terça-feira, 29 de outubro de 2013

D O R





O quarto encolhe
o arfar abafa o coração
O grito suspenso de fios de teias
vibra  no canto onde estou 
Espeto a mão na argamassa e tijolos
merdas que moldam esta alma
Arranco dela as palavras escondidas
meto-as a custo no coração
O horizonte alarga-se desprevenido
a onda de sal abate-se em onda encristada
deixa a espuma cá dentro e leva na dor as feridas.


Jorge d'alte


domingo, 20 de outubro de 2013

DOZE ANOS

Ruas traçadas no casario
deslizavam em ladeiras de pedras
desgastadas e cinzentas
A rua perfeita, sinuosa como teu corpo
levava-te apetitosa ao encontro.
O campanário torto na sombra disforme,
agigantava-se no chão em sinos badalados
chamando; como ovelhas e cabrinhas correndo
para o pasto.
Lá iam!
O encontro ficava ali entre as meias badaladas
e a bênção.
Os pés apertados em sapatos de verniz saltitavam de dor
fazendo abanar a saia rodada crivada de flores.
A esquina olhava-te pelos meus olhos de garoto.
Alisei o cabelo penteado para trás
pus uma mão no bolso dos calções
e a outra apertada atrás das costas
segurando.
As minhas sandálias desgastadas
levaram-me até ti.
O saltitar parou-te
um sorriso iluminou-te
o meu envergonhou “queres casar comigo?”
Estendi o ramo de papoilas e malmequeres
murchos no calor.
Demos as mãos
e entramos na igreja!


Jorge d'Alte


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

PORTO








A minha cidade é nos “assins”,
tem casas e jardins,
tem pontes imberbes e com barbas,
partes novas e velhas; duas abas,
ruelas, calçadas e avenidas,
íngremes ruas gingam por ela perdidas,
tem madrugadas de sol que no mar se lava,
tem estrelas e a lua, que ora está ou estava,
tem-te a ti e a mim…
Por isso ela é assim,
(Mui Nobre e Invicta Cidade)
E nesse dourado rio
está a mística desta cidade e o seu frio.
(é do norte é verdade)







        ( não deu para meter o dragão,
          fica guardado no saguão,
          e quando vier à baila,
          será com fato de gala)


Jorge d'Alte

 Estádio do Dragão

terça-feira, 15 de outubro de 2013


Abro o armário
procuro as gavetas que não tem
mas que extraordinário
juraria que vi bem.
Então onde estão
essas minhas recordações?
As cartas são borratão
linhas  prenhes de emoções
que ensarilhadas e comprimidas
contam a alegria
caiem na tragédia das feridas…
Era isso que queria?
Então porque as procuro?
Onde está essa saudade?
Apalpo dentro o armário escuro
na ponta dos dedos encontro a felicidade


Jorge d'Alte


quinta-feira, 10 de outubro de 2013




Remei no horizonte de curta vista
gestos vãos de te trazer aqui
a esta alma amarelecida
e mesmo estando no alto da crista
me despenho por ali
na vã vontade desfeita, desfalecida
e sou sombra de mim
por debaixo da vela enfunada
esperando eternidades sem fim
que um qualquer vento traga a bonança
e na réstia da esperança
cresça bela e airosa formas da minha amada.
Tinha-a no coração bem aconchegada e quente
e os dias eram mornos na modorra
eram brasas na paixão
ecos gementes em raios de sol e escuridão
Mas os ciumes são uma porra
e as palavras saíram como corrente.
Esperei que o vento as levasse mas não levou
e agora neste barco  do faz de conta
remo no horizonte onde tudo começou
gestos vãos de te trazer aqui
vezes e vezes sem conta
e volto sempre ao ponto de onde parti........


Jorge d'Alte


terça-feira, 8 de outubro de 2013


















Sigo na estrada com meus amigos tantos e na encruzilhada choramos a despedida e vivemos a recordação....

Mas o caminho está mesmo ali e temos de o seguir;
Porque é preciso acreditar,
porque é necessário amar,
porque é preciso sofrer para obter,
porque é necessário sonhar para realizar,
porque é preciso  saber dizer, " basta!"

Não ficar preso neste marasmo do passado que nos perde, e olhar enfrente com esperança, por que a luz está mesmo ali ao alcance.....

A um passo da nossa vontade............


Jorge d'alte

quarta-feira, 2 de outubro de 2013











Errante lá vou todos os dias
traço passos na areia seca que ninguém vê
como a saudade que morde seca nos meus olhos.
Choros ficaram ali sentados na raiva de quem perdeu
aí essa imagem que eu tinha de ti
e que o tempo cruel levou e esqueceu.
Uma palavra não dita na hora certa
e a desdita de um sorriso que feneceu


As altas vagas que nos abraçaram não voltaram
e esses olhos verdes de feitiços corrosivos
desbotaram nas águas mansas,geladas, sem murmúrios.
Errante torno todos os dias
até há hora em que o sol mergulha
trazendo as sombras , as estrelas e a lua
e o vazio despido desta alma que foi tua.....





Jorge d'alte

(Fotos retiradas da net)