quarta-feira, 4 de maio de 2022

A CRIANÇA

A raiva cerrava dentes 
cegava olhos
Estava ali amordaçada
pasmando o que vira.
Atrás no tempo a criança
loira de olhos zulados correra
a bola estava mesmo ali armadilhada
matando-lhe o sorriso; não restara nada.
Sofri na dor
na oração rezada
Era filha de alguém
de alguém que a amara
que a ensinara a sorrir
que a afagara
que beijara as primeiras falas
Quem era esta criança quem amara
Talvez a garota que chorava ali
que secara seus olhos
estendera as mãos ensanguentadas
e caíra de joelhos.
A dor afagava o vazio que ficara
embaciara-me os olhos
e a tristeza gritara
porquê?



Jorge d'Alte








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