terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O TLIM



O tlim caiu no boné pousado no chão,
como pinga chuvosa que dá vida ao solo.
O cheiro de pão fresco era outro som,
que redemoinhava cá dentro,
como gases num estômago vazio.
Algures numa qualquer abadia,
o tlim era barulhar de talheres.

(que esta refeição, seja repartida pelos pobres deste mundo)

Lançada a bênção numa imaginativa cruz,
Contente, o abade, mais o padre mais o bispo,
escorriam baba incontida no guardanapo,
em bochechas tintas do inebrio.
Na cidade das decisões, o tlim tocou noutro tom,
entrou num bolso roto
que a ganância furou.

(Luvas e sacos verdes inventou)

Sonhava megalómano TGVs e afins,
ficar na história como o herói da altivez.
O banqueiro, esse tlintava esfregando as mãos.
Tantos tlins que choviam mas que não molhavam o chão,
caíram como rios inundando contas.

(Spreads, juros e penhoras ordenou)

A puta da rua escura o tlim colheu.
Meteu-o no meio de mamas e assim cresceu.
O fisco que se foda, pois aqui quem fode sou eu!

(Hiv, siflis e outros pratos serve sem qualquer controlo)

O maroto do tlim não mais tlintou.
O boné vazio, o pobre olhou.
O abade benzeu-se, o diabo do tlim bazou.
O político danado ao tlim decretou.
O banqueiro para tlintar, juros aumentou.
A puta de pernas abertas ao tlim blasfemou.
Por fim o tlim foi-se como veio,
já não é som que tlinta,
agora é remedeio na barriga aflita
e a mão estendida, é toda uma nação.
Porque um dia os políticos acordaram,
gostaram deste som e enfardaram
e tlim para ali e tlim para acolá,
e agora a merda do tlim, já não há.

jorge d' Alte


sábado, 21 de dezembro de 2013




A lágrima que cai célere, desesperada corre!
Escuto o sonho do seu sussurrar
que caindo de ravinas, tropeçando morre
na serenidade agitada do imenso mar.
As ondas espumadas se encarregam então
de levar em queixumes o seu desabafar,
palavras tremulas e roucas cheias de emoção,
abraço sentido,luxúria louca, sedes e paixão de amar,
trazendo na névoa que inexoravelmente cai,
a silhueta desenhada com ecos de coração,
deixando ali na areia, de pé na espuma que se vai,
tua face ardente; ais de desejo, ecos de trovão
e a tua alma como gota aberta fremente, sôfrega e terna.
A brisa traz-me o teu sabor no cheiro de maresia
e nos olhos que me olham vejo a luz eterna
de um amor que me envolveu e amou como anestesia.
Colho a tua lágrima quente na palma da minha mão,
beijo-a como sedento desejo, sorvo-a como alimento.
Agora é som que cá dentro canta notas dessa emoção
cristais de ti que choram em ais feitos de sentimento.
Quisera eu ter sido o "eu" que tu um dia imaginaste,
não ter sido a besta,a sombra de uma mera ilusão.
Te tivesse querido e amado como tu me amaste,
na noite caída, como lava ardente, expelida desse teu vulcão.


Jorge d'Alte







domingo, 15 de dezembro de 2013

DEUSES





Há Deuses nos céus,
eternidades cruas sem rosto.
Paraísos condóminos
como obras de sete dias.
Anjos que perderam asas no vermelho,
anjos que são luz branca, que não se vê,
guardas que viram a cara
da destruição eivada de negro.
Peões movidos por fios,
somos nós!
Risos parvos de imbecilidade,
movidos a belo prazer
por uma qualquer divindade.
Choros de não sei de quê,
fés espalhadas em esperanças,
preces ajoelhadas para quem?
Chamam-lhe religiões!
Arquitectos de um inferno
debruado como éden.
Há Deuses nos céus
pés de barro do morfeu
ao sétimo dia descansado.


Jorge d'Alte





domingo, 8 de dezembro de 2013

AO PÉ DO TÚMULO




Ela era pois já foi
amortalhada na primavera.
Foi saudade que restou,
lágrimas que choram o que dói,
o que foi o que era,
por isso aqui estou!


Jorge d'Alte