terça-feira, 28 de novembro de 2017

PORTO,MINHA CIDADE

  









Arribas suspensas sobre casario adormecido
onde as sombras se encolhem em ruas apertadas
que gingando se espraiam até longas avenidas.
A idade fere essas pedras gastas e enrugadas.
As cores, outrora garridas, perecem agora num tom esmaecido
enquanto que lá em baixo, as lágrimas perdidas
correm em correntes d'ouro e redemoinhos, levando-as até ao mar.
A maresia sobe em ventos, com gaivotas a pairar
trazendo ás gentes desta cidade, novas desse mar
onde pequenos barcos ondulando vogam, de cá para lá
trazendo nas suas redes e arpões, peixes a saltar.
E de quando em vez ,as gentes estão lá
perdidas na praia, gritando a Deus, que não os leve já
e que a tormenta rebentada
que explode na  praia num turbilhão,
não traga na espuma que fica
o nome querido, de gente afogada
nem a perda do seu ganha pão,
As lanternas brilham, os gritos morrem
e as rezas choram o até já
enquanto que de joelhos na água salgada, as almas imploram e  sofrem.
No outro lado, nas grandes avenidas, fica a gente rica
Os shoppings enchem-se de gente de outra vida.
Enfardam-se os papos, de gorda comida
Vêm-se cinemas a abarrotar
e a lufa lufa do dinheiro, lá vai enchendo os sacos.
Escadas chiando rolam sem parar
e a azafama stresa, em pequenos nacos.
Nos amarelinhos, partimos numa viagem por trilhos
Monumentos desfilam, entre praças, parques e jardins.
Lojas brilham entre roupas e afins
E se queres sarilhos
então visita os bairros erguidos
onde em janelas espreitam, gente boa e foragidos.
Subindo e descendo em penosas colinas deparamos com a Sé
onde antigamente, o gentio se arrastava em fervorosos atos de Fé
Mas descendo agora as velhas calçadas, de pedra cortada
vemos o antigo, muralhas bolorentas e a grande arcada
e bem lá em baixo corre pachorrento até á barra, o Douro, nosso rio
trespassado por pontes que unem a vida
e por baixo, nas margens alcantiladas
os cafés, os bares as tasquinhas por jovens e velhos são procuradas.
E olhando essa grandiosidade, sinto um longo arrepio
tantas histórias guardadas, tanta dor suportada, tanta história vivida
e com orgulho, enfrento a agreste nortada
que me arranca dos olhos, lágrimas de verdade
e mesmo que esses ventos, a minha voz abafem
eu grito mesmo sufocado, esta é a minha "Invicta e Nobre Cidade"!
E para aqueles que nela vivem, que a merecem, sentem e sabem
ela será para sempre, a nossa amada!



Jorge d'Alte



quarta-feira, 22 de novembro de 2017

QUANDO O OUTONO CHEGAR







Quando o outono chegar
Tenho um encontro com o sono eterno.
Não sentirei o cair das folhas castanhas
Não as verei voarem no vento norte
E no redemoinhar recordarei
Os passos curtos que dei
As palavras que aprendi
O beijo que recebi
Quando o outono chegar
Tenho um encontro com o sono eterno
Subirei essas montanhas
Contarei o meu fado ao enfrentar a morte.



Jorge d'Alte



domingo, 19 de novembro de 2017

DESGRAÇA




As preces percorreram bocas desgraçadas
Caídas na aflição em gritos arrancados na alvorada macia
Os barcos passaram um a um até à pedra quebrada e velha do cais
Com cores desbotadas pelas intempéries.
No meio da névoa evolada da água revolta
Senhora dos Mares ficara algures para lá de lá; tragada
O mar do longe ondulante e desdenhoso cobrara vidas
Em troca de sardinhas reluzentes e prateadas

Apregoadas “vivinhas” em ruas e vielas cheias de vida.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

IMAGINA





Imagina um corpo recortado na penumbra,
Cheio de linhas douradas do contra luz.
Lança a tua fantasia no ar,
Retém a respiração por um momento…
Imagina o sorriso que não tem,
O olhar que não vês, a vida que não sentes...
Deixa a tua imaginação voar ao encontro do desejo,
Deixa a emoção que te bate à porta fazer parte do teu peito...
Sente esses lábios que não são,
Percorrer teu corpo como passos na escuridão...
Deixa-os subir esses degraus até à tua mente,
Deixa-os enchê-la como balão prenhe dessa música
Que a cada golfada sobe, sobe...
Deixa que rebente nesse cúmulo...
Apanha esses farrapos que como borracha caiem,
Que esticam a nossa pele no auge do que se sente...
Imagina-te a voar num céu escuro onde não há estrelas,
Só tu!
Imagina então...
Que deste vida a essa recordação,
E que ela está ali, sorridente como sempre,
Com a luz viva do seu olhar,
Com a vida a pulsar nesse bater,
Procura nos seus lábios o teu desejo,
A emoção que te enche o peito,
Abraça-a com todo o teu sentir,
Chama seu nome
Deixa-te ir!


Jorge d'Alte






sábado, 11 de novembro de 2017

BEIJO?









No beijo dado senti tudo aquilo que me querias dizer
Não foi amor o que senti
Não foi amizade também
O ódio esse não vi
O sangue correu porem

Não foi rio desvairado, nem mar, nem um lindo entardecer.


Jorge d'Alte