quarta-feira, 4 de maio de 2022

A CRIANÇA

A raiva cerrava dentes 
cegava olhos
Estava ali amordaçada
pasmando o que vira.
Atrás no tempo a criança
loira de olhos zulados correra
a bola estava mesmo ali armadilhada
matando-lhe o sorriso; não restara nada.
Sofri na dor
na oração rezada
Era filha de alguém
de alguém que a amara
que a ensinara a sorrir
que a afagara
que beijara as primeiras falas
Quem era esta criança quem amara
Talvez a garota que chorava ali
que secara seus olhos
estendera as mãos ensanguentadas
e caíra de joelhos.
A dor afagava o vazio que ficara
embaciara-me os olhos
e a tristeza gritara
porquê?



Jorge d'Alte








segunda-feira, 2 de maio de 2022

POR ISSO

A madrugada é ladra
Rouba-nos a magia da noite e os sonhos
atira-nos à realidade
enche-nos a alma de coloridos
esplendorosos sentires
mostra-nos a vida tal como ela é
feita de sementes, nascimentos,
florires e sorrisos e cresceres.
Eu não quero viver o dia
não quero envelhecer na velhice
Quero a noite e as suas sombras
quero-te desenhar no lusco fusco
quero-te sentir ao meu lado
mesmo como desejo frustrado
e deixar lá atrás o sofrimento da desilusão
a solidão da tua partida.
Amo-te como única estrela do meu firmamento
Por isso os olhos baços vêm-te
Por isso deixo meus dentes brancos no sorriso
Por isso te espero sentado na nuvem
ligeira que ruma ao teu  encontro.


Jorge d'Alte