domingo, 26 de dezembro de 2021

O MEU LAMENTO

As sombras que caiem por aí
são farrapos dos sonhos que não vivi
são grãos de tristeza e melancolia
é a solidão que me angústia 
tornando meu coração num elo apertado
onde suspiro e inspiro meu veneno acerado.
As lágrimas  vertidas se foram
molhadas, atadas ficaram
num qualquer cais de meio vento
onde as palavras redemoinham como cata-vento
sem apontarem o rumo 
e os olhos caem a prumo
cavando na alma meu nicho de sofrimento.
Grito, oro, tento agarrar o ar, sou o meu lamento.


Jorge d'Alte

domingo, 19 de dezembro de 2021

MELHOR AMIGO

Nos caminhos de Lua 
passeei os meus pensamentos
passos diferentes até onde a memória jejua
recordei-a em diferentes andamentos
tempos onde tudo era belo 
e os sonhos eram balões que agarrávamos
mas tu melhor amigo foste mais que um sonho
um elo de amor e amizade sem paralelo
disfrutamos caminhos que desbravamos
com sorrisos até ao dia tristonho
De olhos vazios te vi em rosto sem cor
por ti desfio nesta vida meadas e meadas de dor.


Jorge d'Alte

domingo, 12 de dezembro de 2021

CONTO

                             Ele era o Luís e como tantas crianças sonhava e nessa mesma noite nas meias voltas do sono, sonhou o que fazer neste natal, com dez anos para ele e para os seus três amigos do coração.
Dantes costumavam ajudar os mais idosos a atravessar as ruas mais difíceis ou a levarem as suas compras até essas casas sombrias, cheias de degraus e bolores.
Estavam no quintal em redor da sua tão quentinha fogueira enrolados nas mantas grossas. De vez enquanto caiam floquinhos de neve que se esfumavam aos seus pés.
A decisão caiu com o sino da aldeia a dar as seis do entardecer.
Despediram-se levando a esperança e a alegria no olhar, pois não ia ser fácil convencerem os seus pais do que se propunham fazer e por isso a ansiedade tomava conta deles.
Foram três longos dias de negociações.
As aulas estavam em repouso deixando os rapazes entusiasmados na festa que se avizinhava, o Natal.
Um pouco contrafeitos os pais anuíam num meio sorriso, por outro lado orgulhosos dos seus meninos, no outro preocupados com a sua segurança.
No ermo da aldeia vivia a pessoa mais pobre de lá, com a sua filha de sete anos, a Renata, e os pequenos queriam fazer-lhe uma surpresa e a sua boa ação anual.
A noite estava fria mas de deslumbrante luar. A neve tinha-se acumulado nas vãos da estrada e nos telhados e eram pingentes de gelo cristalino nas pontinhas dos ramos das árvores seculares.
Meio envergonhados caminhavam os pais vestidos de pastores. 
O pai do Francisco levava  á reata uma linda cabrinha. Os outros pais, do Serafim, Pedro e Luís levavam nas suas mãos forradas com espessas luvas de pele, lanternas de petróleo acesas  que iluminavam o caminho de pedras angulosas e gastas. No meio deles e radiantes iam as mães e as crianças, transportando elas sacas com viveres para a consoada e as crianças livros, lápis aguarelas, pois sabiam que ela gostava muito de desenhar, colorir e pintar e uma boneca.
Chegaram por fim ao termo da aldeia onde numa pequena elevação se alcandorava a casa pequena de Dona Deolinda e sua filha.
Luís abanou os chocalhos que levava nas mãos, três de vários sons, ao mesmo tempo que  Francisco batia suavemente mas decidido na fraca porta.
Pelas vidraças uma pequena luzinha tremeluzia.
A cabrinha foi atada a uma pequena argola de ferro fundido que havia na parede da casa.
Foi a pequenina Renata que abriu a porta secundada por sua mãe.
A surpresa foi de tal ordem que dona Deolinda não sabia o que dizer ou fazer, por isso chorava.
Renata gritara os nomes dos seus amigos de escola e correra para eles abraçando-os. Tinha perolas nos seus olhos lindos e um sorriso tão doce e cativante que desenhara no rosto de cada um, um cacho de imensos sorrisos e emoções.
Entraram na salinha onde havia um grande aparador bichado na idade, uma mesa retangular com quatro bancos longos. Junto da única janela um sofá azul coberto com uma colcha rendada e uma pequena lareira de pedra tosca enegrecida pelo tempo e adornada com um pequeno pinheiro com enfeites feitos pela Renata, em volta do qual foram colocados os presentes.
Na cozinha espaçosa uma bancada de pedra clara um fogão de ferro a lenha e uma lareira de pedra granítica, onde se inflamavam labaredas quentes e tições de carvão ardentes.
Em seu redor dispunham-se os utensílios necessários, bem limpos.
O chão de granito puído estava limpo e lavado e numa pequena caixa forrada, um gatinho todo cinzento olhava para eles com os seus olhitos arroxeados.
O aparador estava repleto de iguarias natalícias para a sobremesa.
Na toalha de tons de verde dispunham-se os lugares dos mais velhos, já a pequenada sentada no chão com pratos nas pernas, iam comendo a ceia de Natal.
Polvo cozido comprado no mercado de Matosinhos pelo pai de Luís, batatas e verduras da aldeia e ovos de Dona Deolinda, enchiam os pratos. Seguiu-se uma sobremesa de rabanadas com mel, filhoses, e um bolo de chocolate.
A conversa atordoava o silêncio que quase sempre imperara nessa casa, mas era do grupinho dos mais novos que o ruído crescia entre gargalhadas e as habilidades apalhaçadas de Pedro e a voz de Serafim trauteando "um Bom Natal para todos".
Por fim a meia-noite badalou no sino da aldeia; era a vez de Renata abrir as suas prendas.
A voz não conseguia conter a sua alegria e beijava as faces rubras de cada um dos seus amigos, agradecendo-lhes e desejando tudo de bom para eles.
Com a batida da uma da manhã foi a debandada seguindo cada um para as respetivas lares, mas antes iam assistir á missa do galo.
Deitado no seu leito quente, Luís revivia passo a passo os momentos que vivera, mas o seu coração estava cheio da plenitude do que tinham feito e adormecera no seu sorriso, com o sorriso de Renata encostado ao seu.
Este fora a melhor prenda de Natal que recebera, a Alegria e o Amor que vivera.


