sexta-feira, 6 de novembro de 2020

 



O sonho era feito de folhas e mais folhas
que alguém folheava em assomos de sorrisos fáceis.
O zé estava ali de ralo bigode, galhofeiro
numa página amarelecida pelo tempo
Tinha um sonho no seu horizonte, realizado
mas partira cedo por entre as lágrimas de dores secas
deixando mais uma página no seu virar
uma página cheia de amizade.
Tenros tinham sido os tempos em que brincáramos
juntos no faz de conta.
Oh! Há aqui uma mancha, a guerra colonial
onde servira nos exércitos dos ares.
A prosa  corria vertiginosa feita de amores conquistados.
A "miúda" estava ali na página seguinte
mergulhada em véus de paixão.
Os dedos não queriam folhear mais
pois tocariam na doença roída de fumos amarelados
Algo descia por um rosto contorcido.
A nostalgia chiava sua canção dorida.
A emoção tragava os soluços que não saíam.
Para dentro voltou-se munido de negação.
O amigo não partira não pois estava ali no espelho.
O coração pulara acelerado, pasmado.
A desilusão correu o peito, e encheu as veias. 
Era apenas uma foto espelhada.
Um copo elevou-se de saudade.
Depois o silêncio oco de páginas vazias.


Jorge d' Alte






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