sábado, 30 de dezembro de 2017

NOVO ANO




Os segundos caíam rápidos
A ansiedade do corpo tremia
Os olhos olhavam ávidos
As mãos torciam na noite fria
Fragrâncias eram sentimentos e desejos
Resquícios de um ano que terminava
O ultimo bater explodiu sem pejos
Misturado com pedidos; a vida continuava.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

CHOVEM TORDOS












Chovem tordos do celeste
que abraça o pôr-do-sol.
Mergulham num mar ondulado
de trigais.
Debulham com bicos pontiagudos
descarnando.
O mar sereno está aberto como ferida
de caules partidos, folhas perdidas: alma arrancada
O crepúsculo cresce engolindo o celeste
deixando como fiel depositário
o negrume.
A madrugada floresce em orvalhadas sãs
como pérolas.
Os caules erguem-se de novo, mesmo despidos
sem futuro.
Chovem tordos no “ replay “.


Jorge d'Alte















sábado, 23 de dezembro de 2017

CONSOADA VAZIA








Um quarto e uma vela
Um homem um prato meio vazio
Olhava sem ver por aquela janela
Tantas vezes abertas á alegria.
Lá fora já não há gritos soltos de criança
Nem vida depois da sangria
Apenas negrume de um inferno incendido
Esticou o ouvido na esperança
A voz dela era apenas mais um som perdido


Jorge d'Alte



quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

NATAL SEM VIDA





Olho o Pinheiro de Natal
Não tem o brilho de outros anos
Não tem as almas reunidas na consoada solene
Pequenas e grandes meias já não estão dependuradas
As prendinhas já não trazem o convívio da alegria
Apenas o vazio sem som nem gargalhadas
O fiel amigo esfria num prato que não como
E sobremesa gulosa derrete-se sem sabor
A vida morreu nesses funestos incêndios
Onde a ceifa foi de vidas
Onde os sonhos de diluíram

Onde ficou apenas silêncio e dor.


Jorge d'Alte

sábado, 16 de dezembro de 2017

EU E TU








A água corre como lágrimas
cai no abismo desconhecido como dor
salpica pingas de sentimentos que se perdem.
Corre de novo no seu destino
como eu e tu.
Ravinas cava na sua fúria efervescente,
escolhos fura com a sua vontade.
No aperto sobrevive como gota que pinga,
rastejando esfolada e dorida no meio da pedrenia,
para de novo se erguer corrida, fulgurante.
Ribeira, riacho, rio alcançando de novo esse poente,
encontrando no de lá do horizonte, esse mar,
que sou eu e tu.
Gota doce, gota salgada

unidas!

Jorge d'Alte

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

JOTA (Maria João)








                                                          
Jota!
Até podias ser tu!
Vá lá! Olha bem esse espelho,
mas sem o quebrares.
Não faças essa cara,
apenas entra no jogo,
talvez se mudares um pouco o penteado,
porque não mudar a sua cor?
Talvez eles possam cair
sobre esses ombros, tostados
por solares de fim de semana...
ou na sua pequinês apenas te abrigar
o rosto, como mãos que te afaguem.
Talvez...Mas porque não haver sorrisos?
Sim daqueles que nos fazem sofrer,
porque são de outros e não nossos,
daqueles que nos entram na alma,
e depois descarados, inventam os nossos sonhos.
Podia ser olhar, que nos olha como sente
e neste poço profundo, dizer-nos que não mente.
Sim! Podias ser esse corpo franzino,
branco ou bronzeado,
mas que dance connosco
e não com a nossa sombra.
Essa pele que esvoaça como cega traça
em volta, revolteando um coração,
que chora suor em horas curtidas, de maresias surfadas,
ou de amores agrestes, quebrados por fundas ravinas.
E se fosses lágrima?
Pérolas só de alegria, que limpamos com a ternura
e as enrolamos em baús estanques,
feitos de promessas e sentimentos,
que levitam o nosso ego,
pois agora somos mais, do que éramos.



Jorge d'Alte

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

QUERO-TE PRESENTE







As teclas batem letras que fazem frases
levam os meus sonhos no seu teclar
dão a mão aos sentimentos que trago emotivos
que entram nas mentes como gases
sons que vieram para ficar
que penetram nas almas altivos.
Quisera eu poder descrever
a dor que não se quer, mas que se sente
olho-te no vácuo amor, sem te ver
és passado quando te queria presente.


Jorge d'Alte





quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

LIVRO








Capa bolorenta
rendada pela traça
chora letras desfeitas
em frases estragadas.
A curiosidade sedenta
extravasa essa taça
cura essas maleitas
seguindo-lhe as pegadas.
Olhos de grossos vidrados
deglutam esses travos
de amores perfeitos
enleiando-se aos bocados
fios de teia de agravos
e de apetites satisfeitos.
Dedadas marcam o rumo
das páginas volteadas
eivadas de comoção
iradas como pleitos
amareladas pelo fumo
sofridas de solidão
num fim batido de abas fechadas.


Jorge d'Alte





sábado, 2 de dezembro de 2017

TÉDIO









O tédio,
estava ali!
Vislumbrava-se no meio dos nervos.
Era como plataforma de espera,
onde nada se faz, mesmo pensar.
Pedra granítica, cinza e fria
tolhendo a alma
depenada, no bulício da rotina.
E ali estava eu, como camafeu
no apogeu, nem vivo nem morto,
apenas absorto, num faz-de-conta-que-estou-vivo.
Puxei instintivamente a caneta de prata forjada,
pousei o bico no papel vazio, cheio de treitas
rabisquei a primeira palavra com a tinta esborratada
como a alma minha,

e por ali me fiquei…

Jorge d'Alte