Jorge d'Alte


segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

PRESÉPIO

Os camelos levavam os magos afagados nas suas vestes de oiro
traçando nas areias a ansia do amor ao Deus menino.
Lá no alto a estrela crescia bela e quente levando-os ao próximo futuro.
Viram pastores de joelhos orando
viram-nos levando oferendas
e viram o casebre onde a estela pousara raiando.
Os anjos cantavam trazendo o céu até á terra.
O menino nasceu na badalada da noite meia
Ajoelharam-se com as suas coroas de reis
Ouro, mirra e incenso  depositaram aos seus pés.
A noite fria era quente entre os bafos dos animais
Maria e José sorriram
trazendo para sempre  ao mundo Alegria.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

RECORDAMOS

Só por te dizer que te amo 
o meu mundo torceu-se num esgar
de dúvida, alegria, não sei.
Como beija-flor beijamos os lábios
como marionetas dançamos na pele
percorremos um céu esfumado
como anjos abraçados
e os bebés choraram um de cada vez.
Chamaram nossos nomes numa tarde
curtiram de mãos dadas uma noite.
Ficamos só no apogeu dos carinhos
e á beira da lareira num lindo sorriso
recordamos.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O TEU NOME

A tua estrela espelhava num lago 
cheio de estrelas com rostos afogados
numa visão deliria.
Minhas mãos moldavam nesse barro estelar
bocados de sonhos para lhe dar um rosto
um corpo. A água de pó escorria 
como só as lágrimas sabem escorrer num amor.
Moldei-te com alma e emoção
deixei os rasgos de alegria que sorriram os teus lábios
e na pele que te vesti inseri-te o sentir e o desejo
Depois com um movimento perfeito
escrevi o teu nome e chamei-te.


