terça-feira, 21 de julho de 2020

FOGOS POR AÍ






O ruído findara já, deixando as sirenes calarem-se.
O fumo dissipava-se como ténues farrapos cinzentos
Sobre a terra torturada.
As vedações despedaçadas e as árvores de espantalhos negros
Vivazes com a dor sufocada.
Tosses de praguejos convulsionavam corpos curvados
A dor da desdita e a morte passara mesmo ali ao lado
Nem todos tinham tido essa sorte
Agarrados num último beijo pregavam nessa cruz um último gesto de amor.
Dava a impressão que por tempo incalculável a vida parara.
De horizonte a horizonte a terra encharcada de negro esguichava sangue e dor.
O céu desaparecera talvez consumido pelos fogos de labaredas tenazes e predadoras.
Depois tudo acabou e ficou o silêncio.
Mas o silêncio era nota estranha que não possuía direitos
Fora quebrado por queixumes, pela dor, pela súplica de água.
A súplica, o chamamento, dilataram-se nessas horas de verão.
Haveria trigo que nunca seria colhido
Árvores que não voltariam a florir quando a primavera por ali passasse outra vez.
Bons dias que nunca seriam dados nem risos de crianças.
Havia nomes orgulhosos que eram agora mais orgulhosos.
Eram os heróis!
Havia outros escondidos por detrás das cruzes das lápides.
Eram nomes esquecidos.
Havia mãos malditas que espreitavam por de trás
Olhos tresloucados que de novo acenderam o luar de fogo.
Eram os coitadinhos…


Jorge d’Alte

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