segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O MEU FIEL



BANZÉ





Foi na primavera
quando as searas agora douradas
ondulavam no vento suão
que meus olhos choraram de tristeza
comoção ardida no meu coração
implodida cheia de dor
afinal foi de amor
um amor decano sempre a meu lado.
O meu fiel já por ali  não corre
ferrando no ar infestado de gafanhotos
sentindo o rugir da seara ferida 
nas suas orelhas douradas espetadas.
Já não sinto as suas lambedelas o seu amor por mim
os saltos de alegria o encostar do seu focinho fofo
os latidos sempre diferentes a sua fala.
Aninhou-se na madrugada num chão de cimento cinzento
numa primavera que me lixou.
Olhava para mim como que a pedir desculpa
gemia baixinho a sua agonia e calou-se.


Depois a dor veio e de mansinho entrou
rasgou-me ao meio deixando farrapos de mim
desconsolou-me numa tristeza cruciante
Não sei como chorei então na tarde já alta
olhando o lugar vazio que restou.
É na primavera
quando as searas se abrem ao mundo
que em pingas geladas as memórias chovem
e  sempre que elas voltam eu choro
tristezas e saudades.


Jorge d'Alte

(Foto do meu cão)









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