Jorge d'Alte

EMOÇÕES

Percorri o leito do meu rio 
tentando encontrar em cada pedra 
as lágrimas do meu caminho.
Levantei-as uma a uma
amontoei-as dentro da alma
as alegrias, as tristezas
o beijo e o desejo
o amor o carinho
a chegada e o adeus
e tantas outras emoções
que o tempo não trucidou.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

O MEU NATAL

Quando era miúdo o Natal trazia-me a árvore
As luzes faziam-na crescer nas pupilas dos meus olhos
e ficava ali sentado mirando o presépio 
alcandorado em falésias inventadas. 
As figuras gélidas cruzavam ruas verdejantes de fofura, sem gestos
mas a adoração caia sempre no menino em palhas deitado.
Como magia cresciam presentes coloridos com o nome de todos
e na meia dependurada eu sabia que  estava o destino.
Meditava e ainda medito
no significado de tudo isto
nas emoções que sempre sinto
naqueles que já partiram juntando-os como dor no coração.
Algumas vezes a dor foi mais forte
mas as lágrimas lavaram a alma e repuseram essa calma
que hoje nos anos muitos divido com filhos e netos e alguns amigos.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

MELANCOLIA

Que saudades tenho
de correr ruas de paralelo
com o arco e a gancheta
de jogar á espada e ao berlinde
de ir tomar banho ao douro
de vermos as meninas na macaca
saltando ás cordas e ao elástico
das partidas que lhes pregávamos
na noite pingada como gatos pardos
das mensagens atiradas á janela delas
Que saudades da primeira mão dada
na escola cantando e á bola
Do primeiro olhar e do sorriso dela
o primeiro beijo e do leque de sensações que abriu
os primeiros sonhos de adolescentes
ir ver os "tubarões" ao rio nas noites de luar e sem luar
Olho as crianças de agora 
brincando. Franzo o senho
outros tempos que lhes vão trazer saudades um dia
num dia melancólico como este.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

CARÍCIAS DO DESEJO

Nasceu uma lua ontem
inda as sombras não dançavam
trazia uma gola de alvo luar
e um vestido que no ar se esfumava 
mas não tinha o teu sorriso
nem o teu cheirar
era apenas mais uma noite 
uma noite de luar.
Encontrei a tristeza e a saudade
e enleei-me nas lágrimas por chorar
fui sentar-me no penedo virado ao norte
perscrutando o outro lado desse mar
esperando que o vento me trouxesse
as carícias do meu desejo.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

MEU AMOR POR TI

No centro do silêncio 
o ruído esmorece de morte
escuto-o com o coração e potencio
a amarga dor consorte
que me fere a alma
que nunca se acalma.
Os olhos riem-se em desventuras
e as lágrimas falam sem voz
talvez por serem imaturas
cantando apenas a dor atroz
que  queima a alma
que nunca se acalma
Silêncio torturante esmaecido
grita na noite meio escondido
O meu amor por ti
o que eu amei em ti
tudo foi perdido
deixando-me prostrado na berma, estarrecido.


Jorge d'Alte

SONHO ESTRANHO

O outono dos mil tons, das folhas voando
faz crescer o inverno dos frios desgarrados
das tormentas chuvosas e da alvura da neve.
A lareira cheia de lume aquece os corpos
deixando-os sonolentos, sonhando.
Ela estava ali mesmo á mão, penteando-se
depois do sabão. Pele alucinada pelo perfume
tragava as palavras que não saíam dos seus lábios
de rosa. Ela era eu no espelho e eu amava-a 
como a mim mesmo com vontade indomável de a beijar.
O sonho crescia no meio do vapor da água quente
fugidio como sonhos, inalcançáveis 
como a água que por mim escorria e pingava
As lágrimas saltaram quando tu vieste da névoa
Sebastião da minha vida.
Sorrias tu, sorria eu
e no teu sorriso eu te beijei.
O sonho acabara quando me levaste ao colo
me depositas-te no chão e nós nos amamos
junto á lareira cheia de calor, no meio da neve gélida
deixando os tons de inverno e as folhas para trás.


