quinta-feira, 30 de julho de 2020

VIOLÊNCIA


 

 

 

Naquela noite

como mensageiros da desgraça

apareceram os lobos.

As fauces sorriram

as palavras morderam

e o sangue espichou.

Pelo menos assim pareceu,

pois traziam peles de cordeiro,

e no chão entre espuma de ódio

e ventos de fúria,

o corpo rolava ao sabor do pontapé.

A garra filou-se no cabelo que puxou

arrastando esse despojo

pelas amarguras do chão,

Com unhas arranhadas, desfeitas no desespero.

Quem apanhava não gemia,

quem gemia olhava

e a voz incentivava escondida pela câmara.

A alcateia espreitava!

Os despojos estavam prontos para o repasto

e o facebook foi o prato em que foi servido.

 

(É tempo dos comentários e tantos eram

que caíam em cataratas de imbecilidade.

 O pessoal adorou e vieram os doutos satisfeitos -

“Isto mostra que há diálogo entre os jovens”

“na net há um código de honra” – obsceno!

Outro –“ podemos estar ou não perante um crime”

Desenrolaram o tal filme onde a lei estava,

mas a justiça?

Essa perdera-se no meio de tantas vírgulas e pontos.

O travessão foi o último para sublinhar – não há!)

 

Exclamem todos agora – Oh!



Jorge d'Alte


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