segunda-feira, 27 de junho de 2022

ESCREVENDO O FUTURO

 

 

Mortas eram as folhas

arrancadas cernes pela velhice

Vivas eram as flores 

que abriram olhando o céu.

Crescendo estavam as almas

umas perdidas outras endiabradas

escrevendo o futuro.

 

 

Jorge d'Alte

 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

LEMBRAR-ME-EI

 
Eu lembrar-me-ei de ti
Carinhosa sedenta de afagos
nos sóis e nas noites que criamos
nas coisas belas que nos dizíamos
canções esbeltas que significaram tudo para mim
ombros nus que osculei sabores que saboreei
lábios que esperavam pelos meus no recanto sombrio do leito
Sei que estás esperando num éden para lá das estrelas
lembro-me de as vermos contarmos e seduzirmo-las
de nos aconchegarmos no luar da lua vermelha
de juntar-mos os corações em parelha
e despedirmo-nos por aí fora alheios aos anseios
Teus olhos onde lia o amor
guardo-os no meu fervor
eu que vivo errante nos meus sonhos
sonhando o sonho onde sonhando nos encontrámos.


Jorge d'Alte

terça-feira, 14 de junho de 2022

UM DIA

Um dia falaram-me de amor
eu que só escutava músicas
e ia voando atrás das notas
Que foi isto que aconteceu
o meu reino caiu e lá vou eu
na corrente das palavras
mas o que me prendeu foram olhos
olhos negros e profundos mas doces
lábios simples e húmidos
como os meus olhos ficaram
nas caricias que te fiz.
com eles escrevi meu nome
no teu coração fremente de paixão.
Um dia falaram-me de amor e acreditei!


Jorge d'Alte

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Antes da noite há o burburinho das estrelas a nascer
há o crepúsculo pardo onde nem tudo é o que é.
Há as vozes sussurrantes onde os pássaros já não cantam
há luas de mil caras e tu sorrindo sonhos que não vês mas sentes.
Há o rio dos desejos fervilhando pelos escolhos do corpo teso
há beijos e beijos como canção e lábios lambareiros do amor
Há olhos cegos perdidos na paixão há promessas de sim e não
Há portas que se batem sem eco de volta, corroídas de mágoas e tristezas
há fechares de olhos, medos fantasmagóricos cercados como caprinos
há campos ai onde nos sentamos eu e tu as flores e os trigais
há o vento abrasante que nos leva como folhas no auge do cio
Mas há também as manhãs cediças que nos arrancam do sono
que nos dão a realidade frigida e nos separam depois no tempo que nunca acaba.



Jorge d'Alte