Jorge d'Alte

sábado, 13 de novembro de 2021

O TEMPO

 


O tempo está sempre em expansão
Se o tempo fosse retrógrado
morreríamos 
morreríamos no momento de nascer.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

O FIM DOS TEMPOS

Olhei este céu
A chuva já não cai
A lua não se vê
A neve já não é branca
antes uma mancha pardacenta
roendo as montanhas.
O frio come-nos os ossos
queimando-nos como bifes
Tudo é silêncio porque o vento já não brisa
apenas as memória do que antes era 
do que sempre fora e já não é.
Olhei este céu e não vejo as estrelas parindo
como não vejo os arco-íris
muito menos o pote com moedas de ouro.
Para que serviria?
Digam-me lá?
Se já não há cidades nem mercados
nem lares nem famílias
apenas nos resta esgravatar a terra 
e comer os bichos como galináceos
Lembro-me dos ouvidos moucos e dos olhos cegos
que na ganância dos dinheiros e do poder nos lixaram.
E foi assim que tudo terminou
a Terra enraivecida purgou
escureceu
ferveu lavas
e a água mingou
as guerras vieram prazenteiras
cheias de morte
ao deus dará
deixando-nos neste paraíso outrora azul
lixados entregues á nossa sorte.


Jorge d'Alte










quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A ÚLTIMA FLORESTA

Sou a árvore mais antiga  
o rei da floresta
Do meu alto canto a cantiga
ao sol que me cresta.
Vivi no limbo da Terra
crescendo, amando e sentindo
e neste capítulo que me encerra
sinto a minha parca seiva diluindo.
Olho os meus vizinhos os meus queridos filhos
todos mortos
todos tortos 
maltrapilhos.
Minhas raízes outrora fortes
já não mamam no humos e no subsolo
tenho o corpo rachado em mil cortes
dói e gemo conformado como um tolo
Já não tenho resinas nem orvalhos para chorar
nem as vestes de folhagem
Já não sinto o meu adejar
nem os olores na aragem.
Onde estão a mil vozes de pássaros cantando
debicando meu tronco com agrado
num frenesim batendo asas bailando
num festim de larvas em que me degrado.
Hoje será o último pôr do sol que vejo
o último céu que arde sem nuvens molhadas
Sem nova madrugada que invejo
aperto minha seiva no meu colo e bebo-as amortalhadas.



Jorge d'Alte












terça-feira, 9 de novembro de 2021

HUMANIDADE

No dia em que a terra parou
o sol murchou
o vento secou
a água não correu
a humanidade quase pereceu.
Tu e Eu
amando-nos nas sombras sombrias
em ervas macias
num ritual de profecias
e a criança nasceu
chorou
ecoando onde o eco passou
acordando o vento que renasceu
moveu a água da terra até ao céu
e uma e uma nasceram
copularam
cresceram
sobreviveram.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

AMOR CRU

Buliste-te palpitante
com as trevas de meia luz.
Procuravas a sombra da boca
para nela matares o teu desejo.
Amparei teu dorso sobre o meu 
senti o húmido seio tocando o meu peito, roçagando
tuas mãos tateando as formas machas de singela ternura
Rolamo-nos como pedra despenhando-se lá do alto
Falamos palavras cheias de tudo e outras de nada
Fomos silêncio, depois a tormenta.
Fomos amor na noite crua.
Não havia lua nesse dia apenas os corpos e as vontades.


Jorge d'Alte

terça-feira, 2 de novembro de 2021

FINADOS

Não me levem o silêncio de choros mansos
pois nele renascem as vozes que amamos
As flores ardem nas mãos da saudade
no beijo surdo que beijamos na ilusão
São muitas as lágrimas do coração
a tristeza que nos amarga
e na oração que recito
vão todos aqueles que amei e me amaram.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Halloween

Há cabaças ardentes por todo o lado
No ar bruxas varrem as estrelas do céu
levam a lua para trás dos montes
espremendo as nuvens que chovem.
Lá em baixo na terra de mates sem cor
as capas negras gritam seu louvor
em vozes pequeninas de crianças.
- Doce ou travessura!
Uma gargalhada junta-se a outra 
no entardecer da noite pingada
Num canto arredada a criança chora
a criança ora, perdidamente
na noite dos mortos e dos fantasmas
esperando esperançada
escutar de novo  a Voz
de sua mãe chamando por ela.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A RAZÃO DE TE PROCURAR

