A sombra agiganta-se e entra devagar
olha em seu redor num vago rodar
caindo fica sentado olhando o espelho
Quem será que olha assim?
apenas a visão roída e transformada num velho?
Estende a mão trémula e lenta
pegando na maquilhagem
e com coragem enfrenta
essa dolorosa miragem
Com seguros dedos vai-se transformando
Agora a alma cresce em auto estima
já não é sombra divagando
é figura que rima
é apenas Palhaço!
A dor que o atinge dói como inchaço
a noticia fora dita sem teatro
"o fim desta vida está perto"
Aprumado em coragem, de cabeça erguida
ruma em passos ritmados para o anfiteatro
Se calhar o relógio da vida precisa de acerto
mas já não há tempo para segurar a vida
Ao som da ruidosa musica no palco entra
seu coração chora seu rosto sorri
Os risos do publico enfrenta
Sua alma se esmaga nos seus lábios de rubi
e a cena lá vai no meio das gargalhadas
O publico bate palmas, quer mais e mais
e as lágrimas agora são de sangue
a dor corrói em tristezas tais
e os sentimentos estão tão esfrangalhados
que deixam o seu rosto exangue
Agora é o ultimo passo
a gente está atenta
e a derradeira canção entra
notas e notas, ritmos e compasso
O publico acompanha-o em ritmados batimentos
Agora de joelhos a sua voz etoa
e mesmo que lhe doa
esquece os sentimentos
As luzes baixam na ultima nota
As palmas entram pelo coração dentro
è a ovação de uma vida inteira
Só mais uma nota
pede o publico lá dentro
e mesmo que não queira
faz das tripas coração
e de novo entoa a ultima canção…
Cai o pano em silencio friorento
as luzes apagam-se no proscénio
Agora já não há risos nem alento
o ultimo arfar vem buscar
entra na alma, como sombra devagar
e com doce tocar leva seu génio.
Jorge d'Alte
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