sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O ÚLTIMO MOMENTO


Sinto
a agonia do alento
a força vencida gemendo.
Pinto
de olhos fechados sem tento
este roer insidioso que me vem comendo,
tornando os segundos mais pequenos,
tirando o presente ao futuro
em pôr-do-sol serenos,
encostando a minha vida contra esse muro.
Revejo-a em alta velocidade,
como filme proibido repassado
e aquilo que construí numa eternidade
resumiu-se a um efémero bocado.
Baço
é a minha visão esvaindo-se
no agora, para lá do além.
Faço
vejo meu amor, teus olhos chorando sorrindo-se
e levo-os comigo também.



jorge d'Alte

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

NADA É LINEAR








Se a vida não fosse um chorrilho de imprevisibilidade,
se o nosso coração não nos fintasse quando menos esperamos,
nunca estaríamos no degrau seguinte.
Mesmo quando achamos que conhecemos por fim a felicidade,
a próxima esquina pode trazer-nos,
a surpresa muitas vezes indesejada.
Nada é linear!


Jorge d'alte


terça-feira, 6 de novembro de 2012

ERA MADRUGADA














A madrugada estava zangada,
crescera cinzenta em rolos de névoa.
Estendi os braços aos céus
tentando rasgar esse denso véu
que me aprisionava na solidão.
Caí de joelhos na mágoa sentida.
O céu estalara como alma minha,
deixando cair estrelas douradas a meus pés
desfeitas e sentidas, escorrendo pelas fendas abertas
roendo a terra virgem, onde nada germina.
Clamei pela brisa, gritei pelo vento,
respondeu-me a tempestade desabante
deixando o lamento nos lábios secos e gretados.
Se havia dor, estava entorpecida.
Se havia vazio, onde estava o silêncio?
E as pérolas juntavam-se
num colar translúcido que me sufocava.
Era madrugada, mas não havia um novo dia.


Jorge d'Alte