Como posso ninar
se o sonho é tão vivo
Nele sou um caçador
nas estrelas por aí perdido
Caço o futuro com punho cerrado
num intricado trilho que me foi traçado.
Tenho sentimentos que são vulcões
lavas de mil sentires
beijos doces ou amargos
são frutos de ocasião
olhos são criados dos olhares do coração
a voz é tempestade de impios trovões
ou brisa sussurrante gemendo de emoções
e é nas lágrimas caídas de tristeza e alegria
que encontro a razão de te procurar.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

AMOR INFIEL

Cantarei com voz sofrida
meu amor infiel. 
Por ti cantarei com voz amarga
pecados que me tiram do céu.
Amarfanho no âmago meu coração de desamores
os tais que gritaste comigo na busca fácil do perdão
escacando-o no afago dos teus braços num beijo de ilusão.
Dou-te meus olhos como penhor
Dou-te meus lábios com amor
Meus ombros onde chorar
Meu amor infiel
que mesmo infiel sempre te amou.


Jorge d'Alte 

sábado, 23 de outubro de 2021

PESCADOR

Era um pescador no rio dourado
pescando nos sonhos o rumo da vida
fechava seus olhos sob o céu abraso
comentava com os botões onde ela estaria.
A tristeza fascinou-o numa rodada de saudades
e as lágrimas furtivas cresceram o rio, de emoções
estrangulando um coração ténue de menino.


Jorge d'Alte







segunda-feira, 18 de outubro de 2021

SOU

Sou como nuvem corrida
no esgaçar do vento.
Sou sombra que sonha no escuro
noites de doçura, frescura na ausência.
O silêncio ténue só palpável no eco
levara imaginários no apelo
e só no cume do sono, o beijo sonhado
traz de novo notícias do teu corpo
silhueta descrita pelo manjar das mãos
pelos aromas rarefeitos que excitam. 
Corro como nuvem soprada
ao sabor da bolina sonhando no ocaso
saboreando maresias sonhando luas
esperando que tu que és sombra algures
lances tuas redes de arrasto no vento solitário
e me abraces.



Jorge d'Alte


terça-feira, 12 de outubro de 2021

POR ISSO

De que cor são as nuvens
que sabores têm os sentimentos
que sorrisos precedem o beijo
que azos dão a ânsia das mãos
Que mar nos afaga nos corpos voluptuosos
que raio nos rasga no auge do cúmulo
De que cor é o negro
que sabores tem a solidão
que sorrisos se cavam na palavra amor
porque ódio não trago
porque o fel abomino
por isso te abraço sem querer saber
por isso te beijo deste modo
por isso te amo
por isso te amo muito.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

AMOR

Abro a janela 
como quem procura a luz 
não a luz pardacenta da alvorada
mas sim a do coração.
O sorriso dela
o rosto que reluz
o amor de quem é amada
o sentir sem razão.

Subindo a ladeira das pedras singelas
com a brisa  como amiga apertada
procura meu rosto
bebe meu sorriso
sonha com o beijo
sua alma corre com asas ou velas
seu abraço aperta espartilhada
sua língua se dá como mosto
suas mãos afagam no momento preciso
tudo isso com o beijo 
tudo isso com amor
ser feliz é feito disto
doçura , prazer e dor
como ardente quisto.

Jorge d'Alte










quinta-feira, 7 de outubro de 2021

FINADOS

Hoje há festa onde os anjos dançam
Onde as almas voam
Onde eu te vejo
Teu sorriso Mãe
Teu abraço Pai
Sempre vos recordarei
Nas saudades que sinto
Na dor que em mim minto
Nas flores que deposito
No intimo do coração.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

BARQUINHO DE PAPEL

Era um barquinho feito de papel
vogava a corrente atrás do sável
Suas redes de pesca eram tão finas
teias de aranha tecidas nas matinas
O pescador era uma criança
Sonhava sonhos cheios de esperança
Fazia contas soletrava letras e sons
brincava com as cores em vários tons
Era um barquinho feito de papel
escutava a canção tinindo em sua pele
Embalado ferrado no soninho
ele via o mundo como um grande ninho
Ovos eram eles remexendo e aprendendo
Voos eram os poentes entardecendo.

