quarta-feira, 30 de maio de 2018

PORQUÊ?





Tangendo, a corda soltou
Um acorde de notas insatisfeitas.
A clave caiu com estrondo
A barbárie aconteceu
Gritos eram dardos arremessados
Que espetavam trespassando.
A névoa toldou o espírito
As sombras caminhavam apressadas
A vozita prostrada soava aflita
Vendo o sangue vermelho que brotava
A fonte árida e seca momentos antes
Jorrava montes de esguichos
Por onde a alma se escapava.
A voz movia-se no eco do silêncio
O peito amarfanhava-se
Sacudido por tosses convulsivas.
As mãos enclavinhadas tentavam segurar
Pontas de vida num relógio quebrado
As horas já não corriam com o vento
Os minutos quedavam-se em cada arquejo
Areias escaldantes deste deserto
Os segundos eram tudo no desejo.
Vieram os anjos na sua alvura
As trompas tocaram a desdita
O céu caía sombrio cada vez mais perto
E a luz alva invadiu o espírito
Trouxe a serenidade a esse rosto de menino
Tantas vezes inquieto
Levando na volta o seu sopro de vida.

Jorge d'Alte



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