segunda-feira, 24 de agosto de 2015






Era uma gaiola o que me prendia
Construi-a no dia a dia com os nossos sonhos
Alimentei-me de sentimentos, feridas, ilusões e mágoas
Vendi desilusões como prostituta por esquinas, bares e travessas escuras
Sonhei formigueiros de estrelas e luas nuas de faces negras
Deambulei por labirintos de sorrisos cheios
Mal sabendo que fio da vida de tanto esticar se romperia
Agora pasmo na imensidão da liberdade onde tudo é possível
E por ser possível quero o impossível
Voltar à minha gaiola e viver.

Jorge d’Alte







sexta-feira, 21 de agosto de 2015

PECADO



















A maçã rolou pelo chão macio de sedosa pele
Foi tentação quando os lábios se tocaram e foi seio
De picos erguidos e despidos roçando o céu do peito com gemido
Cabelos caíram como cachos maduros cheios de inebrio
Sufocaram o olhar agora perdido para sempre
Nas esconsas trevas caídas do pecado
E os anjos subiram indignados lamuriando
Levando ao Alto as palavras da nossa desdita
E o paraíso antes anunciado virou inferno castigado
Onde o calor entre corpos proibidos
Criou beleza e sonhos                                                                   
Amor, dor e felicidade
Antes de chegar a machadada da morte.


Jorge d’Alte




domingo, 16 de agosto de 2015

VIDA E MORTE




 
O sol nasce quando a noite se despenha e morre
O dia desponta com sorrisos e a vasta escuridão cai e engole
A madrugada madruga quando as sombras se vão
São metamorfoses da vida
Que nos empurram inexoravelmente
Até ao limbo da morte.



Jorge d'Alte





sábado, 8 de agosto de 2015




Quando as noites caem longas
e as sombras choram o que foram
enquanto a solidão nos veste de farrapos de tristeza
e o ânimo esvaindo se esmorece
como freio puxado com furor
Desperta de novo em ti essa semente
torna-a num novo sonho que te alimente
cria asas de voo em tempos desiguais de ventos
revolta-te aguenta e resiste
Por vezes tudo parece errado
mesmo o sorriso que está ao teu lado
mesmo quando o corpo resignado se entrega
à dor que nos esfrega por dentro
não desistas!
As ondas que sentes rugindo a teus pés
são tormentos nublosos como a mente só
e as velas que se incendem como memorias
são estrelas que contamos de vida e pó
Quando a solidão te apertar
e o soluço se  soltar como cavalo desenfreado
não resignes a alegria na vida
mesmo quando a sentires perdida
Eleva tua canção de nostalgia com amor
despe esses farrapos de tristeza com fervor
recebe a mão amiga como alvorada que te acaricia
esboça o sonho e o sentimento como novo jogo
não soltes essa mão que te abriga
oh não!
nunca desistas!

Jorge d' Alte

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

PORQUE MORRESTES SONHO MEU








As peles enroladas como lençóis de seda suada
Gemiam como ondas sufragadas na paixão.
A cara não tinha corpo, como o corpo não tinha alma
Mas o coração era fogo aqui mesmo devorando teu corpo de lava
Derreti todos os sentires e moldei-os com lábios e seios
O abismo abriu-se tragando o tutano entre púbicos enlaçados
Caí!
Voei!
Asas translúcidas e coloridas como bolas de sabão....
Tentando agarrar o sonho fugidio com o sabugo das unhas
Abri feridas rasgando peles como trapos velhos traçando rasgos vermelhos
Senti esse sangue quente gelar o meu peito quando atingi
Nunca soube porque morreste sonho meu quando o céu estava mesmo ali
Quando tudo o que sonhei não aconteceu
E de olhos abertos me perdi de novo
Mordendo a madrugada com a raiva engasgada
Molhando meus olhos com gotas frígidas de orvalhada
Cavando nas faces doridas ravinas e abismos de desespero
Porque o sono trouxera o sonho e o sonho fora meu e só meu
Me dera de mão beijada o perfume desses anos adolescentes
Esses sorrisos macabros e perdidos que agora me doem
Essas gargalhadas de outrora frescas que se esfrangalham na memória
Esse calor perdido no gelo da vanglória
Que foi amar por amor o amor de amar!

Jorge d'Alte