Era um barquinho feito de papel.


Jorge d'Alte

AS ALMAS

Mortas eram as folhas
arrancadas cernes pela velhice
Vivas eram as flores 
que abriram olhando o céu.
Crescendo estavam as almas
umas perdidas outras endiabradas
escrevendo o futuro.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

SAUDADES

A casa do monte não tinha teto
mas tinha céu
Não tinha vidraças
mas tinha a brisa fresca
Não tinha porta
mas tinha a visita das folhas
Tinha memórias em cada pedra
os cantares fugidos das vozes
o negro dos fumos quentes
a nostalgia do fausto passado
e saudades 
saudades nos olhos que choram.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

AMPULHETA

A ampulheta contava sem tempo
Mero instrumento sem alma nem pudor
Insensível era o que era, fria como a tua mão.
Não contava a tua história
Não contava os teus sonhos
Não respirava os teus anseios
Apenas estava ali, caindo.


Jorge d'Alte


terça-feira, 28 de setembro de 2021

ROSTOS


A manhã sonhou o acordar
Abri a janela para o sol entrar
A vida seu calor cantou no galo despertador
Trauteei uma canção  doce de amor
Cacei as lágrimas
Sofri a dor
Recordações vieram em esgrimas
Rostos que vivi com calor
Rostos que passaram por aí
Sombras que voltaram ao pó
Palavras que canto quando a tristeza cai
moendo e remoendo sem dó.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

DEFINHANDO

Mato a fome com o roer do estômago
Bebo a sede como fonte por encher
Beijo lábios para sentir
Afago o calor do corpo para mentir
Colho sentires no meu âmago
Corro no vento leve, sonhos de caçador
Agasalho-me no frio por te perder
Escolho a tristeza por fim, meu amor.


Jorge d'Alte

sábado, 25 de setembro de 2021

TEMPESTADE

O terror caia do céu de riscados relâmpagos
A água escorria tonta de montes e vales
O vento antes preso na quietude 
Agigantara-se  roendo vielas e ruas.
Na casa pregada na encosta
O conforto estava na proteção de Deus.
Por isso mãos se juntavam cheias de Fé
e os lábios pregavam as orações do Senhor.


Jorge d 'Alte

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

LIVRO DA VIDA

Hoje é sexta feira 
as folhas vão caindo 
soltas no vento frigido
Se são vermelhas, ocre
de cores imaginadas não interessa
O que interessa é que são folhas
Talvez do livro da vida
e essas sim levo-as comigo.

Jorge d'Alte

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

QUE FARIAS TU?

O que farias tu 
se o beijo se abrisse em mil desejos
e o sol nascesse no poente
e a chuva varresse das memórias
tudo aquilo que sofreste
Que farias tu
sorriso lindo cara trigueira coração doce
que farias tu
se o amor não fosse ódio
se a ansiedade  fosse desejo
e o corpo mero ensejo
na busca da felicidade
Que farias tu se o beijo fosse meu
se o meu corpo fosse teu
se o sorriso fosse nosso
e a vida o nosso caminho.
Que farias tu?


Jorge d'Alte


terça-feira, 21 de setembro de 2021

PALAVRAS QUE ESCREVI

As palavras que escrevi
encontrei-as afogadas
nas lágrimas que calei de ti
Foi perdição o gesto
foi perdição o beijo
foi perdição o abraço, paixão e o sonho 
desfeito no outono vermelho
quando as folhas voaram e não mais voltaram.
As palavras escrevi-as
não as deixei pairando na brisa
Escrevi-as no fim de tarde
quando olhaste para mim e partiste.


