé, segurei a sua asa e voei.


Jorge d'Alte








quinta-feira, 10 de junho de 2021

PREMATURO

 

 

A Lua mordida brilhava no seu quarto
Era a testemunha!
Num recanto recôndito entre a flor e a folha
Sombras suavam deslavadas na alvura
Estavam agitadas na noite sem brisa
Como searas endoidecidas na ventania
Costas encrustadas na areia que picava insensível
Beijavam como beija-flores mamando
O néctar devia ser bom
Pois as palavras caídas eram doces, efervescidas
Rolaram agarradas soltando-se entre gemidos.
A nuvem cremosa acorreu esbaforida
Tapou os olhos da Lua, sua perdida
Também ela era testemunha.
Vai ser agora, murmuravam quietas árvores, arbustos
Até a flor que no alvor se abria.
O sol veio lampeiro na ajuda aquecendo.
Na areia junto á rocha e ao monte
A mãe aconchegava o prematuro.
 
 
Jorge d’Alte

terça-feira, 8 de junho de 2021

CINDERELA

 …e você seria, senhora do sol e da lua,

se eu fosse rei.
…isso seria uma coisa bela!
Trevas ressoam na passadeira vermelha
enquanto se enche esse sapato com um pé
…serei a tua Cinderela
…eis o que farei!
pele despida e crua
cai no rebolo da alvura
acende uma centelha.
…Príncipe o que é?
…Monta este cavalo alazão!
Desfilada agreste entre sons de estrelas
o fugaz entrechocou
o desejo mais a emoção
essa tensão que se quer dura
que rasga as entretelas.
Já passada, sem fulgor murchou…


Jorge d'Alte

quinta-feira, 3 de junho de 2021

INDEFESO

 Não havia rostos sem lágrimas

Lágrimas pequenas secas ou molhadas.
Angústia, medo, raiva, perdição, revolta havia
Na frase de súplica de uma jovem criança.
"Mãe dá-me uma faca para espetar no coração"
Era o mais pequeno da turma, uma vitima
E o bullying desgarrado, atormentante e fétido
Caía  desmedido no indefeso.


Jorge d'Alte