terça-feira, 5 de agosto de 2014









Sorri!
Lábios esticados sobre os dentes.
O táxi deixou-me à esquina,
olhei em volta,
recordações do tempo de miúdo choveram
como maré enchente - Há coisas;
coisas que nunca mudam.
Os telhados irregulares continuavam a ser
ameias de castelos e as ruas, fendas nas muralhas
por onde deixara estravasar a minha alma e escapar os sonhos.
Andava ainda gente nas ruas, encharcadas,
sem pressas.
Ouviam-se gritos de miúdos,
no ar cheiros a cozinhados.
A eterna taberna; mal iluminada através de vidros sujos
com as suas velhas máquinas de coloridos piscantes…
Houvera tempo, quando a noite crescia boa,
com jovens nas esquinas trocando promessas e insultos,
rameiras e a freguesia, vendedores de droga
que abriam caminhos supliciantes
para a sepultura dos viciados.                                                                 
Fora feliz sem o saber, vivera com o peso dos sonhos
e partira com eles levando nas sombras o passado…
Ali já não me conheciam!
Nascera fazendo parte do cenário,
e ainda continuava a parecê-lo,
por isso ninguém se importou…
Na loja dos rebuçados o velho abanou a cabeça,
(o meu amigo já não respirava.                                                         
Partira num entardecer com o sol por companhia.
As cinzas ardiam nos montes e nos vales,
lugares por onde ele andara e que eram parte da fantasia)
Tentou falar dos velhos tempos…
Agradeci-lhe e saí.

Olhos choravam para lá do horizonte!





Jorge d'Alte



Sem comentários:

Enviar um comentário