Jorge d'Alte

domingo, 19 de setembro de 2021

Á JANELA

Cantavas á janela
com as matinas em contra voz
versos límpidos como a geada
notas soltas da tua alma,
Escutei-a olhando p'ra ela
sorvi os versos ó linda voz
desfiando como meada
fragâncias doces da tua alma

Entoei alto o meu fervor
clamei teu nome com ardor
Alma gentil meus braços teus
beija, afaga, gemidos teus.
Desce desse alto por favor
ama a minha alma meu amor
palavras doces de lábios teus
promessas nos olhos teus.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

DANADO

Danado, era como ele se sentia
danado pelo jogo da vida 
cheia de falsidades, injustiças e armadilhas
estradas tortas que o levavam por aí
na terra do amor, do desespero, da angústia
desejos eram lábios rubros, quentes e doces
amor vivido nos ramos dos sentimentos.
Para quê nascermos com o estigma da morte?
para quê sonharmos se o futuro envelhece?
Os pensamentos antes risonhos padecem na dor
e para qualquer lugar que ele olhasse
as cruzes eram o sinal.
Danado porque viveu no sonho mágico
danado por não ter forças para voltar a sonhar.
Danado na súplica
danado na réstia esperança.

Jorge d'Alte

terça-feira, 14 de setembro de 2021

POSSE

O abraço era tanto de amor
O sorriso sonhador de futuros
Olhos cantarolavam o momento
Os lábios dialogavam perdidos
Os ouvidos cuscavam gemidos
As mãos de afagos delineavam-te


Jorge d'Alte

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

OLHAR QUE SORRI

O outono versou em tons de castanhos
beijando a natureza com promessas amenas.
O mar despiu as cores quentes de verão e primaveras
deixando as ondas esfriarem pés que já não nadam.
O sol em conflito com nuvens brancas e plúmbeas
encurta os dias onde vivo em pôr-de-sol deslumbrantes.
As gentes passam apressadas com o cheiro de castanhas assadas
As almas suspiram
os corações enamoram-se
O ar aquece o meu olhar que sorri
por ti, pelos rebentos,
pela vida que já vivi.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

DESILUSÃO

 

Fora uma noite hedionda

com faíscas rasgando o ventre das trevas

cantando o trovão.

Os sonhos tinham tremelicado

bruxuleando os olhos.

Nesse sonho eras minha

numa resma doce de favos de ti.

O vento tornado

levara como folhas os sonhos rasgados.

Os olhos abertos

suplicavam desfeitos.

A chuva tilintava na vidraça dos meus olhos baços

deixando na luz intermitente o gesto de desilusão.

 

 

Jorge d’Alte

 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

ENQUANTO A MÚSICA SORRIA

 Enquanto a musica sorria
deslizando na leveza dos sentidos
a imaginação percorria céus meus
dentro do intimo ebulido de fresca alegria.
Versos faiscavam repetidos
erguendo-se da bruma como ateus
Davam cor aos dedos em poesia
ilustravam os pensamentos consentidos
juntavam emoções de romeus.
julietas na lágrima que do coração corria. 
Eram de sangue de alegria; jubileus
Somas do presente e dos tempos idos.


Jorge d'Alte


sexta-feira, 20 de agosto de 2021

PENA E DESILUSÃO

A pena estava ali imposta
Casas e ruínas de uma aldeia morta
As pedras de uma rua sem som
mortas de falas de crianças e os outros
ornavam-se nos espinhos da desilusão.
Os outros estavam mais acima 
debaixo das cruzes sem cor.
Apenas o vento frio ou a brisa quente
soavam levando no seu protesto
folhas secas como secas tinham sido
as lágrimas escorridas da face
do último ser a partir.


Jorge d'Alte

domingo, 15 de agosto de 2021

SONHADORES

Era pequeno como um macaquinho
em cima da árvore comendo maçãs
mas era aquele rosto que ela amava
com constelações de sardas e olhos azuis
Seus cabelos ruivos risonhos saltavam
na gargalhada e no sacudir dos ombros.
Era amor sabia-o ela espigada como trigo
que moia trigueira no moinho.
Um sorriso desceu do alto como anjo voando
sonhador.
- Moleirinha! - Chamaram seus lábios
embrulhados na sua voz em mudança.
Os olhares acompanharam as mãos
suadas e num andar reconfortante num novo êxtase
encheram seus corações numa nova vida.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

ARDIA

Ardia no frio que se fazia sentir
Não bruxuleava como a chama quente
Ardia apenas num amor sofrido
calando na penumbra sombria da alma
a dor calma cruciante e insistente.
A voz perdida afagava-a no amago
Era apenas amor o que sentia.
O frio crestava-a na lua cheia intensa.
Cheia estava a sua alma escutando
tentando discernir os passos e não o eco
os passos que de mãos dadas 
os levariam para lá da madrugada.


