sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

PROCURA

Hoje estou afogado na tristeza
os meus olhos choraram mas não havia lágrimas
o coração gritou mas só houve silêncio
e para lá disto vieram saudades
saudades dos tempos imorredouros e densos. 
As memórias ficaram nos subúrbios dos sonhos
presos nas brisas onde vivem
nessas nuvens de espuma que vogam pelos céus
livres de corpos, dores e gemidos.
Hoje quis espiar as estrelas
ver onde elas voam, senti-las e sentir-te
pequena estrela que foste rodeada por anjos alvos.
Hoje afogo-me na tristeza
ciente que estás por ai procurando-me nas trevas e na luz
que me esperas na solidão do tempo que não mais passa
esperando que eu parta para de novo sermos felizes.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

MEUS OLHOS FROUXOS



Meus olhos frouxos 
não querem ver
apenas sonhar 
onde o sonho
é meu e belo
sonhos de fantasia e a maçã
essa que pecou na luxuria
e nos tornou escravos do vício.
Prefiro ter sonhos coxos
do que não ter
ter  o encanto de beijar
ter esses lábios onde tudo ponho
amor e amor sem paralelo

Mas o que quero sonhar?
Que sonho é esse que me embebeda
me enreda pobre tresloucado
e me agarra qual lapa na tormenta
afogando-me no contraditório
salvando-me por amar
eu sei que te vou amar mesmo em perda
colocar na minha mente esse toucado
a paixão, ciúme, tristeza, a saudade que rebenta
e  neste fim talvez inglório
eu encontre a tua luz
a tua rebelde doçura
toda a magia que eu pus
toda a minha amargura 
por não te sentir
não naufragar nos incensos do teu ciúme
mesmo que o meu coração esteja a pedir
não inventar esses sonhos coxos
escorrer no teu acero gume
talvez porque os meus olhos são frouxos.


Jorge d'Alte

(Foto retirada da net)






segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O MEU FIEL



BANZÉ





Foi na primavera
quando as searas agora douradas
ondulavam no vento suão
que meus olhos choraram de tristeza
comoção ardida no meu coração
implodida cheia de dor
afinal foi de amor
um amor decano sempre a meu lado.
O meu fiel já por ali  não corre
ferrando no ar infestado de gafanhotos
sentindo o rugir da seara ferida 
nas suas orelhas douradas espetadas.
Já não sinto as suas lambedelas o seu amor por mim
os saltos de alegria o encostar do seu focinho fofo
os latidos sempre diferentes a sua fala.
Aninhou-se na madrugada num chão de cimento cinzento
numa primavera que me lixou.
Olhava para mim como que a pedir desculpa
gemia baixinho a sua agonia e calou-se.


Depois a dor veio e de mansinho entrou
rasgou-me ao meio deixando farrapos de mim
desconsolou-me numa tristeza cruciante
Não sei como chorei então na tarde já alta
olhando o lugar vazio que restou.
É na primavera
quando as searas se abrem ao mundo
que em pingas geladas as memórias chovem
e  sempre que elas voltam eu choro
tristezas e saudades.


Jorge d'Alte

(Foto do meu cão)









sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

UM POUCO DELA







Havia muitas sombras na noite sem lua
mas também havia uma luz plantada no cimo do poste
Em baixo sentado no escuro uma alma cantava no ébrio
desditas, tristezas o verbo fenecer.
Seu olhar vacilava no piscar de olhos
as mãos nadavam nos rios de luz
a voz chamava na brisa corrente
palavras que eram do coração 
mas que chegavam aos lábios despidas.                                                                                      Chamara a pinguita para esquecer
que o sonho se embebedara para ele a ter
uma dama linda de tez negra com cabelos de cachos
Tantas vezes aí se escondera no perfume dos cabelos
Tantas vezes a beijara nesse pescoço macio
Tantos e tantos beijos que amaram essa boca felina
e os abraços meu Deus que apertos meus no corpo volúvel
Ela fora-se com Sebastião perdida na ilusão
estava algures onde ele estivera e sem lua não a encontrava
pois era aí que ela morava que os risos cantavam alegria para ele
que mamava no seu sorriso e sentia essa bulício na barriga.
Havia muitas sombras atrás dele mas também havia um caminho
Agarrado á Fé levantou-se balbuciando sem tino
Deu um passo, deu dois entrando na ilusão no crepúsculo que o precedia.


Jorge d'Alte




( Fotos retiradas da net)








quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

AMAREI

Vieste com a noite
revolta nas sombras pardas
e eu sentado sob um manto de estrelas
tingi-te o céu de luar
estendi meus ramos ó bela Lua
recortei-me em ti num singelo abraço
O vento levou essas sombras pardas 
deixou-te exposta como um bago.
Minha seiva ardeu num inferno doce
secou meus lábios debutantes
desflorou-se em pétalas de saudade
quando a nuvem correu soprada
Verguei-me quando fugiste a caminho do nada
As minhas raízes agarradas nas pedras douradas
esbracejaram na surdina que acordava.
Agora virá um outro amor que me aquecerá
me dará botões de beleza
o Sol que me desposará até a tristeza descer
os meus ramos secarem, as flores caírem
e eu ressuscitar com um novo viço.
Amarei a Lua 
amarei o Sol
amarei a vida.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

MANEL

No cimo do morro
janela aberta
uma vela ardendo 
virada pro norte
por detrás dela
com emoção
o mar da costa
a vaga alta
o meu Manel 
bordando a orla
semeador de desejos
teus lábios nos meus
inchando meu intimo
fogo amado
abraços no luar
promessas de amor.
Quando vier a primavera 
quero ser flor
abrir meus encantos
nos olhos teus
sentir  esse sémen
inflamando-me por dentro
esvaindo-se no silêncio
depois da modorra.
dividir amor por dois e por três.
unir sonhos no meio de preces
sentir felicidade na ponta da língua.
Na noite esconsa
janela aberta
uma vela ardendo
virada pro norte
por detrás dela
olhos lacrimosos
esperam seu Manel
bordando a costa.


Jorge d'Alte


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

AMOR





É ferida que dói e não se esquece
é sentir que se quer e não se quer
é malabarismo na corda que nos prende
é o elo que se incuba no coração
é a tristeza que se entranha na separação
é alegria é rosto raiado de sorrisos extasiados
é amor que se dá no pico do beijo
é tudo isto e muito mais

noite de lençóis brancos sedosos
suores enrolados cavalo á solta
cabelos prostrados no ombro e no peito
lágrimas que se soltam no abraço
abraços que dizem o quanto somos amados
sombras de corpos tesos que se movem sob a lua
rosa vermelha que se dá mesmo com espinhos
sentimentos que fluem no gostar
Tudo isto por te ter no meu regaço
olhos adormecidos num sonho inolvidável
prostrado e vencido por te ter amado.


Jorge d'Alte

( Fotos retiradas da net)