quinta-feira, 24 de julho de 2014









À noite na cama
olhando no tecto
esse olhar que desenho
como vírus infecto
minando-me a alma.

Franzi o cenho!

Olho meu lado
onde mora a saudade
apalpo esse frio lugar
vazio de abandonado.

Para onde foste morar?

E a pergunta rói
num corpo que padece
inconformado retirei
essa coisa que dói
e como prece

Safo o rosto que desenhei!



Jorge d'Alte









sábado, 19 de julho de 2014





Hoje acordei cinzento
sem imagens nos olhos
sem carícias nos dedos
com a sombra esquecida na voz
e um nevoeiro gélido na alma.
Há dias assim
na vida de um homem,
sem malmequeres a abrirem-se
inglórios esquecidos de alguém,
borboletas sem asas remetidas ao casulo                   
mariposas nos bicos de pássaros desasados
debatendo-se no atroz sem remissão.
Coração arrastado em pedras de cascalho,
peles esfoladas até ao tutano
no suplicio da dor.
Deixei por aí rastos sem cor
perseguidos por adamastores
gritos de náufragos noctívagos
e gorgolejares de morte.
Estive assim o dia todo
de cinzento revestido
como meio morto.

(Tudo porque acordei cinzento e não azul)                  



Jorge d'Alte




sábado, 12 de julho de 2014







Dama de róseos mates
de orvalhadas caídas
no desluar das sombras.
Grava nos sonhos escarnidos
o nome que não tens
que um dia no vislumbre
do deslumbre,
por mim inventei!

(Toques macios na crua carne

Frígida de perenes gelos)


Jorge d'Alte

terça-feira, 8 de julho de 2014







Deram-me uma deusa
com boca dourada e olhos de prata.
Deram-me um corpo de linda filigrana
com voz de cristal e pele de seda,
oca e vazia dos pés à cabeça.

Disseram-me - é uma princesa!

Chorei na minha birra o sonho frustrado!

Afinal queria uma mulher
com boca de rosa e olhos apaixonados.                   
Queria um corpo franzino de lindo moreno,
com voz meiga e pele suada,
que de amor se enfeitasse dos pés à cabeça.

Disseram-me – é uma camponesa!

Chorei quando a abracei, depois de a ter amado!


Jorge d'Alte