Jorge d'Alte

domingo, 8 de agosto de 2021

POR FÉ


Eram ruas 
ruas tortas que pensava eu me levavam ao céu
e dali em pontas dos pés o veria como ele é.
Demorei anos a subir com os medos, pesadelos
cheio de Fé
a Fé que crescera cá dentro e me amparava.
Eram árvores
árvores tortas num rio torto que desci por Fé
Fé desse sonho lindo que é amar
e por amor ali fiquei
na rua torta no rio torto sonhando.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 26 de julho de 2021

DESALENTO

Hoje é um dia fechado
sem luz e nevoento
sem alento
quebrado
um buraco negro.
No teu tom integro
Dizes-me para sonhar
fechar os olhos sedentos
encontrar memórias e eventos
ninar
onde apenas há lagrimas.
Em esgrimas
montes de saudades
com montes de ternura
mas nada perdura
nem nas saudades
perdi-as algures na alma
Perdi-as na noite calma
Hoje é um dia fechado
sem luz e nevoento
sem alento
quebrado
um buraco negro.

Jorge d'Alte

domingo, 25 de julho de 2021

OTELO

O luto caiu
pesaroso
negro
de intenso breu
uma pétala caída de um cravo rosa
uma lágrima de saudade
Nome que nos deu cravos em vez de sangue
uma lágrima de saudade
Amigo companheiro camarada
teu nome é Liberdade!


Jorge d'Alte

sábado, 24 de julho de 2021

VAZIO

Todo este vazio que trago em mim
já foi um vazio cheio de mim.
De pequenas coisas fiz o meu caminho até a ti
flores murchadas em mãos juvenis entreguei a ti
encontramos nosso beijo na escura árvore sem lua
escrevemos palavras juntas na pedra encantada e nua
Foi amo-te o nosso primeiro segredo
Foi esse sentimento o nosso primeiro medo.
Não foi na praia, nem no vento
nem no sabor do sentimento.
que encontramos o nosso laço de amor.
Foi quando os corações bateram por demais esse ardor
foi quando os olhos se fecharam e era tudo sonho
Mas veio o que mais temíamos um pesadelo medonho
Olho agora o meu lado, um vazio cheio de mim.
Todo este vazio que trago em mim.


Jorge d'Alte







segunda-feira, 12 de julho de 2021

A TAÇA

A taça percorria mãos de tantas sinas
A alegria tecia retalhos de risos e sorrisos
Gritos de euforias e as lágrimas dos outros
Campeões osculavam-na ufanos
A noite indiferente caía gélida
No meios de tantos milhões
Milhões de adeptos
Milhões nos contratos
Milhões nos vencimentos
Milhões nos patrocínios
Milhões de estrelas brilhantes
Um sem abrigo entre milhões, indiferente
Aquecia-se no seu frio.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 9 de julho de 2021

DEIXA

Deixa o teu sorriso
Abraça com o teu beijo
Olha os olhos doces
de infinitos azuis
Sente esse mar de fogo
que no peito se acolhe
Corre desvairado nesse caldo
Chama amor com ardor
Pega nessa mão, e voa.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 7 de julho de 2021

NÃO SEI

Não sei o que sentir
Olhei o escuro céu 
sem lua
sem a vergastada do luar.
Senti-me nu na imensidão
No meio do turbilhão das galáxias,
caos das estrelas,
das pedras silenciosas
predadores de vidas 
rolando.
Senti o perfume da alvorada
algures semeando coros 
do amanhecer.
Senti mãos que me afagavam
em fogo.
Senti beijos, senti seios
Senti-te a ti.
Agora já sei o que sentir.


Jorge d'Alte