quinta-feira, 30 de novembro de 2023

AMIGO

 Partiste um dia meu velho amigo
deixando-me vazio em pleno caminho.
Definhei nas dores, nas preces como mendigo
mas a tua voz era apelo neste torvelinho
onde as lágrimas gritavam
teu nome no vento
onde as mãos pugnavam
retorcidas no desalento
Disseram na mesa de Deus que eras mais uma estrela no céu
um novo caminhante errante rasgando trevas levantando o véu
que encontrarias um novo lugar
que a morte não era desunião
que o amor de amigo era como luar
erguendo-se na alvura como centurião
comandando na morte a minha vida.
Não te vi nesse céu onde és luz na escuridão
mas sei que não morreste para mim que és sempre vida
a mão que se dá que ajuda que ama mesmo na minha solidão.


Jorge d'Alte



sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A CHEGADA DO NATAL

 Apareceu um dia
na manhã desfolhada 
envolta no xaile toda alquebrada
Trazia nos ombros todo o seu tempo
os passos ninos de tanto caminhar
Seus olhos aguados do tom dos lagos
já não cantavam a primavera 
pois os anos eram tantos de cores de inverno
mas dentro no agasalho do coração
sua alma sorria rostos de alegria
histórias de vida histórias para a vida.
Suas mãos magras de atrozes tremiam emocionadas
A neve caia fresca e fria
nelas estavam escritos passos leves e pesados
trazendo no bater na porta toda a sua vida
Rostos lacrimosos palavras de boas vindas
o Natal chegara com a invernia.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

FOI COM AMOR QUE NOS AMAMOS

 Já a noite cantava alto estrelas e luas
deixando para trás o Sol e os dias
No meio dos crepúsculos uma nova vida
asas de filigranas nos sonhos esboçados
casulos de esperança nos olhos vividos
traziam-nos amores de beijos beijados
de corpos moldados por mãos de candura
entrelaçados na trama dos corações
Jovens eramos nós buscando horizontes nebulados
e aí nesse preambulo sem cor
foi com amor que nos amamos.


Jorge d'Alte

terça-feira, 21 de novembro de 2023

TUDO O QUE SOMOS

Quando o Sol beija a Lua
muitas vezes no entardecer
raiando-a de tons de purpura 
eu amo-te nos linhos frescos, nua
vislumbrante de ternura a ferver
e contamos mais uma história pura
onde somos o que somos, grãos de poeira
no vento que voa procurando sobrevivência
no gemido que ressoa acordando as sombras
mãos esbatidas que apalpam daquela maneira
suaves e quentes erguendo-se em semente, vivência
dos corações que em amor ensombras
os lábios garridos
sons de gemidos
suores da copula
delírio que pula
almas gémeas que se dão
já a noite comeu o  dia como ganha pão
trazendo a matina raiada
nos gelos da madrugada
nos sorrisos belos de quem amou
tudo o que somos, tudo o que sou.


Jorge d'Alte


quinta-feira, 2 de novembro de 2023

DESPERDÍCIO

Que dia é hoje
dia perdido no dia 
sem céus sem meandros de noites no despoje
de luas cantadas encantadas de perfídia.
Que dia é hoje
com lua de sangue
com choros de geadas no arroje
voz levantada irada exangue
Que dia é afinal
crianças mudas de vermelhos
entre céus de diferentes deuses num ideal
que deixa rostos sem cor olhos vermelhos.
Que dia é este
sem esperanças e armas a troar
em que eu perdi e tu perdeste
em que o mundo rachou entre a vida e o acabar.


Jorge d'Alte