sexta-feira, 10 de julho de 2020

DEVASSA







                                                           (tudo porque me arrancaste a pele
rasgaste a alma, levaste contigo os sonhos
deixaste-me apenas a lama e a sede)


Procuro frinchas nas paredes erguidas, nuas
Portas seladas deste Eu que procuro.
A minha solidão não é invenção
É escada que só desce.
Os pássaros por mim nem cantam
Nem a flor murcha que reti na mão,
ficou.
São vielas escuras e escusas que me percorro
Sem luzes de candeeiros; amareladas.
A noite corta-me com golpes traiçoeiros
a alma. Sufoco entre as coisas mortas.
Arrasto comigo sombras esquivas pelo chão,
Brando-as como mágoas flageladas,
Rumos de brisas, ventos e giros de cata-ventos
No desnorte, escrevendo no meu corpo só de pele, versos
sem rima.
Arrasto-me neste chão de choros perdidos,
Procuro de borcos esse lado frigido
da cama.
Procuro na minha sede, o sabor perdido,
da água primordial do amor da vida.


Jorge d'Alte




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